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Têm sido muito raras as minhas divergências com Carlos Guimarães Pinto (mais raras que as divergências com a Iniciativa Liberal), sendo a principal das quais o peso que Crlos Guimarães Pinto atribui à corrupção enquanto fenómeno político (eu acho que é sobretudo uma questão social cuja resposta não está em ter políticas anti-corrupção mas em melhorar as instituições de modo a diminuir o número de oportunidades para decisões administrativas com valor de mercado).
Também já aqui escrevi sobre a minha ambivalência sobre a decisão da Iniciativa Liberal apresentar uma candidatura autónoma em Lisboa, até porque Moedas me parece ser (mas o que conta num político é mesmo o que decide, não o que pensa ou diz pensar) razoavelmente liberal.
Enganei-me na leitura política das eleições, achando que Moedas não tinha hipótese de ganhar, votei na Iniciativa Liberal, e se Moedas não tivesse ganho não seria responsabilidade da Iniciativa Liberal: um partido serve para levar as suas ideias avante, e não para fazer terceiros ganhar ou perder eleições, quem tem responsabilidade de ganhar ou perder eleições é quem concorre.
Neste caso Moedas ganhou, a Iniciativa Liberal perdeu, porque não conseguiu eleger um vereador, mas está muito longe de estar demonstrada a hipótese de que os 10 mil votos da IL iriam para Moedas se a IL estivesse na coligação (os quatro mil votos a mais da IL para a Assembleia Municipal demonstram bem que ninguém é dono dos votos dos eleitores).
E, como acontece frequentemente, Carlos Guimarães Pinto explica bem o essencial desta questão:
"Um pedido de desculpas a Moedas
Tenho recebido várias mensagens mais ou menos agressivas de pessoas de que gosto sobre o erro que foi a IL não apoiar Moedas em Lisboa. Como é evidente, não fui eu que tomei a decisão, nem sequer fui consultado (nem tinha que ser) pelo que não responderei por ela nem me cabe defendê-la. No entanto aceito que não tenha sido uma decisão fácil, apesar das análises em retrospectiva fazerem parecer que era.
Mas a IL tem que fazer política de forma diferente, pelo que assumir os erros e pedir desculpa aos seus eleitores por eles deve ser parte da sua forma de fazer política. A IL pode e deve pedir desculpas por não ter apoiado Moedas, mas não já. Porque o objetivo da política não é ganhar eleições. Ganhar eleições é apenas um meio para mudar políticas. Portanto a IL deve pedir desculpas por não ter apoiado Moedas se:
- O executivo Moedas reverter a vergonhosa lei lançada por Medina logo após as eleições de 2017 que criou centenas de novos cargos para chefias, assessores, secretários e motoristas na vereação e AM. Uma lei que equivaleu a Assembleia Municipal a uma espécie de Assembleia da República e multiplicou o número de cargos de assessores pagos pela CML mas que só servem as máquinas partidárias. Perto de 6 milhões de euros de contratos de prestação de serviços que Medina distribuiu pelos partidos à revelia da lei nacional e do que pode ser feito nos outros 307 municípios.
- O executivo Moedas reduzir a dimensão da CML ou então explicar aos eleitores porque precisa que a CML seja o terceiro maior empregador nacional e o maior empregador de uma cidade que concentra tantas grandes empresas.
- O executivo Moedas reduzir a dimensão da CML ou então explicar porque a CML precisa de empregar 1 funcionário por cada 29 habitantes, porque precisa de 168 historiadores, 159 técnicos de relações públicas ou 443 arquitectos (mais de 4 por quilómetro quadrado).
- O executivo Moedas for capaz de reduzir a derrama municipal ao mínimo de lei, não só por isso ser importante para atrair atividade económica para a cidade, mas também por ser importante para o país como um todo porque a derrama é paga maioritariamente por empresas com sede em Lisboa mas com atividade em todo o país.
- O executivo Moedas for capaz de retirar a confiança política a qualquer dirigente político apanhado a conceder favores ou abusar do poder na sua junta de freguesia em vez de fazer o mesmo que Medina fez com a JF de Arroios.
- O executivo Moedas fizer uma listagem de todos os apoios distribuídos pela CML e o benefício desses apoios para identificar clientelas políticas que foram criadas nos últimos anos em que a despesa da autarquia cresceu mais de 500 milhões de euros.
Se o executivo Moedas fizer isto, a IL deve, na minha opinião, um pedido de desculpas. A sua forma de fazer política deve incluir a capacidade de admitir erros e reconhecer mérito reformista onde ele exista noutros partidos. Mas se o Executivo Moedas não fizer nada disto, são os comentadores (alguns meus amigos e muitos liberais) que deverão uma desculpa à IL.
O primeiro ponto ver-se-à já nas próximas semanas. Moedas pode desmontar aquela vergonha de tachos tão depressa como Medina a montou (em pouco mais de um mês depois das eleições de 2017)."
Ou seja, como muito bem explicado, se Moedas, rapidamente, demonstrar que a sua vitória faz a Câmara de Lisboa aproximar-se de práticas mais liberais, com certeza, a IL deveria ter percebido que assim seria e juntar-se para apoiar que assim fosse.
Mas se Moedas não executar políticas mais liberais, mantendo o essencial do monstro burocrático que é a Câmara de Lisboa, a IL terá feito muito bem em se manter à parte, mesmo que isso tivesse custado a eleição de Moedas - tal como o fóssil vivo que é o Partido Comunista fez muito bem em promover o julgamento dos eleitores ao seu programa político, mesmo que isso tenha significado entregar a câmara a Moedas.
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Olá.Obrigada pela partilha.Boa semanaMaria
Não deixa de ser irónico que uma organização de ho...
Muito obrigado Henrique.
Não me surpreendeu tanto como ao JT em virtude do ...
Realmente, fazia falta aqueles regimes da foice e...