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Da irrealidade á brutalidade. Ou solução?

por Jose Miguel Roque Martins, em 04.03.25

 

Na Europa, durante décadas, cristalizou-se a ideia de que princípios e desejos (bons ou maus) se sobrepunham á realidade, às possibilidades, aos interesses. Obviamente não é  exactamente assim. Nem no plano interno, nem no plano das relações internacionais.

Para esse estado de irrealidade, não se pode deixar de olhar para dois actores. Os partidos políticos (moderados de esquerda e direita), que criaram, ou não combateram, um clima de euforia desenfreado, preocupados com a conquista do poder. As populações, que exigiam vorazmente tudo, já, porque acreditavam ser possível e constituir um seu  direito inalienavel. 

Não se pode dizer que correu mal durante muito tempo. Grandes conquistas foram realizadas, parecia que nada se interpunha entre desejos e realidades. “Parecia” é a palavra-chave: depois de décadas de prosperidade, a desconsideração sistemática dos limites, expôs a utopia em que vivemos.

Na política, quando se tornou evidente o divorcio crescente entre as promessas e o resultado. O que levou os partidos de centro (normalmente no poder), a perderem uma imensa hegemonia do sistema. Os partidos radicais, sobretudo de direita, mas também de esquerda, representam, hoje, uma franja crescente dos parlamentos. Não é por acaso. 

Na economia, a impiedosa regulação, o triunfo da sociedade sobre riscos, levou a Europa a atrasar-se relativamente aos EUA e a muitos outros países. É provável que continuemos no grupo dos mais ricos, mas não seremos dos mais ricos. Pior, quebrámos a idade de ouro, em que cada geração vivia necessariamente melhor do que a anterior.

No plano internacional, tornámo-nos irrelevantes. Afinal a História não acabou e ter armas, exércitos e força militar, voltou a ser relevante, mesmo para a nossa sobrevivência enquanto sociedades independentes. O papão russo, depois da queda do muro, parece tão vivo como nos velhos e maus tempos. E os EUA, decidiram que já não tinham interesses alinhados com os da Europa. Ou pelo menos, ao ponto de se encarregarem da sua defesa, da forma a que os Europeus desejam.

O choque, o sentimento de orfandade e traição, é ainda amplificado pelo estilo de Trump, que nos transporta diretamente da irrealidade, não para a realidade, mas para a brutalidade. Se o estilo de Trump é muito desagradável, não podemos deixar de reconhecer a sua legitimidade como presidente democraticamente eleito.  E a legitimidade de os EUA não assumirem a defesa do que entendemos serem princípios éticos legítimos. A moralidade das nações, quase sempre se subordinou ao que se pensa serem os seus interesses. É uma realidade. Como é uma realidade que a defesa da Europa deve ( e até pode) ser assumida pelos Europeus, o que significa que, querendo, terão que fazer os sacrifícios necessários.

A Europa está metida num grande sarilho. As maiores ameaças podem ser as maiores oportunidades. Um banho de realismo e bom senso, pode ser o que a Europa precisa para sair da decadência em que mergulhou. Esperemos que assim seja.

 

 

 


10 comentários

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De Anónimo a 04.03.2025 às 15:28

entre Trump e a Europa acabou o 'Pacto Donald'. o Tio Patinhas europeu arruinou-se e passou a sem abrigo.
felizmente temos 'ó pó zi são' com IA para dar e vender.
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De Anónimo a 04.03.2025 às 15:37


O papão russo parece tão vivo como nos velhos e maus tempos.


Isso é o que parece.


Na verdade, a Rússia, com uma população em acentuado declínio (o que só é disfarçado, para efeitos da sua economia externa, pelos muitos imigrantes que acolhe), não tem capacidade para gastar os muitos milhares de vidas que a invasão de qualquer país europeu (com a possível exceção dos bálticos) exigiria. Muito menos para efetuar uma verdadeira conquista e ocupação de tais países, o que requeriria o gasto permanente de centenas de milhares de soldados em forças de ocupação.
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De Anónimo a 04.03.2025 às 15:46

A Europa é um conceito geográfico e ,  também , cultural e civilizacional.
Mas, em termos geopolíticos, não existe : existem, isso sim, países europeus.
Estou seguro de que Le Palisse concordaria...
Juromenha
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De O apartidário a 04.03.2025 às 18:44

Não existe Europa geopolítica(apesar da UE) e também não há países soberanos, estamos portanto a meio de uma ponte que sofre abalos sismicos variados.
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De O apartidário a 06.03.2025 às 18:04

