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Não percebo grande coisa de futebol jogado. Mas interessa-me o futebol como fenómeno social — um verdadeiro laboratório de comportamentos, emoções e estratégias coletivas.
Uma das formas mais eficazes de gerar unidade num grupo, organização ou país é a criação de um inimigo externo. Quando todos se concentram numa ameaça comum, as divisões internas tendem a ser temporariamente ultrapassadas ou esquecidas.
A História está repleta de exemplos. Quando a ditadura militar argentina enfrentava forte contestação interna, optou por invadir as Ilhas Malvinas. O gesto teve o efeito imediato de mobilizar grande parte da opinião pública em torno da "causa nacional".
Anos mais tarde, num contexto completamente distinto, Vladimir Putin, perante a estagnação económica e a erosão da sua popularidade, lançou a ofensiva sobre a Ucrânia — reativando o sentimento de unidade nacional através da perceção de ameaça externa.
Mesmo em democracias consolidadas, a lógica repete-se. Quando António Costa assumiu o cargo de primeiro-ministro com uma legitimidade diminuída por ter perdido as eleições, não tardou a ganhar força política ao confrontar, numa cimeira europeia, um responsável da Holanda — país símbolo da austeridade do Norte —, apresentando-se como defensor da honra e dos interesses portugueses. O efeito simbólico foi imediato.
Algo semelhante parece ocorrer, agora, no universo do Benfica. Em ano de eleições, a intensificação do discurso contra inimigos externos — árbitros, conselhos disciplinares, estruturas do futebol — poderá servir como forma de reforçar a coesão interna e desviar a atenção de fragilidades e frustrações acumuladas.
Naturalmente, não discuto aqui se o clube tem ou não razão nas queixas que apresenta. Não tenho conhecimentos suficientes para isso. O ponto que procuro sublinhar é outro: a utilização do inimigo externo como instrumento simbólico de reforço da liderança em momentos de tensão ou fragilidade interna. Uma técnica recorrente, tanto na política como no futebol — onde, aliás, o tribalismo torna este recurso ainda mais eficaz e acessível.
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