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Clima global e economia global

por henrique pereira dos santos, em 16.05.23

Para mim, se não tivesse havido mais nenhum interesse em ouvir Stephen Pyne, bastaria o pequeno bocadinho em que fala da maior importância da evolução da economia global que da evolução do clima global na degradação da nossa relação com o fogo.

Não deve ser só para mim, que Tiago Oliveira repete a ideia ontem na RTP3 (numa excelente entrevista aí pelas dez e meia da noite). E hoje de manhã na SIC Notícias, pelas 8 e 40 da manhã, quando a jornalista contristada fala do grande número de fogos em Portugal entre Janeiro e Abril, Tiago Oliveira não está com rodeios e diz taxativamente: foi óptimo, e se em vez de dois mil fogos fossem quatro mil, era óptimo na mesma.

Chegou agora às livrarias, em Português, Piroceno, de Stephen Pyne, cuja leitura recomendo, mesmo antes de eu ter lido (conheço o livro, não o li, mas já li vários comentários sobre ele e ouvi a apresentação que dele fez o próprio Stephen Pyne).

Uma das grandes virtudes de Stephen Pyne é falar do fogo a partir de uma perspectiva das humanidades, como ele próprio disse, apresenta metáforas em vez de modelos matemático e resultados de laboratório, o que, digo eu, lhe permite chegar ao público não especializado na matéria.

E agora entro no jornalismo.

Para além de fogachos informativos - Stephen Pyne, Tiago Oliveira, José Miguel Cardoso Pereira, Paulo Fernandes, Carlos Câmara, Nuno Guiomar, António Salgueiro se o convencerem a falar para as televisões, o que é raro, e mais meia dúzia, se tanto - o essencial da forma como o jornalismo trata o fogo é bem ilustrado pelo facto de andarem há dois dias à volta do magno problema (acham eles, eu acho óptimo, é dinheiro que se poupa) de faltarem não sei quantos meios aéreos para chegar ao número previsto para este ano.

E falarem do drama dos dois mil fogos nos primeiros quatro meses no ano, ou o problema do fogo de Primavera da serra da Estrela (que a repórter no local já sabia ser fogo posto porque o presidente de câmara disse que era), ou a mão criminosa, ou os eucaliptos, enfim, o que quiserem.

Bastava levarem a sério a ideia de que deveriam estar a olhar para a economia global, e deixarem de justificar tudo com o clima global para o resultado global do trabalho de jornalismo sobre fogos fosse muito melhor.

O fogo tem uma parceria de promoção mútua connosco há milhares de anos, mas alguém traiu a confiança que fundamentava essa relação e, aparentemente, não foi o fogo.

O problema é que restabelecer confiança é muito mais difícil que destrui-la e ainda vai levar muitos anos a estabilizar as consequências do divórcio litigioso que provocámos.


2 comentários

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De balio a 16.05.2023 às 14:52


eu acho óptimo, é dinheiro que se poupa


Não me parece correto. Poupar-se-ia dinheiro, sem dúvida, se não se procurasse apagar todo e qualquer fogo que surja. Porém, os meios aéreos não me parecem dispensáveis quando, no verão, há fogos verdadeiramente perigosos.

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