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Diário da campanha (2)

por João Távora, em 29.02.24

Paulo nuncio.jpg

Paulo Núncio, convidado para um debate em Lisboa promovido pela Federação Portuguesa pela Vida (FPV) fez a seguinte afirmação: “Depois da liberalização ter sido aprovada por referendo, embora não vinculativo, mas com significado político, é muito difícil reverter a lei apenas no parlamento. Acho que a única forma revertermos a liberalização da lei do aborto passa por um novo referendo”. Curioso é que esta posição, afirmada no seu contexto próprio, choque e surpreenda tanto a bolha das redacções, cativa nos seus preconceitos ideológicos e em intrincadas contas de mercearia e cenários eleitorais.

Também é estranho que, mesmo sendo eu testemunha de todos os actos eleitorais havidos em democracia, nunca tenha reparado que os candidatos dum partido em coligação durante a campanha estivessem impedidos de deixar escapar sinais, ou referências a causas que os identificam ideologicamente, cingidos a um programa eleitoral. Repare-se por exemplo como em 1979 a AD alcança a maioria absoluta exibindo a sigla explicita de um partido monárquico...  

Pela minha parte fico muito contente com os sinais que este “caso” fez transparecer de dentro do CDS, que sempre acolheu no seu seio muitos católicos e ainda se afirma hoje como um partido democrata cristão. Pela minha parte apraz-me muito que Paulo Núncio, liberto de calculismos eleitoralistas, tenha aceitado sem receios participar no dito debate organizado pela FPV, e tenha falado sem constrangimentos. De resto, a prova de que o tema do aborto não está fechado, é a posição que foi assumida pela ex-deputada do PAN Cristina Rodrigues que é agora candidata em lugar elegível pelo Chega que propôs, imagine-se, o alargamento do prazo para o aborto livre de 10 para 16 semanas.

Finalmente, para quem vive a calcular cenários e predisposições dos eleitorados, que considera terem constituído as declarações de Paulo Núncio um “tiro no pé” da AD, receio que se enganem redondamente ao interpretar o tal “centro” político, os potenciais votantes numa coligação entre PSD, CDS, PPM, como militantes pró-aborto. Senhores comentadores, senhores jornalistas, abram as janelas das redacções e deixem entrar oxigénio na bolha que vos sufoca.

Vai-se a ver, e no final das contas o “caso” abriu o discurso da AD, deu-lhe abrangência política e eleitoral. É para agregar que serve uma coligação “de partes”, capazes de dialogar entre si.


16 comentários

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De anónimo a 29.02.2024 às 16:58


Ora aí está a ineficácia democrática do actual sistema eleitoral em que realisticamente ou se vota em partidos, PS ou PSD, o resto é inconsequênte lirísmo. 
Num sistema eleitoral uninominal -votar em candidatos- a candidata Sra. D. Cristina Rodrigues, o candidato Sr. Paulo Núncio, o candidato Sr. Paulo Raimundo, o Sr. candidato Nuno Melo, o Sr. candidato Luis Montenegro, a Sra. candidata D.  M. Mortágua .... todos estes indivíduos, candidatos a deputados em nome próprio, seriam individualmente avaliados nos seus círculos eleitorais, e pelas suas afirmações em campanha eleitoral.

Seriam nominalmente avaliados pelos seus eleitores, nas seu zonas de residência. 

Preenchida uninominalmente a Assembleia da República seria justamente apelidada como o hemiciclo da representação política nacional. Ali o futuro eleito PM seria dependente dos deputados e não vice-versa. Faria toda a diferença.
Por enquanto, vai para meio século, as AeRes têm sido apenas um insólito hemiciclo de representação partidária, ou do PS ou do PSD. Não tem havido contra-poder interno na AR. Nem tem havido seleção, pelo eleitor, da classe política. 
Faz toda a diferência.
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De O apartidário a 29.02.2024 às 17:26

