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Um dos factos mais impressionantes desta epidemia, na Europa, são os cálculos sobre a percentagem de mortos que estavam em lares: 40 a 50% (sem grande certeza sobre estes números, é o que tenho visto consistentemente ser referido, mas não fui verificar).
Salto já pelo que isto significa de falhanço das políticas de confinamento (poucos grupos sociais estão tão confinados como os que estão nos lares), salto também sobre os juízos mais ou menos severos sobre o que isto poderia significar de políticas erradas (esta percentagem é consistente em grande parte dos países europeus, independentemente das suas políticas, portanto a interpretação mais simples é a de que é um problema complicado para o qual ninguém tem soluções eficazes, para já, e a que se julgou eficaz, o confinamento, nas suas mais variadas formas, falhou em todo o lado).
Vou directo para a história do senhor que estava claramente nas suas últimas horas de vida, sem covid, e tinha o filho à porta do lar, desesperadamente à espera que a humanidade das pessoas que podiam decidir se sobrepusesse à frieza das regras instituídas em nome da protecção do seu pai.
Suspeito que, não faço a mínima ideia se foi assim, estando nós em Portugal, o filho se poderá ter despedido do pai, mas sei que na fria Alemanha as regras contemplam esta situação e integram a excepção óbvia para qualquer pessoa com um pingo de humanidade: as famílias podem visitar quem está a morrer.
O que me interessa é protestar, é disso que se trata, com as regras que, a pretexto da protecção das pessoas mais frágeis, as apartam do mundo, as condenam ao isolamento e à solidão, sem sequer lhes deixar a decisão sobre os riscos que estão dispostos a correr.
Eu sei que a proibição das visitas aos lares, para defesa dos mais frágeis, foi uma decisão quase consensual e adoptada em todo o lado - é bem possível que eu a tenha defendido e tenho quase a certeza de que teria decidido nesse sentido se tivesse a responsabilidade de o fazer - mas hoje, francamente, com o que vejo passar-se nos lares, acho mesmo que fomos pela solução preguiçosa e o que estamos a fazer é verdadeiramente desumano.
Reparei também, ontem, que mesmo num lar em que a infecção tinha grassado livremente e infectado quase toda a gente (suspeito que os que não testaram positivo era simplesmente porque já tinham tido a infecção antes, mas não tenho nenhuma base sólida para o dizer), levando à deslocação de todos os utlizadores para unidades de saúde, as visitas continuavam proibidas para os que, tendo testado antes positivo mas totalmente recuperados (dois testes seguidos negativos), estarão em condições de imunidade durante uns tempos (não sabemos quanto, é certo, mas quando não se sabe, o melhor é partir do princípio de que a situação é a que seria de esperar, e decidir em função disso, avaliando frequentemente em que medida afinal o caso concreto se afasta do padrão).
Que raio de pessoas somos nós, que raio de sociedade somos nós que nos deixamos dominar pelo medo de tal forma que, mesmo em circunstâncias destas, temos dúvidas e, porque temos dúvidas, achamos normal a desumanidade de condenar estas pessoas à solidão e ao isolamento, apesar de sabermos que pouco lhes resta na vida para além da relação com as pessoas que as fazem sentir vivas?
Eu não me conformo com isto, eu não me conformo com isto, eu não me conformo com isto.
Há vida para aquém da morte e, por mais dificuldades que tenha, não é a antecipação da morte em vida que devemos aceitar como padrão moral.
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