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Eduardo Rego escrevia um dia destes: “A correlação parece óbvia: Natal mais "solto", mais contaminados, mais mortes...Mas … os números excepcionais da mortalidade total que tem acompanhado este crescimento da mortalidade covid? ... Os números diários da mortalidade total, neste início de ano, têm batido todos os recordes! O mais elevado de sempre com mais de 600 mortos, uma série nunca vista de dias seguidos com mais de 500 mortos, etc.. Mesmo descontando os mortos por covid, e esquecendo até o efeito da absorção pela covid de outras causas de morte associadas (infecções respiratórias) e particularmente activas nesta altura do ano (absorção inegável, já que os números da gripe e pneumonia diminuiram de forma espantosa!) a série é impressionante! Sublinhe-se aquele "excepcionais"! … Há a correlação com a onda de frio.... Há naturalmente quem diga que são consequência e prova do colapso do SNS e dos hospitais. A correlação também existe... Haverá de todos estes factores em jogo, de cada correlação em que nos fixemos, um pouco de contribuição para esta assustadora mortalidade total. E não só covídica! Mas qual o peso, quais os factores mais importantes? … Não sabemos! Só analisando com cuidado, e se tivéssemos a informação, a história clínica deste enorme excesso das mortes não-covid.”
A isto soma-se ainda a correlação do aumento de mortalidade com o aumento de população maior de 64 e 85 anos, por exemplo.
Uma correlação positiva entre dois fenómenos não demonstra que estão ligados, só é indício de que assim pode ser.
A ausência dessa correlação é que demonstra que não há ligação entre esses dois fenómenos, e basta uma ausência de relação para invalidar a primeira hipótese.
Eu compreendo que isto seja contra-intuitivo, e haja quem ache que dizer-se que de 4000 casos resultam 150 mortos porque existe uma relação fixa entre casos e mortalidade, não é o mesmo que dizer-se que com 10 mil casos vamos ter 450 mortos, mas é.
Para verificar esta hipótese não basta ver se quando tivermos 10 mil casos iremos ter 450 mortos (com o devido desfasamento temporal, bem entendido) uma vez. A verificar-se essa correlação, isso apenas permite manter em aberto a hipótese, mas basta que uma vez haja 10 mil casos e, por exemplo, 300 mortos, para se invalidar a hipótese de uma relação fixa entre casos e mortalidade (ou, já agora, hospitalizações, por exemplo).
O que me faz a maior das confusões não é haver tanta gente comum, tantos jornalistas, tantos políticos a fazer uma ligação simplista entre o Natal em Portugal e o aumento de casos e mortalidade covid, o que me faz confusão é a quantidade de cientistas, investigadores e outras pessoas com um mínimo de qualificação para discutir o assunto, a falar da curva da epidemia depois do Natal sem, por uma vez, referirem as condições meteorológicas que têm ocorrido desde o dia 25 de Dezembro.
O que me faz a maior confusão é ver como se omite que mesmo retirando os 150 mortos covid, nos últimos dias têm morrido 450 a 500 pessoas por dia, o que é um valor acima dos 400 que seria de esperar, já sendo um mau ano (já para não falar no facto da covid ter absorvido a mortalidade habitual por outras doenças respiratórias infecciosas que quase desapareceram).
O que me faz a maior confusão é explicar tudo com base nas medidas tomadas ou revogadas para gerir contactos, esquecendo tudo o que se sabe sobre sazonalidade deste tipo de doenças, não definindo de que medidas concretas se fala, não definindo com rigor quantos dias medeiam entre a adopção das medidas e o seu efeito, quer negativo, quer positivo, a facilidade com que se salta de país para país para demonstrar a tese, ao sabor do andamento das diferentes curvas, a ausência sistemática de referências ao papel dos factores ambientais na actividade viral na evolução da epidemia, etc..
O que me faz a maior das confusões é não haver debate sobre as consequências de apenas uma quantidade ínfima de contactos dar origem a infecções e não sabermos quais são as características destes contactos e por que razão dão origem a infecções e os outros não.
Em todo o lado tem sido impossível impedir a entrada da infecção nos lares, não por falta de esforços, evidentemente, mas simplesmente porque não temos os instrumentos para criar barreiras eficazes à difusão da infecção, porque não sabemos exactamente quando e como ocorre cada infecção.
Alguém se lembrou de fazer uns estudos a demonstrar que há uma correlação entre a dimensão da epidemia na comunidade e nos lares - mais ou menos como demonstrar que há uma correlação entre a quantidade de chuva e uma cheia - e logo se passou a achar que a forma de impedir a entrada na infecção dos lares era diminuí-la na comunidade, mais ou menos como quem incapaz de gerir a cheia onde ela ocorre, decidisse que a única alternativa seria parar a chuva.
E pronto, estamos nisto, a tentar parar uma infecção na comunidade porque não sabemos como a impedir de entrar nos lares (ou nas casas dos mais velhos), em vez de nos concentrarmos em aprender o que podemos fazer para melhorar as barreiras entre a comunidade e os mais vulneráveis.
E o que não falta é gente razoável, capaz, inteligente, informada e sensata convencida de que a melhor maneira de impedir a infecção de grupos vulneráveis é liquidar a infecção na comunidade, partindo do princípio de que o que não se consegue fazer em pequenos grupos confinados se consegue fazer em grandes grupos mais complexos.
Boa sorte, eu vou-me embora pra Pasárgada.
O dia 9 de janeiro 2021 foi o dia mais frio neste período, com 2.98°C de média da temperatura média do ar, sendo que os valores da temperatura máxima do ar, nas estações de Guarda, Aldeia do Souto, Lousã e Portel foram os mais baixos registados nos últimos 20 anos. De referir ainda que nos dias 5, 6 e 8, os valores médios de temperatura média do ar foram inferiores a 4°C. No dia 11 foi registado o 4º valor mais baixo da média da temperatura mínima do ar do território."
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