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Crise, qual crise?

por João Távora, em 23.03.21

Dresden.jpg

Ou muito me engano ou a pesada factura da pandemia que teimámos em querer domesticar não tardará a ser-nos cobrada com pesados juros, na forma das insurreições e abalos políticos que normalmente acompanham os períodos de penúria e desemprego. De resto, curioso é verificar como a radicalização da conflitualidade e a inflação dos extremos políticos aponta para essa tempestade perfeita. De facto, de há uns anos para cá vêm-se acentuando sinais de que as pessoas se cansaram da enfadonha prosperidade esforçadamente conquistada pelos nossos avós depois da II Guerra. Suspeito que o buraco existencial que é inerente ao ser humano não se preencha com entretenimento,  viagens, gadgets e outras mundanidades que no ocidente foram democratizadas e substituíram a espiritualidade. As tribos guerreiras que nas últimas decadas emergem como cogumelos à volta de toda a sorte de fracturas sociais são indicadoras de uma acesa predisposição para um conflito que aguarda ocasião propícia para eclodir com estrondo. Enquanto isso assistimos ao acelerado enfraquecimento das instituições que foram garante da nossa liberdade e dos equilíbrios precários que suportam um regime de soberania popular, expostas à corrosão das dinâmicas fragmentárias híper-individualistas da era digital.

A história da humanidade demonstra-nos à saciedade um periódico surgimento dum instinto autodestrutivo, que em tempos foi justificado como uma forma de controlo do subconsciente colectivo da demografia, mas que eu cada vez mais me convenço ser o fenómeno decorrente da veia trágica que a nossa existência comporta. Quando as comunidades saciadas não têm mais cidades para reconstruir e restaurar, pontes para reerguer e irmãos martirizados para sarar, cuidar e acolher, dedica-se ensimesmadamente a escarafunchar as suas cicatrizes... até fazer sangue.

Isto tudo é apenas uma intuição minha mas, pelo sim e pelo não, tenhamos cuidado com aquilo que desejamos e as guerras que compramos.
 

Fotografia: Dresden desperta depois do grande bombardeamento.


5 comentários

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De Anónimo a 23.03.2021 às 21:16

Certíssimo   -   quanto ao chamado "Ocidente"..
Creio que da linha Oder/Neisse  para lá (  apropriadamente, face ao exemplo de Dresden) as coisas não serão exactamente assim.
Uma olhadela à patética península da Ásia chamada Europa ( parte dela ) , e aos seus patéticos habitantes , esclarece-nos suficientemente sobre o desfecho de um hipotético conflito ( que não vai existir, aliás ; será sempre a "Horda de Ouro"...mas com os maneirismos do nosso tempo...)


JSP
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De Anónimo a 24.03.2021 às 08:44

se misturar o futebol com o Covid19 ainda acredito que haja insurreição.
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De Anónimo a 24.03.2021 às 10:19

«-agarrem-me ou faço uma desgraça»
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De pitosga a 24.03.2021 às 11:04


A destruição de Dresden, uma área sem qualquer interesse estratégico ou militar, é um dos grandes crimes cometidos pela USAF e pela RAF. Em dois dias arrasaram toda a cidade e os arredores onde estavam milhares de pessoas fugindo do avanço das tropas da USSR.

Günter Blobel foi galardoado com o Prémio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1999. Com esse dinheiro ajudou à reconstrução de Dresden e, em particular, da Catedral Frauenkirsh (Igreja de Nossa Senhora).

Na maioria, os homens sempre foram uns selvagens. Resolverem as suas questões com guerra.

Abraço
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De Anónimo a 24.03.2021 às 11:41


Além do instinto autodestrutivo, também o instinto de sobrevivência se manifesta descontroladamente em variadíssimos contextos, sejam os de grave «Crise Económica» que referiu,(de penúria, de desemprego) sejam os de «Crise de Identidade» como julgo que também nos está a acontecer (no sentido de pertença a uma comunidade histórica e cultural homogénea e estável que repentinamente vê os seus alicerces abalados).  Justamente este último aspecto tem estado debaixo de fogo, por ser o alvo de constantes "mexidas" que vieram causar fragmentação e uma nova divisão "imposta" à sociedade, na qual não nos revemos. Esta espécie de sismo é instrumental, através dele pretende-se fabricar uma outra identidade nacional, sob a forma de tribalização "forçada" que não faz parte das nossas características identitárias, nem tão-pouco da nossa mundividência  enquanto comunidade e povo agregador que foi pelo Mar fora e pelo Mundo adentro. Não será fácil provocar a nossa desagregação. Tem havido alguma contenção e controlo (por enquanto) e muito bom senso! Mas  os efeitos andam no ar, são perceptíveis: respira-se mal-estar, há desgaste e há cansaço. 
Sobretudo parece que deixou de haver Esperança e há menos Liberdade. Perderam-se quase todas as ilusões. Quem nos governa está cada vez mais descredibilizado. Instalou-se a convicção de que não há futuro. A «Crise Económica» somar-se-á a tudo isto e, para nosso mal, há-de fazer-se notada.


Neste "ambiente" de aparente acalmia há alguma coisa latente pronta a explodir e bastará um pequeno motivo  para desencadear a revolta descontrolada e desfazer todos os falsos e artificiais "equilíbrios" que, há demasiado tempo, nos têm sido impingidos.
Depois, porque faz parte da natureza humana e da sua História, hão-de procurar-se os culpados... e ir-lhes no encalço.


Acho que os nossos políticos e, sobretudo, os que nos (e se) governam não estão preparados para o que aí vem. Nem se aperceberam de que estão a caminhar sobre uma camada fina de gelo.
Qualquer dia...
A foto que o João Távora colocou, diz mais que mil palavras.


mt

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