🇪🇺Europa ya no es de los europeos.❌
Nos han arrebatado nuestra democracia, nuestros valores y ahora nos empujan a una guerra absurda contra Rusia. En una reciente cumbre en Londres, los líderes globalistas de la UE acordaron destinar 800 MIL MILLONES de euros en armamento y tropas para Ucrania, dinero que saldrá del bolsillo del ciudadano europeo mientras nos hundimos en inflación, impuestos y pérdida de libertades.📉
¿Quién decide esto? Ursula von der Leyen, los burócratas de Bruselas y las grandes corporaciones como BlackRock, que se llenan los bolsillos con la guerra. Mientras tanto, Putin y Trump juegan su propia partida, basada en intereses reales, no en ideologías ni moralismos ridículos.🚩
Nos venden que luchamos por valores europeos, pero ¿qué valores? Los mismos que han empobrecido a la clase media, impuesto regulaciones absurdas, censurado la libre expresión y promovido una inmigración descontrolada? Nos han convertido en esclavos de un sistema que 🚨NO NOS REPRESENTA.🚨
📢 El globalismo ha convertido a la UE en un estado totalitario disfrazado de democracia. La misma élite que nos dice que Rusia es el enemigo es la que nos exprime con impuestos, nos condena a la dependencia energética y nos adoctrina con su ideología woke.
💬 ¿Cómo crees que terminará esto? ¿Debemos aceptar esta dictadura globalista o resistir? -- canal Desde mi punto de vista

https://youtu.be/wxbxgp7QeFY?si=-RNTfhkrndurD4cn
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De Silva a 04.03.2025 às 17:32

"A Europa está metida num grande sarilho."


Falso. A Europa está melhor agora do que antes da queda dos regimes da Europa do Leste no início dos anos 90.
A União Soviética foi desmantelada, o Pacto de Varsóvia foi desmantelado, a Jugoslávia (país oficialmente não-alinhado mas que obviamente estava alinhado com os russos) foi desmantelada e com mais ou menos dificuldades, os países que saíram da esfera russa quase todos caminharam rumo à "normalidade política e económica", ou seja, "democracia e capitalismo". A Bielo-Rússia é uma excepção.
A Nato foi reforçada com vários desses países e com outros outrora oficialmente neutrais.
O Euro eliminou vários custos cambiais nas transacções comerciais entre muitos países europeus.


É óbvio que os russos irão continuar a causar imensos problemas, mas outros problemas são causados pelos eleitores das democracias e ainda outros pela falta de vontade/coragem política dos eleitos.


Mas tudo isto é muito mais simples, fácil e barato de ser resolvido do que se estivermos em guerra.


O que os países precisam é de implementar, rapidamente e em força, reformas estruturais a começar, repito, a começar pela abolição do salário mínimo, liberalização dos despedimentos e abolição dos descontos seguindo-se outras reformas estruturais.


É também necessário desmantelar várias instituições europeias que não passam de abrigo para burocratas.
Não precisamos de nenhum exército europeu; apenas é necessário reforçar as forças armadas dos vários países da Nato.


Aproveito para agradecer ao Reino Unido a saída da Comunidade Europeia, pois estes eram um financiador líquido, ou seja, já que não há vontade/coragem política para implementar reformas estruturais lá terá que ser o aumento da pressão financeira a orientar as medidas no sentido correcto.



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De separatista-50-50 a 04.03.2025 às 18:38


OS EUROPEUS DO PLANO: «ESTES ESTÚPIDOS SÃO UMA MINA DE OURO»; PRETENDEM 'COMER' O PLANETA POR PARVOS!
.
.
Os  europeus do plano «estes estúpidos são uma mina de ouro» (vulgo: os europeus da civilização dos 500 anos de roubo/pilhagem) possuem um largo currículo de negócios de extermínio (-> extermínio de autóctones identitários nas Américas na Austrália)... e em pleno século XXI:  financiaram estúpidos ucranianos (aonde estão incluídos neonazis ucranianos) para que... fossem exterminados os russófonos (das regiões russófonas integradas pela ditadura dos sovietes na Ucrânia) que reivindicavam o direito de decidir o regressar à Russia.
[estes russófonos passaram a ser perseguidos, presos, bombardeados, queimados vivos (Odessa, 2 de maio de 2014)]
.
SIM: os ucranianos venderam-se a um negócio de extermínio que correu mal... resultado:
-> mais de um milhão de vendidos/estúpidos mortos;
-> as riquezas da Ucrânia passaram para as mãos de interesses económicos ocidentais.
e mais:
-> depois de implementarem a guerra "quantos mais eslavos se matarem uns aos outros melhor":
- são os ocidentais que vão gerir a reconstrução da Ucrânia;
- são os ocidentais que vão gerir a substituição populacional: "não existia mão-de-obra suficiente... e os imigrantes fizeram um magnífico trabalho".


.
.
E MAIS:
- pretendem roubar os russos (leia-se: activos russos congelados)... para com esse dinheiro roubado pagar a mercenários... que vão combater os russos!!!
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De Anonimo a 04.03.2025 às 20:54

Europa precisa é de implementar, rapidamente e em força, reformas estruturais a começar, repito, a começar pela abolição do salário mínimo, liberalização dos despedimentos e abolição dos descontos seguindo-se outras reformas estruturais.
DOGE em Portugal, já 
MEGA 
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De Anonimo a 04.03.2025 às 20:57

 A Europa, que nunca foi unida, devia ser aliada da Rússia. Ocupou o bloco de Leste, infelizmente, decidiu acabar com a esfera de influência russa, da qual a Ucrânia faz parte.
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De O apartidário a 10.03.2025 às 08:54

A Europa (leia-se países europeus já não soberanos na UE) tem ido a reboque dos interesses do "secret" establishment Anglo-American (agora desafiado por Trump e sua administração). Tenho um post recente sobre esse Anglo-American establishment no meu blog Imagens. 

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