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Depois dos fogos de 2017, o Senhor Presidente da República, pelo exemplo, indicou caminhos para o futuro, indo arrancar eucaliptos para Vouzela.
Na mesma altura, também em Vouzela, uma pequena e obscura associação de conservação da natureza optava por outro caminho, explicando que ia cruzar os braços para perceber, depois da Primavera, o que fazer.
Tanto quanto é do conhecimento público, ao arranque de eucaliptos, substituídos por plantações de espécies autóctones, não se seguiu nada e é fácil ir verificar que o sítio em causa é hoje o que era antes do fogo: um mar de mimosas, sem grande esforço de gestão.
Note-se que até houve um pesado investimento, financiado pelo PRODER, para o controlo das mimosas naquela zona, e que a atenção social sobre a área no pós fogo teria sido uma grande oportunidade para chamar a atenção para o grave problema das invasoras pós fogo (mimosas, naquele caso, muitas outras acácias também naquele caso e em muitos outros, háqueas, sobretudo nos xistos, e coisas que tal), mas as elites urbanas preferiram falar de eucaliptos, arrancar eucaliptos e etc. eucaliptos.
Em vez de se focarem em problemas reais, preferiram preocupar-se com problemas populares, sejam eles reais ou imaginários, sejam eles mal ou bem equacionados, isso é irrelevante, o importante é dar a impressão de que se está fortemente empenhado no bem comum.
A tal obscura associação de conservação, de que fui presidente e que tenho apoiado, agora fora da direcção (fica feita a declaração de interesses), pelo contrário, foi fazendo algum trabalho de formiguinha.
Nas suas propriedades de Vouzela tratou de ir gerindo o carvalhal que foi afectado temporariamente pelo fogo, para o preparar para o fogo seguinte, noutras propriedades foi tratando de invasoras a sério, às vezes fez plantações, sempre com a mesma preocupação: fazer o máximo, com o mínimo de esforço, para conduzir a natureza pelo caminho que parecia o melhor para aumentar a biodiversidade e o valor social do território.
Hoje mandaram-me umas fotografias, que eu sei que não são espetaculares, são até dificeis de perceber para quem não for acompanhando isto, mas aqui ficam duas delas.
Em cima está apenas um carvalhito sobre o qual passaram quatro Primaveras (esta é a quarta, e tem sido excelente para as árvores) depois do fogo que calcinou a parte aérea de praticamente todas as plantas que estavam neste local (o fogo foi muito intenso, provavelmente intensidade potenciada por um efeito de garganta na encosta e numa fase fenológica tardia das plantas, já a meio de Outubro, quando os carvalhas estão a preparar-se para perder a folha).
Aqui está outro carvalhito, já não na propriedade gerida pela Montis mas próximo, que ardeu como o primeiro e foi deixado ao Deus dará. Provavelmente a sua raíz está menos afectada que a do primeiro porque não tem havido diminuições da superfície foliar que limitem a actividade fotossintética. Terá um metro e vinte de altura, contra os cerca de um e sessenta dos que foram geridos, e com muita rebentação mais lateral, ao contrário do aprumo do primeiro.
Para já poder-se-ia dizer que a resposta deste segundo carvalhito é mais segura e mais interessante que a que resulta da condução que está a ser feita pela Montis, mas o objectivo é olhar para os próximos cinco anos, quando começa a ser bem real a probabilidade de um novo fogo.
O que esperamos é que nos próximos cinco anos estes carvalhos comecem a formar copas relativamente densas, a uma altura do chão já razoável, que vão criando sombra que diminua a vegetação debaixo das copas, de modo a que no próximo fogo os carvalhos sejam menos afectados, rebentando de copa, e não de pé como aconteceu, e reconstituindo o carvalhal mais rapidamente, aproximando-o mais depressa de carvalhais maduros que convivam melhor com o fogo.
Isso faz-se visitando muitas vezes as propriedades, fazendo opções de gestão, errando umas vezes, acertando outras, sabendo ouvir o que nos dizem as respostas dos sistemas naturais às nossas opções, para as adaptarmos.
Pelo contrário, o espetáculo mediático do senhor Presidente a arrancar eucaliptos, que apareceu em tudo que era televisão e jornal, não deu resultado prático nenhum e, do ponto de vista da percepção pública, limitou-se a reforçar as asneiras que as elites repetem sobre o mundo rural.
O problema é simples de equacionar: falta gestão.
Quando há gestão, podemos optar por fazer isto ou aquilo (incluindo não gerir, que é uma opção de gestão perfeitamente adequada em muitos casos), quando não há gestão não há opção possível, excepto fazer números mediáticos sem grande utilidade e sem outro efeito que não seja o desperdício de recursos.
O que as nossas elites urbanas têm feito é despejar dinheiro sobre os problemas do mundo rural com base em ideias erradas.
Como de costume, uma das duas coisas tem desaparecido, é verdade, mas infelizmente não têm sido os problemas.
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