Os jornalistas e os comentadores estão perdidos nos seus labirintos. No sábado passado (dia de várias manifs) não encontrei nada nos média sobre o seguinte 
https://identdegeneroideologiaouciencia.blogs.sapo.pt/a-afc-associacao-familia-conservadora-52270
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De lucklucky a 29.02.2024 às 19:01

Os jornalistas censuram tudo o que não seja parte da sua reduzida monocultura.
Uma das profissões menos democráticas em Portugal.
Espero que 10 de Março seja a primeira das grandes derrotas.
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De Albino Manuel a 29.02.2024 às 17:53

Bem pode colar as mãos à parede. Duvido muito que o PSD embarque na conversa. Desse assunto a larga maioria dos políticos a única coisa que quer é vê-lo pelas costas.


Seria melhor que o beatério se entretesse em encher as igrejas. Casamentos religiosos, queda a pique, baptismos, queda significativa, respeito pelo clero, pois sim, pois sim, aulas de moral e religião, queda abrupta. Sobram os funerais e as missas de sétimo dia; sempre rende algum. E, claro, a grande peregrinação a Fátima, a maior corrida da maratona que por aí anda. Já lá vai o tempo em que padres e ratos de sacristia enrolavam a conversa com exercícios de escolástica. Muitos deles melhor fariam em tratar da moral caseira.


Nota: não me tome por simpatizante da causa das "mulheres são livres da sua barriga". Pura e simplesmente não quero saber do assunto. 




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De cela.e.sela a 01.03.2024 às 09:09

aborto e eutanásia são doenças políticas caras:
para evitar a gravidez há: antes, durante e depois.
eutanásia: com uma bala fica mais barato.
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De IMPRONUNCIÁVEL a 01.03.2024 às 11:07

Não consigo entender a contradição dos Católicos, nesta questão do dito 'aborto'.
A morte do corpo não é a morte do Ser-humano. Não é essa a mensagem de Jesus na cruz, quando implora ajuda a Deus por julgar que está a morrer, e não é a resposta de Deus a esse seu pedido pecador e errado, de confundir a 'morte do corpo' com 'morte do Ser'?
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De The Mole a 01.03.2024 às 12:05

Reduzindo ao mais simples - não entrando em alta teologia, filosofia, cultura, tradição, etc,etc - para que possa perceber os Católicos: "Não matarás".
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De IMPRONUNCIÁVEL a 01.03.2024 às 13:03

"Não matarás" ... sim, mas quem? O Corpo ou o Ser?

 Nessa lição Católica, extraordinária, expressa na cena da crucificação (e explicada na epístola de S.Paulo aos Coríntios), a morte do corpo é a morte do pecado, a que ele (corpo) condena o Ser. 

 Isto é, ser um erro e um pecado o Ser ficar comodamente ligado ao corpo que tem em cada fase do percurso de transformação até alcançar o Céu e a Salvação.

 Nessa lição Católica, o "não matarás" refere-se 'ao não matar o Ser'. E o 'Corpo' ter de ser abandonado, para que esse "não matarás" não mate o Ser.

 A contradição é evidente.

 E o que, aqui, me leva a comentar é este meu sentimento de incredulidade e tristeza perante o afastamento dos Católicos desse ensinamento do seu Deus, por motivos terrenos e laicos derivados da atual conjuntura político-partidária. 

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De IMPRONUNCIÁVEL a 01.03.2024 às 16:25

PORQUE NASCEMOS, SE MORREMOS?

 

Não foi assim que o Deus católico nos ensinou a compreender a resposta à pergunta ‘humana’ (do Ser que habita este Corpo anatómico, molecular e proteico herdado dos hominídeos): PORQUE NASCEMOS, SE MORREMOS?

 

Não é essa a mensagem de Jesus na cruz, quando implora ajuda a Deus por julgar que está a morrer? E não é a resposta de Deus a esse seu pedido pecador e errado de Jesus, dizendo-lhe (passo a citar): «não receies a morte do corpo, porque é ela que te permite transformares-te, limpares os teus pecados, e acederes ao Reino dos Céus”, que devia ensinar aos Católicos que não devem confundir a 'morte do corpo' (ou de uma qualquer ideologia baseada no ‘corpo’, como a do actual ‘dimorfismo de género’ herdado da condição hominídea do corpo anatómico, proteico e molecular) com 'morte do Ser'?

