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De pé, ó vítima da fome

por Pedro Picoito, em 23.11.18

Segundo a recente biografia de Saramago escrita por Joaquim Vieira, o nosso Nobel era um "machista" e terá tido, como diz a entrevista ao biógrafo no Público de hoje, os seus "avanços físicos não consentidos" sobre algumas mulheres, que compreensivelmente preferiram manter-se no anonimato. É mais um curto-circuito do politicamente correcto. Ainda me lembro do embaraço de um jornalista da RTP que, num directo em Estocolmo, quando a pátria inteira alçava o escritor ao panteão dos imortais, quis elogiar Pilar del Rio e soltou a banalidade "atrás de um grande homem há sempre uma grande mulher." Saramago, com aquele seu jeito de estalinista ribatejano, trovejou de imediato: "Atrás? Atrás não, ao lado..." E o jornalista, corrigido diante de toda a turma pelo mestre-escola, desculpou-se com "a emoção do momento". Eu vi. Mas, de algum modo, a revelação não surpreende. Quem não respeita os inimigos, dificilmente respeitará as amigas. Se escavarem um bocadinho mais, ainda descobrem que o homem gostava de touradas. Aguardo agora, com raro optimismo antropológico, o devido comunicado das Capazes e outras amazonas. 

(For the record: considero Saramago um bom romancista, mas sobrevalorizado. Gostei muito do Memorial do Convento, bocejei na História do Cerco de Lisboa. Da poesia não falo porque nunca li. E o Nobel, para o caso, é totalmente irrelevante. Quem diria que um escritor consagrado, ainda por cima de extrema-esquerda, andava por aí a assediar senhoras das suas relações como qualquer porco burguês?)


21 comentários

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De Anónimo a 23.11.2018 às 19:13

Mas que grande confusão que faz o Pedro Picoito. O Saramago fazia como qualquer homem da sua geração, fosse do PCP ou não. Aliás, o PCP é um partido tradicionalista e conservador nos costumes. Não há qualquer contradição entre ser comunista e ser machista. Não estará a confundir o PCP com o BE?...
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De Pedro Picoito a 23.11.2018 às 19:27

Não sabia que ser conservador nos costumes, na geração do Saramago, era cobiçar a mulher do próximo (ou a mulher mais próxima). E também não sabia que no Bloco só cobiçam a legítima. Quanto ao resto, tem toda a razão.
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De Anónimo a 23.11.2018 às 22:03

É, o bom Portugal conservador, nos bons velhos tempos, na geração dele, era assim. O que o movimento do MeToo chama agora assédio, na altura era corrente e natural. Se tivesse idade suficiente, saberia do que estou a falar. Mas provavelmente, não percebe o que quero dizer. 
Não faço ideia de quem cobiça quem no Bloco. Só estava a tentar explicar-lhe que o PCP e Bloco são diferentes de causas que defendem, quanto a costumes, etc. Tem aquilo que tanto o PCP como a nossa direita chamam "temas fraturantes", "politicamente correto", etc, torcendo o nariz.
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De Pedro Picoito a 26.11.2018 às 00:25

Obrigado pela explicação. Nem imagina como eu, jovem inocente, preciso que alguém com a sua vetusta experiência me oriente neste tempo em que o assédio deixou de ser corrente e natural.
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De Anónimo a 26.11.2018 às 09:09

Não percebeu nada. 
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De Pedro Picoito a 26.11.2018 às 12:04

Pois não. Sou novo e, portanto, não consigo perceber como é que o facto de o assédio ser frequente nos bons velhos tempos (seria mesmo? ou só no PCP?) o torna mais desculpável, sobretudo para os defensores dos oprimidos.
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De Anónimo a 26.11.2018 às 13:37

E quem é que disse que era desculpável? Não me viu fazer nenhum juízo de valor, Estava só a informá-lo da realidade dos velhos tempos. Ainda não entendeu que o assédio antigamente era visto de forma diferente. Mas não sabe isso?
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De pitós a 23.11.2018 às 20:06


Pedro Picoito, fez o que se nomeia por um bom post. Felicito-o.


Atendendo à personalidade de Saramago, nunca li algum dos seus escritos.
Se trabalhava no DN teria escrito e assinado (com confirmação notarial), tal como eu fiz para entrar no hospital de Santa Maria antes de 1970, um papel azul selado em que confirmava não ser de esquerda nem admirar tal comportamento político/social.
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De Pedro Picoito a 26.11.2018 às 00:26

O Saramago só trabalhou no DN depois do 25 de Abril.
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De Anónimo a 26.11.2018 às 19:58

Tem toda a razão.
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De Carlos a 23.11.2018 às 20:49

Até parece que nunca ouviram falar das relações de Cunhal com mulheres. Até houve duas irmãs...
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De Pedro Picoito a 26.11.2018 às 01:12

É a chamada colectivização.
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De Anónimo a 24.11.2018 às 23:59

São este tipo de comentários que a direita conservadora tem para oferecer? Quando alguém está desiludido com a esquerda e procura algo mais liberal para além dos costumes o que encontra... Ressabiados com simples talento... À procura de falhas, misturando a obra com o homem, não conseguindo ver o mérito por trás da ideologia. Para quem a meritócracia está na ponta da língua, a sua prática depende da forma de ver o mundo de quem é avaliado. Afinal parece que os extremos se tocam mais do que nos querem fazer acreditar...
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De Pedro Picoito a 26.11.2018 às 00:28

Tenho impressão que não percebeu bem o post...
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De Martim Moniz a 26.11.2018 às 10:21

Não se admire,a dissonância cognitiva fez escola e está cada vez mais forte."E o Nobel, para o caso, é totalmente irrelevante" ,a respeito disso só o seguinte: a instituição Nobel é claramente politicamente orientada(de tendência esquerda,mais ou menos ortodoxa)e nisso e no que tem de consequências não se trata de irrelevâncias.
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De Anónimo a 25.11.2018 às 15:42

Adoro ser censurado. QSF
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De Pedro Picoito a 26.11.2018 às 00:30

Como vê, não houve censura nenhuma. Acontece que não passo a vida, muito menos ao fim-de-semana, agarrado ao computador para publicar comentários.
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De Martim Moniz a 26.11.2018 às 10:11

Muito bem,eis uma "chapada de luva branca" aos que enchem a boca(ou pelo o faziam até há pouco tempo) a favor da liberdade de expressão,e que agora a reboque do tão conveniente "politicamente correcto" e da auto-proclamada "superioridade moral"(não sei se é o caso de algum dos comentadores aqui) de alguns/muitos vão apoiando às claras a neo-censura.
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De Martim Moniz a 25.11.2018 às 20:38

Não sei que diga sobre isso,mas já agora http://2.bp.blogspot.com/-I4QhvdFgpIY/Vc9ibHVUwFI/AAAAAAAAC4Q/5oKugA51TgY/s1600/Marxismo_Capitalismo_Federal_Reserve.jpg
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De Anónimo a 26.11.2018 às 12:40

O que é que distinguiu Saramago a ponto de chegar a Nobel?!
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De Anónimo a 01.12.2018 às 17:09

Perguntam alguns por que diabo chegou Saramago ao Nobel. Pela simples razão de que era preciso nobelizar um português, de esquerda, evidentemente. Ora a literatura portuguesa é tão magnífica que se tornou impossível arranjar melhor do que esse tal Sarabago. Não acrediteis no que vos dizem: a literatura portuguesa contemporânea é uma bosta. Experimentai lê-la.

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