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Quando a Organização Mundial de Saúde começou a sua campanha de gestão da covid assente na dramatização da doença - todas as semanas o seu secretário-geral insiste que a epidemia está em acelaração porque o número de casos aumenta, o que é verdade, nos últimos dois dias o número de casos diários está acima dos 200 mil, omitindo que desde meados de Abril, com máximos de mortalidade diária em torno das sete mil e quinhentas mortes diárias, as mortes diárias foram descendo até estabilizarem, desde meados de Maio, por volta das quatro mil e quinhentas, o que não deixa de ser uma estranha forma de aceleração de uma epidema - que há "duas escolas de pensamento" sobre o assunto.
As duas escolas divergem na forma como se deve lidar com a incerteza:
1) a escola dominante, fortemente turbinada pela Organização Mundial de Saúde e por modeladores que desenvolveram demonstrações matemáticas que apontavam para milhões de mortes em consequência da covid, entende que a melhor forma de lidar com a incerteza é acrescentar incerteza à incerteza adoptando medidas radicais de contenção da evolução da epidemia cuja utilidade nunca foi demonstrada mas é defensável a partir das modelações matemáticas referidas;
2) a escola minoritária, que defende que não se deve avançar para medidas com fortes impactos sociais negativos sem ter uma noção mínima de qual é o desvio que esta doença apresenta face ao padrão que é de esperar de doenças deste tipo, tendo em conta a história das epidemias conhecidas.
Penso que não será segredo que tenho alinhado com a segunda escola, essencialmente por me parecer sensato partir do princípio de que controlar processos naturais está para lá das nossas capacidades como sociedade quando não se conhecem os parâmetros de evolução desse fenómeno, e quando se pretende que esse controlo seja obtido através de comportamentos padronizados em comunidades humanas diversas e livres.
Infelizmente a discussão tem sido muito pouco racional no sentido em que a escola dominante tem assente grande parte do seu discurso no exarcebar de emoções, assentes no medo do futuro, desconsiderando moralmente toda a divergência, que considera uma irresponsabilidade potencialmente assassina.
Uma das formas mais frequentes de desqualificação dos argumentos dos outros (usados pelas duas "escolas de pensamento", embora de forma desigual dada a desproporção de meios da "escola" dominante face à minoria) consiste na demonstração dos erros de previsão que vão sendo feitos.
A avaliação das previsões face ao que posteriormente se verifica é um procedimento muito útil, fundamental para avaliar em que medidas os modelos mentais (incluindo os matemáticos) se adequam à realidade, mas é necessário ter em atenção que, por definição, as previsões estão erradas, o que interessa discutir é apenas se são úteis.
Daquilo que escrevi é muito fácil verificar que a realidade da covid tem diferenças grandes em relação às "previsões" que fui fazendo.
Os planaltos são muito mais extensos do que pensei, as descidas muito mais prolongadas que as subidas, o peso da transmissão directa muito maior que o que admiti - consequentemente a transmissão através das superfícies menos importante em termos relativos -, em especial a transmissão directa em contactos prolongados entre infecciosos e infectados. Embora seja difícil distinguir, em contactos prolongados, o que resulta de transmissão através das superfícies ou do ar, os mais de duzentos surtos em coros na Alemanha parecem não deixar muitas dúvidas sobre o peso da transmissão exclusivamente aérea em circunstâncias em que há projecção da voz.
A mortalidade global tem sido maior que o que admiti, a sazonalidade ainda não sabemos muito bem, mas parece menos acentuada que o que admiti, embora o movimento geográfico me pareça demasiado evidente para o atribuir ao ligar e desligar de medidas sociais de contenção e não às condições ambientais, dizendo já que me parece cedo para conclusões muitos firmes sobre isso.
Todos estes desvios entre o que se verifica e a realidade poder-me-iam fazer concluir que a segunda "escola de pensamento" errou demasiadas vezes e portanto estaria na altura de me bandear para a escola dominante, o que aliás me seria muito conveniente e cómodo.
E é isto que me têm dito sistematicamente os apoiantes da primeira "escola de pensamento".
Só que há um problema: estes desvios todos continuam a ser bem menores que os desvios da realidade em relação aos pressupostos da "escola de pensamento" dominante, a tal que insiste em dizer, como diz hoje Alexandre Martins no Público, que a situação no Arizona é dramática porque o números de casos cresce brutalmente, omitindo convenientemente as referências à evolução da mortalidade e descrevendo um calendário de medidas que sirva a "narrativa" aterrorizadora em que se especializou a imprensa, em que tudo se explica com confinamentos e desconfinamentos - como se o desconfinamento de Nova York, da Lombardia ou de Madrid, ou a evolução na Suécia, não desmentissem estrondosamente a "escola de pensamento" dominante e as suas previsões catastróficas com que justificam a defesa de medidas absurdas de controlo da epidemia.
Já existem empresas a propor aos ingleses voarem para Sevilha, que o transporte para o Algarve lhes será oferecido com todo o conforto, evitando a quarentena a que supostamente estariam obrigados se voassem para Faro, e é com base nesta incompreensão do mundo que me querem convencer que a melhor maneira de controlar uma epidemia é complicar as viagens entre sítios do mundo em que o vírus tem livre curso quer na origem, quer no destino.
Gabriela Gomes, informa-me o Público, está a finalizar mais um artigo que é uma evolução do seu anterior artigo, que confirma imunidades de grupo em torno dos 20% em vez dos 60 a 70%.
Não faço ideia sobre se tem razão ou não, o que sei é que a simples possibilidade de haver limites de paragem (paragem não quer dizer ausência de transmissão, quer dizer velocidades de transmissão compatíveis com a capacidade de resposta dos sistemas de saúde, haverá sempre infecção, internamento, mortes resultantes de doenças infecciosas, não chegam é para ser qualificadas como um surto relevante) natural da evolução da infecção a níveis mais baixos que o limite teórico de 60 a 70%, aliás nunca verificado empiricamente, nos deveria levar a racionalizar um bocadinho toda esta discussão e ver se conseguíamos discutir cada medida de gestão da epidemia com base no seu valor prático para gestão das nossas vidas e não com base em pressupostos morais, como tem acontecido.
Estou farto desta guerra de trincheiras, eu só quero estar de acordo com a senhora ministra da saúde quando, finalmente, diz que o problema dos lares não se resolve actuando sobre as visitas quando são os funcionários o principal vector de entrada do vírus nos lares.
Será assim tão complicado discutir cada uma destas medidas cartesianamente?
Que SNS é este que não deixa os velhinhos doentes em fase terminal irreversível morrer em suas casas rodeados do carinho dos familiares que deles cuidaram enquanto doentes acamados? A quem interessa prolongar por dias o sofrimento de outrem sob a máscara de 'cuidados paliativos'?
Aqui- o teu grande respeito pelos velhos. Não assinaste mas sei que foste tu.
E curto-te. Mas é pena teres essa tara anti-velhos.
É coisa de comuna, como o Lavoura- utilitarismo de injecção atrás da orelha para quem já não tem préstimo para greves e revolução <a href=https://corta-fitas.blogs.sapo.pt/m
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