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Tem havido notícia de alguns problemas, infelizes, trágicos e mortais, em virtude da deficiente actuação do hospital S. José, em Lisboa. E culpam-se os anteriores Governo e Ministro da Saúde pelas ocorrências, invocando-se cortes no orçamento (isto depois do país se ter abeirado perigosa e socialisticamente da bancarrota, para a qual a empurrou o Governo anterior do PS). Parece que os profissionais de saúde daquele hospital não estão para trabalhar fora do horário habitual pelo preço que o Estado, vulgo contribuintes, pode pagar em função da riqueza produzida pelo país.

Até aqui, tudo bem: cada um é livre de apenas trabalhar pelo preço que quiser receber. Mas nos outros hospitais, que não o S. José, trabalha-se pelo mesmo preço e salvam-se vidas. Fora de horas. Para lá da hora. Ao sábado e ao domingo. O doente, se quiser ter hipótese de sobreviver, não pode é passar pelo apeadeiro do S. José: terá de ir directo para um sítio onde o tratem e esquecer o S. José. Mas quase ninguém se interroga sobre esta evidência: quase todos se bastam remetendo a responsabilidade para o anterior Governo e esquecendo a dos profissionais de saúde (e de gestão) daquele hospital (e do actual desGoverno).

Os comentadores, os jornalistas, os candidatos presidenciais têm falado muito sobre o caso, criticando os cortes orçamentais, mas eu pergunto-me sobre a solução que propõem: pagar aos profissionais de saúde do S. José o que exigem? Ceder a este tipo de chantagem? E os outros profissionais e hospitais, como ficam? Aqueles que se aguentam e têm salvado vidas, mesmo ao sábado e domingo, dias santos e de guarda, com o preço que os contribuintes pagam? No dia seguinte pagar-se-á a todos o mesmo? Com quê? E cede-se assim às exigências? Até quando? Quantas mortes mais serão precisas ou aguardarão os profissionais do S. José? E depois virão novas reivindicações? Quais? Que razão haverá para os profissionais de saúde do S. José (mesmo que não todos) pretendam condições diferentes dos dos HUC (Coimbra) ou de outros hospitais de Lisboa, Porto ou do resto do país?

Respeito muito os profissionais de saúde mas parece-me que os profissionais da comunicação social não estão a fazer o suficiente para as pessoas se sentirem devidamente informadas. Não consigo opinar. E considero-me eu uma pessoa razoavelmente informada…


5 comentários

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De FGCosta a 30.12.2015 às 17:38

O que concretamente se passou com o doente transferido para Coimbra (caso que conheço relativamente bem por razões profissionais) é que o AVC, pela sua extensão e localização, só poderia ter algumas hipóteses de sobrevida se fosse efetuada uma técnica (trombectomia) que apenas é tecnicamente realizável em 3 hospitais no país (a técnica só está aprovada internacionalmente desde 1 de janeiro deste ano e ainda há muito poucos médicos habilitados para a efetuar). O problema não está, portanto, na incapacidade de Faro, que procedeu corretamente iniciando a técnica (trombólise) mais eficaz até ao aparecimento da trombectomia, e que aliás a deve em princípio complementar, mas sim na demora da transferência do doente assim que S.José viu que não podia fazer a trombectomia. Não sei se o doente chegou a lá a dar entrada ou se S.José recusou assim que contactado pelo INEM, o que seria o mais correto dado não ter capacidade de intervenção. 
Há outro factor, este imponderável, que é o tempo que se perdeu no envio por ambulância desde Faro, devido ao mau tempo não permitir helicóptero. Como a intervenção tem que ser efetuada nas primeiras 6 a 8 horas após o início do AVC (e não da chegada ao hospital, note-se), e como o doente tinha sofrido um AVC minor antes do mais grave, há muitos aspetos que podiam correr mal pelo que será bom ter alguma calma nos juízos sobre este caso.
Já no caso do jovem com aneurisma que esteve de dia 11 a 14 à espera de ser transferido, fico com a revoltante ideia de que aqui foi dada prioridade a ganhos corporativos e políticos (tipo: "como não temos profissionais em escala, aguenta até 2ª feira, que é para demonstrar como nos devem fazer a vontade") em vez de fazer o óbvio: ("há que resolver o problema, e se nós não o podemos fazer, envia-se para um dos (vários) locais onde isso será possível").

Fica a informação
Fernando Gomes da Costa
(médico - Coimbra)

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