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Da gestão

por henrique pereira dos santos, em 07.05.21

Depois dos fogos de 2017, o Senhor Presidente da República, pelo exemplo, indicou caminhos para o futuro, indo arrancar eucaliptos para Vouzela.

Na mesma altura, também em Vouzela, uma pequena e obscura associação de conservação da natureza optava por outro caminho, explicando que ia cruzar os braços para perceber, depois da Primavera, o que fazer.

Tanto quanto é do conhecimento público, ao arranque de eucaliptos, substituídos por plantações de espécies autóctones, não se seguiu nada e é fácil ir verificar que o sítio em causa é hoje o que era antes do fogo: um mar de mimosas, sem grande esforço de gestão.

Note-se que até houve um pesado investimento, financiado pelo PRODER, para o controlo das mimosas naquela zona, e que a atenção social sobre a área no pós fogo teria sido uma grande oportunidade para chamar a atenção para o grave problema das invasoras pós fogo (mimosas, naquele caso, muitas outras acácias também naquele caso e em muitos outros, háqueas, sobretudo nos xistos, e coisas que tal), mas as elites urbanas preferiram falar de eucaliptos, arrancar eucaliptos e etc. eucaliptos.

Em vez de se focarem em problemas reais, preferiram preocupar-se com problemas populares, sejam eles reais ou imaginários, sejam eles mal ou bem equacionados, isso é irrelevante, o importante é dar a impressão de que se está fortemente empenhado no bem comum.

A tal obscura associação de conservação, de que fui presidente e que tenho apoiado, agora fora da direcção (fica feita a declaração de interesses), pelo contrário, foi fazendo algum trabalho de formiguinha.

Nas suas propriedades de Vouzela tratou de ir gerindo o carvalhal que foi afectado temporariamente pelo fogo, para o preparar para o fogo seguinte, noutras propriedades foi tratando de invasoras a sério, às vezes fez plantações, sempre com a mesma preocupação: fazer o máximo, com o mínimo de esforço, para conduzir a natureza pelo caminho que parecia o melhor para aumentar a biodiversidade e o valor social do território.

Hoje mandaram-me umas fotografias, que eu sei que não são espetaculares, são até dificeis de perceber para quem não for acompanhando isto, mas aqui ficam duas delas.

Vermilhas 7 maio 2021 a.jpg

Em cima está apenas um carvalhito sobre o qual passaram quatro Primaveras (esta é a quarta, e tem sido excelente para as árvores) depois do fogo que calcinou a parte aérea de praticamente todas as plantas que estavam neste local (o fogo foi muito intenso, provavelmente intensidade potenciada por um efeito de garganta na encosta e numa fase fenológica tardia das plantas, já a meio de Outubro, quando os carvalhas estão a preparar-se para perder a folha).

Vermilhas 7 maio 2021 b.jpg

Aqui está outro carvalhito, já não na propriedade gerida pela Montis mas próximo, que ardeu como o primeiro e foi deixado ao Deus dará. Provavelmente a sua raíz está menos afectada que a do primeiro porque não tem havido diminuições da superfície foliar que limitem a actividade fotossintética. Terá um metro e vinte de altura, contra os cerca de um e sessenta dos que foram geridos, e com muita rebentação mais lateral, ao contrário do aprumo do primeiro.

Para já poder-se-ia dizer que a resposta deste segundo carvalhito é mais segura e mais interessante que a que resulta da condução que está a ser feita pela Montis, mas o objectivo é olhar para os próximos cinco anos, quando começa a ser bem real a probabilidade de um novo fogo.

O que esperamos é que nos próximos cinco anos estes carvalhos comecem a formar copas relativamente densas, a uma altura do chão já razoável, que vão criando sombra que diminua a vegetação debaixo das copas, de modo a que no próximo fogo os carvalhos sejam menos afectados, rebentando de copa, e não de pé como aconteceu, e reconstituindo o carvalhal mais rapidamente, aproximando-o mais depressa de carvalhais maduros que convivam melhor com o fogo.

Isso faz-se visitando muitas vezes as propriedades, fazendo opções de gestão, errando umas vezes, acertando outras, sabendo ouvir o que nos dizem as respostas dos sistemas naturais às nossas opções, para as adaptarmos.

Pelo contrário, o espetáculo mediático do senhor Presidente a arrancar eucaliptos, que apareceu em tudo que era televisão e jornal, não deu resultado prático nenhum e, do ponto de vista da percepção pública, limitou-se a reforçar as asneiras que as elites repetem sobre o mundo rural.

O problema é simples de equacionar: falta gestão.

Quando há gestão, podemos optar por fazer isto ou aquilo (incluindo não gerir, que é uma opção de gestão perfeitamente adequada em muitos casos), quando não há gestão não há opção possível, excepto fazer números mediáticos sem grande utilidade e sem outro efeito que não seja o desperdício de recursos.

O que as nossas elites urbanas têm feito é despejar dinheiro sobre os problemas do mundo rural com base em ideias erradas.

Como de costume, uma das duas coisas tem desaparecido, é verdade, mas infelizmente não têm sido os problemas.


3 comentários

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De Anónimo a 07.05.2021 às 16:59

PR, pm, muitos ecos não passam de meninos citadinos a brincar às casinhas.
nunca calcorrearam o campo a pé, não subiram às árvores,para eles azinheira ou couve é rudo comestível

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