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Conclusões que não variam com as premissas

por henrique pereira dos santos, em 30.08.21

Ainda Manuel Carmo Gomes (apenas por ser o mais solidamente representativo de um modelo mental):

"Entre as 16.671 pessoas que ficaram infetadas, mesmo vacinadas, houve 91 mortes, até 26 de julho. “Mas 73 eram pessoas com mais de 80 anos — algumas delas tinham 100 anos e todas elas tinham muitas comorbilidades”."

Em primeiro lugar fico muito satisfeito que esta informação exista, embora eu nunca a consiga encontrar: parece que sempre se confirma que muitas das mortes atribuídas à Covid dizem respeito a pessoas em fim de vida com escassa esperança de vida e que, com elevada probabilidade, morreriam de qualquer forma no prazo de um ano.

Note-se que não estou a negar que nestes casos o factor final tenha sido a covid (não sei discutir isso), estou apenas a dizer que no prazo de um ano haveria sempre um factor final porque o estado geral da pessoa é de elevadíssima fragilidade.

Note-se que também não estou a dizer que é indiferente uma pessoa morrer hoje ou daqui a três meses, estou apenas a dizer que o factor que provocou hoje a morte a antecipou em semanas, mas na sua ausência isso não significaria que a pessoa vivesse muito mais tempo (e, já agora, com um mínimo de qualidade de vida).

Há meses que venho (é pretensão minha, desde sempre houve muito mais gente e muito mais qualificada que chamou a atenção para esta característica da covid) a chamar a atenção para o facto de ser muito provável que parte relevante (eu tenho falado em um terço, mas é uma especulação minimamente informada, não assenta em dados sólidos) da mortalidade covid seja de pessoas que morreriam em qualquer caso e testaram positivo.

Isto não é um esforço de desvalorização dos efeitos da covid, mas não podemos pôr no mesmo prato da balança doenças que matam pessoas muito velhas e doentes, doenças que matam essas pessoas mas também bebés muito pequenos (como a gripe) e doenças que matam outros grupos etários (por exemplo, no caso da gripe espanhola, para além dos dois extremos da estrutura etária, também havia um pico de mortalidade em jovens adultos), quando queremos avaliar o impacto da doença para o comparar com o impacto das medidas que temos à disposição para a combater.

Note-se que a conclusão lógica do que diz Manuel Carmo Gomes no que cito acima é a de que não faz sentido obrigar a sociedade a um esforço brutal para prolongar a vida de pessoas acima dos oitenta anos, com várias doenças e muito fragilizadas. Não porque essas semanas de vida não valham nada, mas sim porque o esforço que é pedido à sociedade se traduz em muitas mais semanas de sofrimento para muito mais gente.

Ou seja, tudo o que sejam medidas razoáveis e sensatas para reduzir o risco destas pessoas, como lavar as mãos, ter cuidado nos contactos com infectados, e por aí fora, com certeza, façamos esse esforço, agora tudo o que são medidas que restringem seriamente as liberdades públicas e individuais, durante tempos infindos, ou que tenham impactos económicos e sociais brutais, como fechar escolas, não fazem o menor sentido face aos valores em presença.

Pois bem, não é esse o caminho de Manuel Carmo Gomes, como sempre, quase desde o início da epidemia, Manuel Carmo Gomes acaba a falar do potencial da restrição de contactos:

“Enquanto continuarmos com incidência alta, vamos continuar a ter muitos idosos infetados. Uma pequenina proporção deles vai morrer. É inescapável. A única maneira de resolver isto era reduzir para metade, um terço, o número dos novos casos”.

Não, meu caro, em primeiro lugar não há maneira de resolver a morte de pessoas com mais de 80 anos, cheios de problemas e num estado de fragilidade física enorme.

Em segundo lugar, reduzir para metade ou um terço o número de novos casos não está na nossa mão.

Em terceiro lugar, pensar que é reduzindo contactos que se consegue essa redução de novos casos é um pressuposto por demonstrar empiricamente.

Por fim, ainda que fosse possível e eficaz, o preço que a sociedade no seu todo pagaria seria um preço muito elevado para prolongar umas semanas a vida dessas pessoas, preço esse que seria pago desproporcionadamente, como é sempre, pelos mais pobres e desamparados pela sorte.


