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Pedro Venâncio publicou ontem dados concretos sobre o fogo de Monchique, avaliando a severidade do fogo em três classes e cruzando a informação da área ardida com o uso do solo (tendo como base o COS, Carta de Ocupação do Solo, 2015).
Penso que a equipa de José Miguel Cardoso Pereira também produzirá dados do mesmo tipo rapidamente permitindo aferir melhor se há discrepâncias relevantes.
Deixando de lado os outros usos para nos concentrarmos nos três principais usos do território, eucalipto, matos e sobreiro, que no seu conjunto representam mais de 88% da área do concelho, os resultados são consistentes com aquilo que os que produzem dados sabem, contrariando a vox populii.
Como previsível, os matos ardem mais que o esperado, isto é, para uma ocupação do solo de 26,88% do concelho, os matos representam 31,77% da área ardida, os eucaliptos, para uma área de 44,47% de ocupação representam 41% da área ardida e os sobreiros, para uma área de ocupação de 17,36%, representam 15% da área ardida.
Ou seja, os matos ardem mais que o que representam na ocupação do solo, os eucaliptos e sobreiros ardem na proporção da sua presença no terreno.
Quando se olha para a severidade, os dados confirmam o que é verificado noutros fogos e é de esperar a partir do conhecimento que existe sobre a relação entre o fogo e a estrutura dos combustíveis: a severidade é maior nos matos (84% na classe mais alta, 12% na intermédia e apenas 4% na classe mais baixa de severidade), seguindo-se o sobreiro na escala de severidade (68%, 23%, 10%) e depois o eucalipto (55%, 34% e 12%). E antes que me moam o juízo com pormenores sem interesse, as percentagens foram arrendondadas por mim e por isso não dão exactamente 100%.
Resumindo, este fogo confirma o que tem sido observado na generalidade dos outros fogos, demonstrando que nem é verdade que os eucaliptos ardam mais, nem é verdade que ardam mais intensamente que o sobreiro.
O interessante nisto é que quem faz um post como este, estritamente citando dados, é imediatamente acusado de estar sistematicamente a branquear o eucalipto por ser um vendido às celuloses, como se verificar que está a chover fosse defender a chuva.
Já quem propaga fantasias, como troncos a rebentar, bolas de gases voláteis incendiados e etc., pode dizer o que quiser, desde que seja para malhar no eucalipto (ou noutro menino mau à escolha) usando argumentos sofisticados como "se gostas tantos de eucaliptos planta-os ao pé da tua casa", ou "vê-se logo que nunca andaste a apagar fogos, doutra forma saberias que um incêndio em eucaliptal é muito pior que no resto", ou ainda, um dos meus preferidos, "se sabes tanto do assunto, vai lá tu apagar o fogo".
Socialmente, e para a nossa imprensa, vale tanto o trabalho esforçado de pessoas como o Pedro Venâncio, que publicou estes dados no Facebook e teve a delicadeza de produzir dados complementares sobre severidade por uso de solo quando eu disse que gostaria de ter essa informação, e o trabalho de fundo feito por José Miguel Cardoso Pereira, ou Paulo Fernandes, como as afirmações de curiosas que imediatamente reagem dizendo que todos estes números têm de estar errados porque fizeram uma viagem pela autoestrada A1 e é evidente que há muito mais eucalipto, e mais eucalipto ardido, do que esses números, sabe-se lá obtidos como, dizem.
Ontem, aliás, vi a melhor demonstração disso: um curioso que tentou demonstrar a Paulo Fernandes que um artigo do próprio Paulo Fernandes diz o contrário do que o Paulo Fernandes diz que o artigo diz, criando um post hilariante, que deu origem a uma série de comentários surrealistas bem demonstrativos de como é fácil evitar que os factos nos influenciem as ideias.
O problema é que é com base nestes teatros do absurdo que se desenham políticas públicas e temos ministros que conseguem dizer que estão a celebrar o facto das pessoas estarem vivas, depois de arderem quase nove mil hectares de eucalipto, mais de 3 mil e trezentos hectares de sobreiro, um número incontável de colmeias, instalações agrícolas e gado, como se a economia que sustenta essas vidas seja um pormenor sem importância e com o qual o Estado não tem de perder tempo nem gastar recursos.
Somos um país muito estranho.
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