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Estive, na semana passada, no lançamento do livro do João Távora que tem tido aqui no blog várias referências.
Depois disso li-o, com proveito.
Será bom, para quem o leia, estar atento ao sub-título, é um livro de crónicas, não é um livro de história, embora sejam crónicas históricas.
E, desse ponto de vista, é um livro que vale a pena.
Tenho ideia de que no prefácio o meu cunhado Carlos (fica feita a declaração de interesses, Portugal é muito pequenino) diz que não é habitual termos o ponto de vista das classes dominantes e, sem bem percebi a ideia, estou de acordo com ela, embora não exactamente com a forma como é descrita a ideia.
Parece-me que a história é, por definição, o ponto de vista dos vencedores, ou seja, dos que estiveram do lado certo da história, sendo o lado certo uma categoria literal - os que ganharam e se tornaram dominantes - e não uma categoria moral, o lado do bem.
O que me parece mais interessante no livro, e é assim que leio a tal passagem do prefácio, é mesmo que estas crónicas da história são feitas a partir do ponto de vista dos que estiveram sempre, sempre, do lado errado da história, no sentido do lado que perdeu sempre, independentemente da sua eventual razão.
E mais interessante ainda é o facto destes perdedores saberem que são perdedores, que provavelmente serão perdedores no futuro e, ainda assim, persistirem no "erro", porque aquilo que entendem representar é mais do que aquilo que são.
Já nos anexos do livro, aparece a chave de leitura, que aliás João Távora refere na conversa que ocorreu no lançamento do livro: "A minha situação financeira no momento permitia-nos ausentarmo-nos de Portugal por algum tempo, pois tinha uma determinada quantia em ouro num banco. É verdade que se o movimento [se] gorasse ou demorasse muito ver-nos-íamos em sérios embaraços seguidos fatalmente da ruína total. Se ficássemos, porém, a ruína viria igualmente, embora mais demorada, pois o meu rendimento não me chegava de maneira nenhuma para viver, e como estavam as coisas públicas não via maneira de o aumentar de maneira nenhuma. A ter der cair na miséria, antes fazê-lo com honra".
Por coincidência, foi no mesmo dia em que li esta parte do livro que apareceu nos jornais a notícia de um estudo sobre os jogadores de raspadinha, maioritariamente dos estratos mais pobres, e que gastam rios de dinheiro neste jogo de azar, fazendo de Portugal, de longe, o país da Europa em que mais se gasta, per capita, neste jogo.
Será eventualmente absurdo, mas para mim foi imediata a semelhança de atitudes, quer das elites, quer do povo, depositando todas as suas esperanças num futuro melhor na roda da fortuna, como se apenas as circunstâncias definissem o futuro, independentemente dos esforços individuais, um bom indicador de como está (e provavelmente sempre esteve, em maior ou menor grau) avariado o elevador social em Portugal.
O que estas crónicas têm de interesse tanto diz respeito a quem gosta de ver a história de vários pontos de vista, como de quem gosta de olhar para o que se passa à sua volta para procurar entender de onde vem e para onde vai o mundo em que vive.
Eu acho que o livro valeu bem os vinte euros que paguei por ele.
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