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Chega

por henrique pereira dos santos, em 28.12.23

Para quem, como eu, entende que o resultado prioritário das próximas eleições é afastar o PS da esfera do poder (concordando com Eça de Queiroz que entendia que as fraldas e os governos devem ser mudados periodicamente, e pelas mesmas razões) poder-se-ia pensar que acho o voto no Chega uma das vias possíveis para obter esse resultado.

Não é tal.

O Chega e o PS têm um objectivo comum, embora por razões diferentes: reduzir o PSD à menor expressão possível.

O PS, que só tem inimigos, e nunca adversários, pretende ocupar o poder e para isso considera que reduzir o PSD ao mínimo possível é a forma mais fácil de o fazer. Daí o seu sistemático apoio ao Chega, nomeadamente através da actuação de Santos Silva na AR, que foi criando incidentes artificiais para realçar a diferença entre o Chega e os outros, como forma de fixar o voto de protesto no Chega.

O Chega pretende substituir o PSD como partido dominante da direita, e com sondagens que lhes atribuem uns 10% de diferença de votos, haverá muito no Chega quem pense que basta erodir um bocadinho mais o apoio ao PSD para que tenham votações equivalentes em torno dos 20% e, por isso, nunca até hoje admitiu que viabilizaria um governo minoritário do PSD, se esse fosse o preço a pagar pelo afastamento do PS, independentemente de quaisquer conversas com outros partidos.

Pelo contrário, o Chega reafirma sistematicamente que ou estará no governo, ou na direita ninguém pode contar com o Chega, que é exactamente o interesse comum que tem com o PS.

Deste ponto de vista, as próximas eleições correrão muito bem para o Chega se subir bastante a sua votação (que é o mais provável, embora eu tenha dúvidas de que tenha a expressão elelitoral que as sondagens indicam neste momento, admito, sem grande base, que a grande percentagem de indecisos não é constituída por eleitores potenciais do Chega) e se das eleições resultar um quadro parlamentar instável em que, quer um governo do PS, quer um governo do PSD, dependam da abstenção do Chega (ou da repetição de eleições por ninguém conseguir formar governo que não seja imediatamente sujeito a uma moção de censura).

Isso permite-lhe capitalizar o protesto que esse governo gera (como qualquer governo, e por maioria de razão, numa altura em que o contexto económico parece vir a ser difícil) e o melhor mesmo era um novo governo do PS com a consequente instabilidade quer no PSD, quer na IL (embora a IL seja mais ou menos indiferente para o Chega).

O Chega preparar-se-ia para as eleições seguintes, cujo momento seria escolhido pelo Chega, se deitasse abaixo o Governo, ou mais tarde, mas obrigando o PSD a abster-se em moções de censura do Governo, o que entregaria ao Chega a taça da verdadeira oposição.

Nas eleições seguintes o Chega teria fortes possibilidade de ter mais um voto que o PSD, cumprindo o seu objectivo de longo prazo.

Votar no Chega não é votar contra o PS, pelo contrário, é votar na situação, tal como ela está e com as tendências que se estão a verificar, não apenas em Portugal, de relativa erosão dos moderados e progressiva afirmação dos radicais.

Resumindo, para votar na saída do poder do PS sobra o voto na AD ou na Iniciativa Liberal.

Votar no Chega é apenas votar na sua estratégia de hegemonia da direita, para a qual o PS no governo é do maior interesse do Chega.


29 comentários

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De Jorge a 28.12.2023 às 11:26

Hegemonia da direita via uma coligação de maioria absoluta é a unica forma de afastar o PS do governo. Caso contrário a direita nunca mais governará em Portugal.  Aliás os dirigentes socialistas não o escondem de ninguém. 
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De balio a 28.12.2023 às 11:36


erosionar


erodir
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De Anonimo a 28.12.2023 às 11:57


Pensaria que o voto no Chega seria mau, pois seria legitimar um bando de malucos, num ajuntamento em forma de partido unipessoal de um indivíduo que se diz anti-sistema, embora, qual Trump, sempre estivesse a ele acoplado, e quer limpeza moral e ética, mas aperta o bacalhau ao Arguido Vieira.
Afinal tudo se rediz ao voto útil.
Tirar o PS do Poder (parlamentar, que o há outro) é essencial, mas para tal avalizar uns quantos incompetentes, só na lógica do tiririca... pois.
Venha o branco (o tinto fica no garrafão).
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De IMPRONUNCIÁVEL a 28.12.2023 às 12:03

O problema é o PSD não ter nada para oferecer aos eleitores-votantes melhor do que o Chega e o PS.
O PSD é só velhos e velhas jarretas fora-de-prazo, e uma liderança sem carisma. Que não oferece qualquer confiança aos 70% de toda a mão-de-obra activa que ganha em Portugal menos de 1000 euros mensais.


Nem com um aumento de 500 euros mensais a todos esses milhões de eleitores-votantes eles conseguiam obter uma casa, pôr os filhos a estudar numa universidade, ter melhores cuidados de saúde do que a ADSE lhes dá (não há filas, e podem ir ao privado ou ao público que não pagam mais do que 5€) e ter uma vida digna. 


Algum desses milhões de eleitores-votantes não acredita que com o PSD iriam ter mais rendimentos do que com o PS ou Chega. Só acredita nisso que é palerma ou aldrabão.
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De urinator a 28.12.2023 às 12:04

dizem que numa entrevista o santos 2ª figura fez 'figura d'urso'. nunca ouço figurinhas políticas com 'muito esperto nas cabecinhas'.
ganha sempre 'a Abstenção', o meu partido, mas nunca forma governo.
este foi mais um desgoverno 'que deu à costa' porque ' Naufragou junto à costa' ou faliu porque estava 'de costas voltadas' para o país.
2024 será totalmente imprevisível a nível mundial. os barbichas ponham as barbas de molho
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De Carlos Sousa a 28.12.2023 às 12:20

"...o resultado prioritário das próximas eleições é afastar o PS da esfera do poder..."


