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Decidi fazer este post depois de uma troca de comentários com André Carapinha na minha página de Facebok, no momento em que me diz: "ainda mais urgente é o que já se está a passar com milhares de pessoas neste pais, nas cidades e nos subúrbios simplesmente regressou a fome em duas semanas".
O André está nos antípodas das minhas posições políticas e sociais e foi de outra pessoa, também nos antípodas dessas posições políticas e sociais, que me lembrei imediatamente, por ter visto as suas declarações há dois dias: "“Receio que estejamos em risco de enfrentar situações de fome“, considera Isabel Jonet, acrescentando que “temos situações verdadeiramente desesperadas“. Em causa estão sobretudo pessoas com “rendimentos muito pouco estáveis, que trabalham a recibos verdes ou “de forma informal e foram dispensadas, ou a sua fonte de sustentou encerrou”. É o caso de trabalhadores de cabeleireiros ou empregadas domésticas".
No teclado do computador em que pessoas como eu, economistas brilhantes que desenham soluções para enfrentar o futuro, jornalistas em tele-trabalho que relatam números da Covid ou entrevistam médicos dos cuidados intensivos, é muito difícil vermos as vidas destas pessoas a quem simplesmente tirámos o chão de um momento para o outro, mimetizando os modos de actuação de uma ditadura brutal que precisa de se relegitimar permanente com actos heróicos.
Nem o registo histórico dessa ditadura que, com os seus "grandes saltos em frente" e "revoluções culturais", deixou um rasto de pessoas mortas de fome, nem a fragilidade da evidência científica de que a ameaça que enfrentamos seja de uma ordem de grandeza estratosférica, nem a evidência empírica de que diferentes abordagens ao problema têm resultados essencialmente semelhantes, pelo menos da ordem de grandeza da mortalidade, nem a evidência que resulta dos sistemas europeus de vigilância da mortalidade diária de que, até agora, os impactos da Covid na mortalidade estão dentro, eventualmente ligeiramente acima, do que é a mortalidade de uma gripe (escusam de argumentar que clinicamente e do ponto de vista de sobrecarga e risco dos profissionais de saúde a doença não tem qualquer paralelo com a gripe, já sei isso, a comparação não é clínica, e epidemiológica) - para os que têm dúvidas, podem ler aqui o relatório da semana de 8 a 14 de Março, a última disponível, em Itália - nos tem feito parar um bocadinho para pensar se realmente não estamos a criar mais problemas com a cura que com a doença.
Sim, estamos todos em casa, mas isso não significa o mesmo para todos: para mim, que faço parte dos protegidos e dos privilegiados, pode ser, no máximo, um incómodo; para milhares de outras pessoas significa não saber o que fazer para ter o que comer amanhã.
Detesto dramatismos e reconheço a enorme soberba de pretender que esta abordagem da doença é totalmente absurda quando tantos governos, apoiados pela melhor ciência e pelas melhores agências de gestão do problema, as adoptam.
Mas não tenho a menor dúvida do rasto de devastação social que aí está (ia escrever, "aí vem", mas na verdade não estaria a ser rigoroso, isto não é uma questão de consequências futuras, isto passa-se agora) e também me lembro de outros episódios históricos de cegueira colectiva em que a dissidência era rapidamente esmagada com grandes proclamações morais, como agora se faz ao pretender que alguém que se limita a dizer o que aqui estou a dizer é um mero darwinista social sem a menor compaixão pelos mais fracos e expostos.
Prefiro correr o risco de me espalhar ao comprido, de estar totalmente errado (volto a dizer que isso é o mais provável, é muito dificil aceitar a ideia de que tanta gente, tão qualificada e tão responsável está tão estrondosamente errada e que eu, um "pobre homem da Póvoa" aqui sentado é que estou a ver a coisa mais ou menos como deve ser) a deixar de dizer que nos faria falta um bocadinho mais de respeito pelos deserdados da vida, ao ponto de, ao menos, avaliar os efeitos do que estamos a fazer, fora do estrito quadro da paranóia de contenção de uma epidemia a qualquer custo.
Senhores jornalistas, protejam-se, ponham máscaras se quiserem, levem desinfectante no bolso, mantenham a distância social, não toquem em nada, mas vão lá, vão ver o que se está a passar lá.
Ao menos digam-me que é falso alarme, que estou enganado, que afinal não se passa nada.
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