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Carneirada

por henrique pereira dos santos, em 04.04.20

Lembram-se da justificação para as medidas radicais de contenção?

A questão central era que era fundamental garantir que o pico da epidemia não ultrapassava a capacidade de encaixe dos serviços de saúde.

Independentemente da discussão sobre os modelos que deram origem a números completamente irrealistas de mortos se não aceitássemos todos o suicídio económico que nos garantiam ser a única solução, já na altura houve quem (eu, por exemplo, mas evidentemente sustentado em quem sabia mais que eu) questionasse o pressuposto de que a capacidade de encaixe dos serviços de saúde era uma grandeza fixa.

Fascinados com as maravilhas de eficácia da ditadura chinesa, achámos que só os chineses conseguiam fazer hospitais em quinze dias, portanto não valia a pena pensar na hipótese de aumentar a capacidade de encaixe dos serviços de saúde, uma operação com custos económicos muito modestos, face ao custo económico estratosférico das medidas que nos venderam como as únicas disponíveis para obter o mesmo efeito.

Mesmo países como Portugal, com as finanças nas lonas e um serviço de saúde no osso em consequência das maravilhosas políticas públicas dos últimos sete anos de vacas gordas, rapidamente duplicaram, triplicaram, quadriplicaram a capacidade de encaixe dos seus serviços de saúde (nota lateral: boa parte deste resultado foi obtido à custa do esforço real dos profissionais de saúde, não foi só o Estado, foram também as pessoas comuns, as empresas e, sobretudo, os profissionais de saúde, que foram capazes de chegar ao ponto muito mais confortável em que estamos).

O exército espanhol, por exemplo, montou um hospital de campanha em 48 horas.

E, em quinze dias, o Reino Unido criou a maior unidade de cuidados intensivos do mundo, com quinhentas camas imediatas, que podem aumentar até quatro ou cinco mil.

A covid, pelas suas características clínicas, cria pressões adicionais sobre os serviços de saúde, e as opções administrativas e de gestão da doença e morte associadas criam ainda mais pressões.

Só que problemas de gestão de serviços de saúde resolvem-se gerindo adequadamente serviços de saúde, não se resolvem criando contextos económicos que, durante bastante tempo, vão estrangular toda a economia e, consequentemente, estrangular também o investimento futuro nos serviços de saúde.

Os modelos matemáticos que foram usados para criar o medo na opinião pública, que foram usados para esmagar moralmente as dúvidas que legitimamente se colocavam aos cenários catastróficos desenhados, obrigaram os governos a tomar decisões irracionais e estão, provavelmente, intrinsecamente errados.

Em cima disso, basearam-se na descrença na capacidade das democracias ocidentais serem tão eficazes como a ditadura chinesa na adaptação imediata dos seus serviços de saúde às novas circunstâncias.

Que isso nos sirva de lição para a epidemia seguinte, e que nos sirva para, o mais rapidamente possível, refazer os modelos, introduzindo as novas capacidades dos serviços de saúde na equação, de modo a permitir-nos sair rapidamente do atoleiro em que nos metemos voluntariamente, é o que espero.


34 comentários

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De Eremita a 06.04.2020 às 19:30

Se calhar foi uma alucinação, mas por momentos vi aqui uma resposta sua (creio que entretanto apagada) em que me respondia usando o número de mortos de Portugal, quando a discussão era sobre a Itália. Não sei se anda a dormir pouco ou em demasiadas discussões paralelas, mas a sua sucessão de lapsos, omissões, precipitações e respostas atabalhoadas é notável. 
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De Eremita a 06.04.2020 às 19:34

Ah,  não era mesmo alucinação. Henrique, veja se dorme bem esta noite e responda amanhã com os números certos. 
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De henrique pereira dos santos a 06.04.2020 às 21:56


Tem razão não reparei que estava a falar de Itália. Pega num número de 15 mil, soma-lhe arbitrariamente 12 mil e conclui que é semelhante ao pico de um ano de gripe forte.
Exactamente o que estou a dizer desde o princípio: este surto ficará, na pior das hipóteses, ao nível de um surto forte de gripe.
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De Eremita a 06.04.2020 às 22:49

O Henrique tem uma tendência forte para não reparar nas coisas, sobretudo aquelas que o seu ego gigantesco oculta.

Não somo nada "arbitrariamente".A primeira parcela é uma estimativa do número de mortes de pessoas que terão morrido de COVID-19 em casa e não aparecem nas estimativas. A segunda parcela reflecte a parte da direita da distribuição. Na sua cabeça as pessoas deixaram de morrer em Itália uma vez passado o pico, mas só ontem houve 525 mortos. Nos últimos três dias foram 1972. O surto ainda não acabou, sabia?


A sua arrogância não lhe permite ver a circularidade do seu raciocínio? É assim tão difícil? Que raio, isto não é propriamente mecânica quântica ou uma passagem obscura de Hegel. Quando se cansar de se aplaudir por aquilo que anda a dizer desde o princípio, considere a possibilidade de que os números serão parecidos aos de um surto forte de gripe* apenas porque foram tomadas medidas de confinamento social  de uma intensidade sem precedentes nas nossas vidas. Na ausência destas medidas, quantos mortos teríamos tido? Esta é a única questão relevante, não as comparações tontas com a gripe que o deixam tão inchado. 


* De resto, faça as continhas para a Espanha e verá que a sua comparação falha.

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