Com a linguagem de taberna do Montenegro mais as peixeiradas do Ventura podem contar com mais uns aninhos afastados da esfera do poder.
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De João Brandão a 28.12.2023 às 12:36

"... de relativa erosão dos moderados e progressiva afirmação dos radicais."

O que será um radical? 
Será um indivíduo de extrema direita?
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De lucklucky a 28.12.2023 às 13:15

É penoso ler este texto, pelo menos não insultou tanto a inteligência dos leitores como textos similares do Observador  O que é que alguém da direita ganha em votar no PSD? 
O PSD tem alguma ideia de direita para o país? vai defender alguma coisa de direita quando foge com medo das opiniões da esquerda?  Ou seja, bastará um "protesto" de "activistas" e um editorial critico para recuar logo, tal como o governo Durão prometeu cortes de impostos e privatização parcial da RTP e acabou por criar mais um canal da RTP e aumentar impostos? 
E vamos falar desse salvador do Socialismo Passos Coelho...
Quanto à IL é uma espécie de PSD que quer impostos mais baixos e apoia o Bloco de esquerda desde o aborto - ou seja anti liberal -   seria o meu voto natural mas a IL como demonstrou no COVID, na lei da censura e até recente com Milei não é Liberal. é um partido do sistema que  foge das opiniões da esquerda.  A única resistência é o Chega que ganha por ter pelo menos a coragem de discutir coisas que outros não falam, isso vale mais do que  mero protesto. infelizmente não tem capacidade para mais e apoia como os outros este regime de compra de votos.
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De JPT a 29.12.2023 às 11:12

O Chega é o quê? Sem pôr em causa a indiscutível inteligência e capacidade retórica do Dr. Ventura, afinada no tempo em que era avençado do "Khadaffi do Pneus", ele defende o quê? Tirando sobre uns assuntos de paragem de autocarro, qual a posição do Chega sobre os problemas do país? A corrupção? Só se for porque não beneficia dela. O colapso do estado social? As suas "propostas" apenas o agravariam. Não nego ao Chega o mérito de ter verbalizado a justa irritação das pessoas e, em especial, de ter trazido para o discurso público vários assuntos interditos - mas fá-lo de forma folclórica e superficial. Até a malta da extrema-esquerda, depois de a pimenta lhe ter chegado ao rabo, foi mais clara a verbalizar o escândalo das lojas-fantasma dos traficantes de pessoas sul-asiáticos (ler a entrevista da Catarina Portas  ao Público). Tirando isso, o Chega está para o PS, como o Hamas está para o Likud: é o seu melhor aliado e a sua garantia de se manter no poder, e por isso mesmo o esforço insano do PS e respectivos empregados nos media em promover o Chega. Concordo que é penoso ver a Iniciativa Liberal apoiar as "causas fracturantes" - e, muito mais grave do que isso, o financiamento dessas "causas" (ver, a esse título, os excelentes artigos da Margarida Bentes Penedo no Observador), bem como a sua ridícula posição face ao Chega (tão ridícula que não a levo a sério, tal como não levo a sério os protestos do Dr. Montenegro a esse respeito) mas tem ideias diferentes e em que acredita, tem quadros qualificados e que se dedicaram à política por convicção, ou seja, longe de serem perfeitos, são, para um conservador liberal (já sei, é uma contradição em termos), a única alternativa racional ao estado de miséria ética e suicídio assistido económico a que isto chegou.
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De Anónimo a 29.12.2023 às 12:30

A beleza da democracia e exatamente esta, qualquer pseudo "cowboy" mentecapto e ja mais do que morto e enterrado, pode ter, escrever e declarar publicamente, a quantidade de ninhos de ratos que tem dentro da caixa craniana.
Tudo isto sem ser abatido via "anti-aerea" em sistema Coreia do Norte.
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De Antonio Maria Lamas a 28.12.2023 às 14:05

Obrigado ao Henrique, por este artigo, dando voz aqueles como eu, pensa exactamente o mesmo 
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De Albino Manuel a 28.12.2023 às 14:23

Um comentário heterodoxo sobre Santos Silva: bem sei que é detestado à direita desde "o que eu gosto é de malhar na direita". Porém, é uma ilusão. O homem é um conservador, próximo de conservadores, que acima de tudo abomina os seus antigos correligionários de esquerda e extrema-esquerda. É só ver o seu percurso enquanto ministro. É, no fundo, o nosso maior Conde Gouvarinho. Muito sucintamente, com muita generosidade, a nação deve-lhe zero.


Sabe Deus porquê, meteu-se-lhe na cabeça que podia ser candidato a PR. Alguém lhe devia ter explicado que para lá chegar é preciso passar pelo voto. Estou no entanto convencido que ele próprio está ciente dessa impossibilidade: a ideia seria mais paroquial, ter fama como candidato presidencial nos cafés do Porto.


O Chega deu-lhe muito jeito mas não chegou. Sorte a dos seus alunos lá em cima. Vão ter uma última oportunidade de alumiarem o espírito com a sua ciência. 


Bem vistas as coisas, temos o que temos porque somos como somos.
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De Francisco Almeida a 29.12.2023 às 14:31

Há dois cenários possíveis para ver ASS na presidência sem passar pelo voto.
1º Marcelo tem uma doença grave ou fatal;
2º O PS repete a maioria e Marcelo desiste face à perspectiva de passar mais dois anos de irrelevância política.
São improváveis, eu sei, mas não impossíveis.

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