8 comentários

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De Carlos Sousa a 30.08.2021 às 20:01

O problema não são as premissas, são as falácias. 
Quer dizer, no início as pessoas idosas não vacinadas se morressem morriam de covid.
Agora, as pessoas idosas já vacinadas se morrerem é das comorbidades.
Não será melhor deixarem de pensar que estão a falar para atrasados mentais?
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De o escrivão a 30.08.2021 às 20:34

que disparate!
vá dizer aos netos órfãos ou aos filhos dos octagenários que "já não pesam na sociedade".
estas premissas são desumanas!
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De henrique pereira dos santos a 31.08.2021 às 08:31

Vejo que apesar das minhas notas explicitamente a dizer que não estou a dizer o que me atribui, insiste em usar esse argumento.
Não sendo, portanto, falta de informação, é má-fé, e por isso não vale a pena repetir que a morte, num curto espaço de tempo, de pessoas muito velhas, com comorbilidades e em estado de extrema fragilidade é uma inevitabilidade, com ou sem covid.
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De marina a 31.08.2021 às 12:15

os orfãos e filhos de octogenário teriam de se ter trancado em casa com eles , cuidando-os e protegendo-os , desumano é  despachá-los para o lar e ficar à espera que os pobres não possam ir trabalhar e comer por causa de uma situação que diz respeito , em primeiro lugar e principalmente ,  às famílias dessas pessoas de risco. mal amadas e abandonadas entre estranhos , famílias  que tentam escapar ao sentimento de culpa atribuindo responsabilidades a quem não as tem.
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De o escrivão a 31.08.2021 às 16:57

concordo. mas mantenho simultaneamente a minha opinião.
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De Anónimo a 01.09.2021 às 14:26

A média etária das mortes por/com COVID é semelhante à esperança média de vida (+/- 81 anos). Há coisas que são inevitáveis mesmo com todo o sacrificio que tem sido imposto aos mais novos.
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De Elvimonte a 31.08.2021 às 00:20

"Entre as 16.671 pessoas que ficaram infetadas, mesmo vacinadas, houve 91 mortes, até 26 de julho. “Mas 73 eram pessoas com mais de 80 anos — algumas delas tinham 100 anos e todas elas tinham muitas comorbilidades”."



O que significa que o padrão de mortalidade não se alterou, apesar da vacinação. Porque sempre foram as pessoas com idade a rondar a esperança de vida e outras com várias comorbilidades que constituiram a esmagadora maioria das vítimas. Algo que já sabemos desde Março/Abril de 2020 através dos dados iniciais italianos, posteriormente confirmados pelos dados do CDC americano (96% das vítimas nos EUA apresentavam várias comorbilidades), pelos dados de outros países e pelos nossos próprios dados, onde apenas podemos verificar a idade e o sexo, num exercício parco com a verdade e a transparência (vd. https://covid19.min-saude.pt/ponto-de-situacao-atual-em-portugal/).


Se a citação que figura no início é da autoria de MC Gomes, parece-me tratar-se da única previsão correcta que alguma vez terá feito, inserida na categoria das previsões do tempo que fez ontem. Só não será caso para o congratular porque constata o óbvio com um atraso de um ano e continua a omitir, sabe-se lá fruto de que interesses obscuros, que o padrão de mortalidade não se alterou mesmo com duas doses vacina. 


Tal como o intelectual balofo que fez um brilhante doutoramento sobre o modelo económico de Marte e, enquanto ministro das finanças, o aplicou à Terra tendo chegado à conclusão que a realidade terrena estava errada, presumo que MC Gomes e quejandos futuramente nos irão dizer que as pessoas continuam a morrer porque ainda só têm duas doses, três doses ... n doses da vacina, ficando sempre reservada para previsões futuras a enésima-mais-uma doses que tornarão as pessoas com idade a rondar a esperança de vida e várias comorbilidades imortais. 



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De balio a 31.08.2021 às 14:32


Não tem que ver com o post, mas aqui vai:


O Henrique P.S. diz que gosta de comer cabrito. Pois sugiro-lhe um local em Lisboa onde o pode comer quase diariamente, a baixo preço. É um "snack bar nepalês" que fica a meio da Rua de Arroios. Pode lá comer quase todos os dias, ao almoço, um caril de cabrito, acompanhado de vegetais cozidos e/ou frescos, um prato muito completo em termos nutricionais, por uns meros cinco euros.


A dona (e cozinheira) explicou-me que cabrito é uma carne especialmente apreciada pelos nepaleses, os quais, no entanto, no país deles raramente dispõem de suficiente dinheiro para pagar a iguaria; então, em vindo para Portugal, vingam-se comendo à fartazana.

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