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Como unir um grupo? Inventar um inimigo.

por Miguel A. Baptista, em 30.05.25

Não percebo grande coisa de futebol jogado. Mas interessa-me o futebol como fenómeno social — um verdadeiro laboratório de comportamentos, emoções e estratégias coletivas.

Uma das formas mais eficazes de gerar unidade num grupo, organização ou país é a criação de um inimigo externo. Quando todos se concentram numa ameaça comum, as divisões internas tendem a ser temporariamente ultrapassadas ou esquecidas.

A História está repleta de exemplos. Quando a ditadura militar argentina enfrentava forte contestação interna, optou por invadir as Ilhas Malvinas. O gesto teve o efeito imediato de mobilizar grande parte da opinião pública em torno da "causa nacional".
Anos mais tarde, num contexto completamente distinto, Vladimir Putin, perante a estagnação económica e a erosão da sua popularidade, lançou a ofensiva sobre a Ucrânia — reativando o sentimento de unidade nacional através da perceção de ameaça externa.

Mesmo em democracias consolidadas, a lógica repete-se. Quando António Costa assumiu o cargo de primeiro-ministro com uma legitimidade diminuída por ter perdido as eleições, não tardou a ganhar força política ao confrontar, numa cimeira europeia, um responsável da Holanda — país símbolo da austeridade do Norte —, apresentando-se como defensor da honra e dos interesses portugueses. O efeito simbólico foi imediato.

Algo semelhante parece ocorrer, agora, no universo do Benfica. Em ano de eleições, a intensificação do discurso contra inimigos externos — árbitros, conselhos disciplinares, estruturas do futebol — poderá servir como forma de reforçar a coesão interna e desviar a atenção de fragilidades e frustrações acumuladas.

Naturalmente, não discuto aqui se o clube tem ou não razão nas queixas que apresenta. Não tenho conhecimentos suficientes para isso. O ponto que procuro sublinhar é outro: a utilização do inimigo externo como instrumento simbólico de reforço da liderança em momentos de tensão ou fragilidade interna. Uma técnica recorrente, tanto na política como no futebol — onde, aliás, o tribalismo torna este recurso ainda mais eficaz e acessível.


4 comentários

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De cela.e.sela a 31.05.2025 às 11:38

'a culpa é sempre do outro'.
se o juiz de linha e os árbitros tivessem a coragem de assinalar a falta nada disto acontecia. há muita cobardia e não só
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De Francisco Almeida a 31.05.2025 às 16:16

E essa lógica que configura o maior perigo para o mundo de hoje. O colapso do modelo económico chinês, baseado em exportações e consumo interno, parece inevitável pela crise demográfica e a política da administração Trump. A saída mais evidente, será então Taiwan. Se a China invadir Taiwan, mesmo que Japão e EUA não reajam o que será quase impossível, provocará consequências na economia que farão a invasão da Ucrânia, parecer um incidente menor.
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De Silva a 02.06.2025 às 13:08

"Anos mais tarde, num contexto completamente distinto, Vladimir Putin, perante a estagnação económica e a erosão da sua popularidade, lançou a ofensiva sobre a Ucrânia — reativando o sentimento de unidade nacional através da PERCEPÇÃO de ameaça externa."


A ofensiva militar sobre a Ucrânia começou em 2014, depois de Moscovo perder o controlo sobre o governo ucraniano (Maidan). Não foi em 2022. Não havia nenhuma estagnação económica significativa. Os russos nunca tiveram tanto dinheiro obtido através das vendas de petróleo e gás natural e a população russa tinha tudo o que qualquer país ocidental tem ao nível de consumo, pois tinham dinheiro para importar.
Obviamente nem Putin nem o regime russo dependem da popularidade, embora façam muita propaganda interna para o controlo da narrativa.
A estagnação económica começou após sanções posteriores à "operação militar especial" de 2022. Os russos têm de voltar a apertar o cinto.
O objectivo de Putin é controlar e dominar o Mundo e a Ucrânia está mesmo ali ao lado.


Em relação ao futebol, apenas posso dizer que o futebol foi assassinado há una anos atrás (não sei precisar a data exacta) e que os que assistem e pagam para ver os jogos estão completamente fora da realidade, para não dizer completamente loucos.
Eu ainda sigo alguma coisa, mas para tentar perceber para onde é direccionada a manipulação e os seus impactos resultantes.



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De Marques Aarão a 07.06.2025 às 17:24

O lado sinistro da questão reside num golo do adversário nos últimos momentos de um jogo que roubou a taça ao Benfica.   

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