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Podemos debater a importância da aparência de um candidato a um cargo político? É evitável que o eleitor estabeleça juízos com base no aspecto físico de um candidato? Não será a elegibilidade, popularidade de um candidato dependente do cruzamento de diferentes factores, para além da eloquência, inteligência, assertividade e empatia? A beleza não conta? Todos sabemos que sim.
De pouco nos serve menosprezar a natureza humana, e o eleitor ainda não responde aos estímulos como um algoritmo gerado pelos critérios equidistantes e racionais (?) da bolha duma redacção de jornal. Evidentemente que, na hora de adesão a um determinado candidato, se a ideologia – o modo como vê o mundo - com que ele se reveste para cativar um determinado segmento de eleitorado é relevante, muitos outros factores serão marcantes.
Como acontece numa carreira profissional, o que contribui para o sucesso, não é só a acuidade técnica ou grau de inteligência, o triunfo de um político depende do entrecruzar de muitos factores de carácter. Se o grau de combatividade e a resistência à frustração podem mitigar algumas falhas, a capacidade de liderança, de convencer os outros, desde logo os seus confrades, da bondade dos seus métodos e razões; a empatia, capacidade de cativá-los, para lá de questões objectivas – a aptidão empática também é um dado objetivo – será um factor determinante no sucesso dessa empreitada. Se tudo isto é importante no jogo da vida profissional, os defeitos físicos são determinantes nesse concurso. Evidentemente que no fim das contas, o “bom aspecto” também contribui para o sucesso: isso facilita as relações, abre portas e pontes, promove a boa vontade. Evidentemente, que num microcosmo de uma empresa ou instituição, as “falhas físicas” com mais ou menos esforço do individuo são superáveis, pela gestão das suas relações e persistência do seu redobrado esforço de afirmação interpessoal. O ser humano, mediante os seus handicaps “constrói-se” quase sempre dotado de habilidades que compensam e superam as suas deficiências. Como bem sabemos, uma pessoa muito estrábica, muito baixa, ou demasiado gorda, só para dar alguns exemplos, não está condenada ao fracasso profissional ou sentimental.
Mas estou convencido que na disputa política as coisas não se jogam exatamente assim. O desafio da afirmação pessoal no espaço público torna-se exponencialmente ampliado. Que qualidades são necessárias para compensar uma baixa estatura de um candidato presidencial, o estrabismo exagerado dum aspirante a presidente da Câmara, ou a obesidade duma candidata a primeira-ministra?
De nada serve fazer-se tabu dos defeitos físicos de um líder político porque na sua profissão eles serão sempre exageradamente exibidos pelas circunstâncias e natureza do “negócio” eleitoral. Essas imperfeições, se demasiadamente marcadas, na impossibilidade de uma relação pessoal com os interlocutores, ampliarão sempre a má vontade de quem não esteja convencido das virtudes do personagem.
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