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Eu sei que classificar declarações de alguém como sintoma de cobardia e irresponsabilidade é bastante agressivo.
Sei também que fazê-lo a propósito de umas declarações de um militar em funções, é ainda mais agressivo para esse militar.
Ainda assim, acho que vale a pena fazê-lo porque estou farto de paninhos quentes nesta matéria, entre outras razões, porque esses paninhos quentes têm consequências muito graves para vida de muita gente.
"Sei que a GNR e a Polícia Judiciária têm desenvolvido um conjunto de medidas de incremento nas suas áreas de investigação, de forma que haja um detetar e, se possível, apanhar as pessoas que ao longo destes dias têm estado a meter fogo ... A única coisa que a nós nos espanta é três reativações simultâneas, ao mesmo tempo, e com uma violência muito grande, num incêndio que há dois dias estava como dominado. Deixa-nos expectantes, relativamente àquilo que possa ser o resultado dessas investigações".
O Senhor Presidente da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil, pelos vistos, não se inibe de afirmar, preto no branco, que pela serra da Estrela andam uns incendiários a jogar às escondidas com um dispositivo de mais de mil e quinhentas pessoas para pôr fogo onde ele já existe.
Mais grave que isto, só a quantidade de jornalistas que ouvem isto e não perguntam como raio e com que objectivo uns incendiários tão sofisticados que se conseguem furtar a um dispositivo de mais de mil e quinhentos homens, andam a "meter fogo" naqueles locais.
Pessoas sensatas e sem responsabilidades no assunto dizem coisas que é impossível o Senhor Presidente da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil não saber: " numa área ardida com esta extensão, aparecerem dois, três ou mais pontos quentes ativos depois de um aumento da intensidade do vento é mais do que normal. Levantar suspeições deste género quando às 8h da manhã já o SEVIRIS registava dois pontos quentes, que foram aumentando em número e no valor da potência radiativa medida ... Uma hora antes da "oficialização" da reativação (depois das 17h), já havia medições acima dos 800 MW".
Pessoas conhecedoras e sem responsabilidades no assunto dizem coisas que é impossível o Senhor Presidente da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil não saber: "Felizmente que existe o IPMA (entre outras fontes) para esclarecer as dúvidas do cidadão preocupado e eventualmente contaminado por teorias conspiratórias. As primeiras reativações do novo fôlego do incêndio da serra da Estrela, e que já terá acrescentado mais de 8000 ha à contabilidade anterior (este texto foi publicado por volta das cinco da manhã do dia 16 de Agostoe motiva quase de imediato um comentário irónico: "O super herói dos incendiários consegue passar despercebido em todo o dispositivo montado neste incêndio e meter 3 ignições junto ao queimado, dois no Vale da Amoreira e outro a sul de Videmonte." ), deram-se de manhã cedo (a norte) e à hora do almoço (Vale de Amoreiras). As horas reais terão sido mais cedo, já que um certo limiar de energia tem que ser alcançado para serem detectáveis pelo satélite".
Pessoas sem responsabilidades no assunto, contam histórias (que, evidentemente, não tenho maneira de validar e portanto reproduzo a partir da minha intuição de que, no essencial, retratam bem a situação, mas com a ressalva de que não tenho maneira de verificar cada facto referido) que é possível que o Senhor Presidente da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil não saiba, mas cuja responsabilidade de não saber é sua (um militar, brigadeiro general, que se esquece de que quando se perde uma guerra, a responsabilidade é sempre dos generais, nunca dos soldados, é um militar que eu não gostaria de ter como meu comandante): "... eu estive lá. ... Exatamente no setor onde ocorreram as reativações, mas durante as operações de rescaldo e consolidação efetuadas na véspera. E o que vi foi que a validação dos processos não estava a ser efetuada de forma rigorosa. Os segmentos de criação de linhas de segurança efetuados por pessoal apeado não estavam ser executados de acordo com os protocolos de rescaldo estatuídos. Pior, o Comandante de Setor "correu" dali para fora quem "de amarelo" procedia a essas operações, de acordo com as regras, como se de "virus se tratasse". ... As rendições das equipas e brigadas em vigilância não estavam a ser feitas nos segmentos do setor à sua guarda NOS LOCAIS, com passagem de informação de pontos sensíveis ... dando CONSISTÊNCIA E CONTINUIDADE aos trabalhos. Assim, quem estava no terreno saiu e quem chegou começou tudo de novo ... Sobre o facto de ser "estranho" se terem verificado TRÊS reativações em simultâneo, nada de especial se verifica. Durante todo o tempo em que estive na Serra, em rescaldos, patrulhamento e vigilância, fiz monitorização meteorológica em tempo real, digital, e percebi, que sucessivamente, a evolução dos principais fatores no sentido do agravamento determinava mais que uma reativação, mais que duas e mais que três, em pontos distantes, e com exposições muito diferentes, a norte, a este, oeste ou sul, e em altitudes diversas, (até aos 1220 metros) quer nos limites dos trabalhos executados por máquinas de rastos, quer no interface queimado/verde, como dentro da área queimada em ILHAS. Parece-me óbvio que os fatores meteorológicos que espevitaram as lacunas na consolidação, ao ponto de reativar o incêndio, nunca se verificariam num único local já que se fizeram sentir na globalidade da área atingida ...".
O que está em causa não é pendurar num pelourinho este ou aquele responsável por decisões, eventualmente erradas e tomadas sob pressão, o que está em causa é que o responsável máximo pelo nosso sistema de protecção civil, perante uma situação que manifestamente correu mal - e há razões para correr mal que estão fora da nossa capacidade de controlo, como as alterações de condições meteorológicas - prefere inventar teorias de conspiração em vez de partir da hipótese mais plausível e razoável, só porque esta última tem componentes que poderão responsabilizar a organização que comanda: os eventuais erros na consolidação e rescaldo do incêndio, ou os eventuais procedimentos que, podendo não ser classificados como erros, têm uma larga margem de progressão que permita fazer melhor na vez seguinte.
A palermice de sacar das suspeições de fogo posto nas reactivações do incêndio é isso mesmo, uma palermice, quando dita por quase todos os portugueses.
Dita pelo Senhor Presidente da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil, não é uma palermice, é cobardia e irresponsabilidade.
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