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De Rodrigo a 02.03.2024 às 20:34

Então matar pessoas no meio da rua é correto?

Claro que não. Apesar da vida de um ser humano continuar após a morte, é errado retirar a sua vida terrena.
É errado retirar a vida terrena de um ser humano com 40 anos, 12 anos, 2 meses ou 8 semanas de gravidez (aborto).


Se ainda tiver dúvidas da posição oficial da Igreja Católica, aqui estão alguns pontos do Catecismo da Igreja Católica (https://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p3s2cap2_2196-2557_po.html):


2270. A vida humana deve ser respeitada e protegida, de modo absoluto, a partir do momento da concepção. Desde o primeiro momento da sua existência, devem ser reconhecidos a todo o ser humano os direitos da pessoa, entre os quais o direito inviolável de todo o ser inocente à vida (46). (...)



2271. A Igreja afirmou, desde o século I, a malícia moral de todo o aborto provocado. E esta doutrina não mudou. Continua invariável. O aborto directo, isto é, querido como fim ou como meio, é gravemente contrário à lei moral (...)
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De Anónimo a 01.03.2024 às 12:34

Desmascarando o Portugal socialista. Um retrato a não perder _ diria mesmo de leitura obrigatóra _  por Pedro Caetano:

https://observador.pt/opiniao/em-casa-de-socialista-espeto-de-capitalista/

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De O apartidário a 01.03.2024 às 16:56

"O mundo actual evolui para o socialismo.O principal obstáculo ao socialismo não é o capitalismo mas sim o comunismo.A futura sociedade socialista não pode ser senão planetária e não se realizará portanto senão à custa do desaparecimento dos Estados-Nação,ou pelo menos da sua subordinação a uma ordem política mundial. Eis as três ideias directrizes deste livro.A questão levantada reside em se saber se os socialistas conseguirão eliminar os dois obstáculos essenciais que impedem a construção de um mundo socialista." In Tentação Totalitária de Jean Revel (livro de 1975 traduzido e editado pela Bertrand em 1976)
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De IMPRONUNCIÁVEL a 01.03.2024 às 17:55

PORQUÊ OPÔR ‘PESSOA’ A ‘SOCIEDADE’?

O que subjaz ao atual entendimento humano (isto é, à atual capacidade do cérebro e da cognição humana) é de que pessoa ('direita') e sociedade ('esquerda') se opõem, como duas entidades opostas, inversamente opositivas, isomorficamente simétricas.

Imaginemos que o objetivo do ser-humano é obter a ‘propriedade física SAP3i’ (aliás, para a qual o Impronuncialismo trabalha quotidianamente em termos científicos e tecnológicos). 'SAP3i' é o acrónimo de «Singularidade Autónoma Perpétua insolúvel indecomponível indestrutível».

Nesse caso da construção da ‘propriedade SAP3i’, a ‘Sociedade’ (a subordinação ao colectivo, o ‘socialismo’, a 'esquerda') é apenas o modo de alcançar o objectivo radical e extremo da eternidade da ‘Pessoa’ (isto é, o triunfo da Pessoa sobre todo e qualquer constrangimento exterior, ambiental ou societal).

Assim sendo, em vez de se oporem 'pessoa' ('direita') e 'sociedade' ('esquerda'), passam a ser um processo não-dualista de se conseguir alcançar o 'uno', o 'individual', a 'singularidade'.

Então, se fôr assim em termos do futuro da Evolução, não será um erro andarmos a conflituar 'esquerda' com 'direita', e vice-versa?

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De Anónimo a 01.03.2024 às 19:16

Estranho, estranho é o biltre do PPM continuar mudo e quedo!

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