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Na Europa, durante décadas, cristalizou-se a ideia de que princípios e desejos (bons ou maus) se sobrepunham á realidade, às possibilidades, aos interesses. Obviamente não é exactamente assim. Nem no plano interno, nem no plano das relações internacionais.
Para esse estado de irrealidade, não se pode deixar de olhar para dois actores. Os partidos políticos (moderados de esquerda e direita), que criaram, ou não combateram, um clima de euforia desenfreado, preocupados com a conquista do poder. As populações, que exigiam vorazmente tudo, já, porque acreditavam ser possível e constituir um seu direito inalienavel.
Não se pode dizer que correu mal durante muito tempo. Grandes conquistas foram realizadas, parecia que nada se interpunha entre desejos e realidades. “Parecia” é a palavra-chave: depois de décadas de prosperidade, a desconsideração sistemática dos limites, expôs a utopia em que vivemos.
Na política, quando se tornou evidente o divorcio crescente entre as promessas e o resultado. O que levou os partidos de centro (normalmente no poder), a perderem uma imensa hegemonia do sistema. Os partidos radicais, sobretudo de direita, mas também de esquerda, representam, hoje, uma franja crescente dos parlamentos. Não é por acaso.
Na economia, a impiedosa regulação, o triunfo da sociedade sobre riscos, levou a Europa a atrasar-se relativamente aos EUA e a muitos outros países. É provável que continuemos no grupo dos mais ricos, mas não seremos dos mais ricos. Pior, quebrámos a idade de ouro, em que cada geração vivia necessariamente melhor do que a anterior.
No plano internacional, tornámo-nos irrelevantes. Afinal a História não acabou e ter armas, exércitos e força militar, voltou a ser relevante, mesmo para a nossa sobrevivência enquanto sociedades independentes. O papão russo, depois da queda do muro, parece tão vivo como nos velhos e maus tempos. E os EUA, decidiram que já não tinham interesses alinhados com os da Europa. Ou pelo menos, ao ponto de se encarregarem da sua defesa, da forma a que os Europeus desejam.
O choque, o sentimento de orfandade e traição, é ainda amplificado pelo estilo de Trump, que nos transporta diretamente da irrealidade, não para a realidade, mas para a brutalidade. Se o estilo de Trump é muito desagradável, não podemos deixar de reconhecer a sua legitimidade como presidente democraticamente eleito. E a legitimidade de os EUA não assumirem a defesa do que entendemos serem princípios éticos legítimos. A moralidade das nações, quase sempre se subordinou ao que se pensa serem os seus interesses. É uma realidade. Como é uma realidade que a defesa da Europa deve ( e até pode) ser assumida pelos Europeus, o que significa que, querendo, terão que fazer os sacrifícios necessários.
A Europa está metida num grande sarilho. As maiores ameaças podem ser as maiores oportunidades. Um banho de realismo e bom senso, pode ser o que a Europa precisa para sair da decadência em que mergulhou. Esperemos que assim seja.
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