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Corrupção

por henrique pereira dos santos, em 12.06.19

Raramente escrevo sobre a corrupção em abstracto porque a ideia do combate à corrupção, em abstracto, é como um discurso de Miss Mundo, serve para falar sem dizer nada.

Ser contra os corruptos, os ladrões do governo (ou dos tribunais, ou das universidades, ou dos bancos, do que na altura nos der jeito) é o maior favor que podemos fazer aos corruptos: ao lançar-se uma suspeita indistinta sobre grupos suficientemente alargados para haver, forçosamente, corruptos e não corruptos, estamos na verdade a dizer que são todos iguais, farinha do mesmo saco, etc., o caldo de cultura ideal para os verdadeiros corruptos se defenderem, de consciência tranquila, das campanhas negras, das cabalas e essas coisas más de que são vítimas.

Hoje resolvi falar de corrupção à conta desta notícia do Observador.

O post de hoje é apenas para vincar a diferença entre a corrupção que existe nas empresas e no Estado, que no essencial se traduz em dois aspectos:

1) Os prejuízos que resultam da corrupção nas empresas são pagos pelos seus accionistas, os prejuízos causados ao Estado pela corrupção são pagos pelos contribuintes.

2) Quem decide nas empresas tem interesse real em combatê-la (excepto quando é praticada pelos próprios accionistas, claro), mas quem decide no Estado, até pode genuinamente querer combater a corrupção, mas a verdade é que não lhe sente na pele os efeitos (em rigor até pode haver nesses decisores quem seja o promotor dessa corrupção, visto que as vantagens são para quem decide e os custos sobram para os contribuintes).

Destes dois aspectos, que me parecem inquestionáveis, resulta um corolário desarmantemente simples: a fórmula mais simples para reduzir a corrupção no Estado consiste em retirar do Estado todas as oportunidades para que uns poucos criem esquemas de enriquecimento ilícito, externalizando para os privados esse risco.

Claro que essa opção não elimina a corrupção, isso nunca acontecerá em qualquer caso, quer porque também existe corrupção nas empresas privadas, quer porque há funções do Estado que não podem ser alienadas para os privados, mas seguramente limitaria muito os seus efeitos no bolso do contribuinte e na percepção pública do problema.

Imaginemos que a Caixa Geral de Depósitos era privada e não havia nenhum banco comercial do Estado. O assalto ao BCP e a manutenção artificial do BES teria chegado tão longe e tido efeitos tão profundos no bolso dos contribuintes?

Eu tenho as minhas dúvidas e não vejo o que se ganhou em troca.


6 comentários

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De Anónimo a 12.06.2019 às 22:18

'o dinheiro é do ps'
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De Anónimo a 12.06.2019 às 23:36

Ora completamente certo
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De zazie a 13.06.2019 às 10:05

Completamente certo.
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De Anónimo a 14.06.2019 às 18:46


Políticos que nunca passaram pela actividade economica/financeira privada nem percebem o que muito bem aqui escreve.



Na actividade privada qualquer Governador, ou outro tipo de responsável, faria saber à hierarquia, à sua administração, o não ter meios (legais ou outros) para cumprir com as suas responsabilidades. Sabia o que se passava, mas não podia fazer nada.

Porque não exigiu poderes para tal à hierarquia, nacional ou ao BCE ?. Curso para responsáveis lição 101. "Feedback"

Convém acrescentar que no caso vertente o partido no poder, em primeira e última análise, é hierarquicamente responsável.

Não terá legislado apropriadamente as responsabilidades e os meios de um Governador do Banco Central Nacional, mesmo que uma sucursal do BCE ?.

Por outro lado: Não fiscalizou convenientemente a acção do Governador do B.C.?.Lição 102. Dirigir e fiscalizar a execução das directivas atribuídas.
No Estado as regras, na verdade, parecem ser outras.
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De Anónimo a 17.06.2019 às 17:33


"1) Os prejuízos que resultam da corrupção nas empresas são pagos pelos seus accionistas, os prejuízos causados ao Estado pela corrupção são pagos pelos contribuintes."


Quem lhe contou essa anedota?
Então vão devolver-me a parte que me cabe no socorro a bancos privados?
Quantos milhões o Zienal Bava arrecadou de uma empresa que foi vendida ao desbarato? Devolveu algum aos acionistas?
E as empresas que vão à falência arrastadas pelas grandes que falem por gestão danosa? São todas ressarcidas?
Tenho vinte ações da Microsoft, acha que me telefonam a pedir a opinião antes de fazerem algum investimento?
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De Anónimo a 17.06.2019 às 22:03

Zeinal Bava não era acionista de referência do BES. Os accionistas da PT fartaram-se de perder dinheiro.
O socorro a bancos privados foi decidido pelo Estado e uma boa parte teve um bom retorno, outra parte será pago pelos contribuintes porque o Estado assim decidiu. Já o socorro à Caixa Geral de Depósitos, vamos todos pagá-lo.
As empresas que vão à falência devem ser ressarcidas de quê?

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