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Um dia destes, um dos mais ouvidos especialistas nesta epidemia - trata-se de uma especialização especial, há especialistas em epidemias, que há anos que se dedicam ao estudo e gestão de epidemias e há os especialistas nesta epidemia, que nunca tinham estudado nenhuma antes mas são especialistas nesta - perguntava se alguém lhe explicava onde estava a sazonalidade quando a Índia estava a braços com um aumento de casos com 40º de temperatura.
Não vale muito a pena explicar que à medida que se sobe em latitude as diferenças do foto-período são mais acentuadas ao longo do ano e portanto as estações do ano mais marcadas pela resposta do mundo natural a essas variações.
As plantas não abrolham porque faz frio ou calor, abrolham porque o tempo de luz disponível é o adequado, fazer frio ou calor apenas adianta ou atrasa uns dias o abrolhamento. Se houver uma semana muito fria em Agosto as plantas de folha caduca não perdem a folha, da mesma forma que não abrolham a meio de uma semana de temperaturas altas em Dezembro.
É por isso que num mundo temperado nós distinguimos a Primavera, do Verão, do Outono e do Inverno, e existem muitas árvores de folha caduca, mas no mundo mais próximo do equador as estações dividem-se entre as estações das chuvas e estações secas e são mais raras as espécies de folha caduca.
E distinguimos ainda os climas pela diferente combinação entre estes elementos. Por exemplo, o clima mediterrânico, sendo temperado e com quatro estações bem definidas, distingue-se pelo facto da estação quente coincidir com a estação seca.
O que em lado nenhum se faz é caracterizar ambientes externos exclusivamente a partir da temperatura, muito menos a partir da temperatura num determinado momento.
Também não vale a pena explicar que a Índia é enorme e dizer que a Índia está com temperaturas de 40º é uma tolice: com certeza haverá vastíssimas áreas da Índia que não estão a 40º e seria preciso ver se os sítios onde está a haver surtos são os mesmo onde está a haver temperaturas de 40º para, ao menos, formular uma hipótese minimanente consistente.
Repare-se como a conversa das ondas é uma tontice quando avaliadas por país e não por regiões, com o exemplo da Alemanha que teve uma onda perto do Natal e agora está a braços com outra, na opinião dos tais especialistas que evitam olhar para distribuições geográficas pormenorizadas de incidência.
Sem surpresa, as duas ondas são na Alemanha, mas não são no mesmo sítio, como seria de esperar.
Perguntar onde está a sazonalidade na Europa temperada com base no facto de haver surtos com 40º de temperatura noutro lado qualquer - depois de ter escrito um artigo sobre o mito do Natal, em vez de receber contestações aos argumentos usados o normal era perguntarem-me como era possível ter razão se em Manaus estava calor e havia um surto - é uma demonstração de incompreensão total sobre o que se está a passar, para além de ser uma demonstração de desconhecimento da bibliografia básica sobre sazonalidade das doenças infecciosas respiratórias. A sazonalidade das regiões temperadas está razoavelmente bem estudada, até por ser bem marcada, mas a sazonalidade das regiões tropicais está muito menos compreendida, parecendo relacionar-se mais com a humidade que noutras regiões (o que é coerente com o facto de ser esse o factor principal de distinção das estações no ano nessas latitudes).
Olhar para estes gráficos e não ver sazonalidade, já não é ignorância, é cegueira mesmo.
E é com base nesta cegueira evidente que se andam a propôr medidas de controlo de terceiros, não admirando por isso que do processo resultem coisas tão estúpidas como fechar parques infantis ou determinar o fecho de restaurantes à uma da tarde de Sábados e Domingos.
É a vida, "cá se vai andando, com a cabeça entre as orelhas".
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