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"foram muitos os comentadores que se apressaram a gritar em alto e bom som que as medidas fiscais não resultaram, quando o que falhou teve pouco a ver com impostos. Bem pelo contrário, o que Liz Truss fez foi prometer um aumento de despesa pública significativo, através de uma garantia de fixação do preço de energia aos britânicos por dois anos, o que resultaria num pesado aumento do défice e da dívida pública, que, segundo o Deutsche Bank, se estimava em 200 mil milhões de libras. A medida que mais foi falada na imprensa, o corte da taxa máxima de IRS de 45% para 40% para rendimentos superiores a 150.000 libras representava apenas 1% do custo que os mercados estimavam para o pacote energético. Para quem tem grande dificuldade em entender grande números, a dívida pública total portuguesa contraída ao longo de décadas de défices acumulados, é da mesma ordem de grandeza que os mercados estimavam para o pacote de Liz Truss em apenas dois anos."
João Caetano Dias, hoje, no Observador, explicando de forma simples a estupidez de considerar que foi o liberalismo de Truss que deu origem aos problemas do governo britânico.
Esta explicação, mais complicada ou mais simples, tem vindo a ser dada por várias pessoas.
No entanto, a quantidade de pessoas que se estão nas tintas para os factos e insistem na tese de que o chumbo do orçamento de Truss pelos mercados demonstra que as políticas de redução de impostos não funcionam, continua a ser imensa.
A ideia de que os mercados são tão violentamente contra as descidas de impostos que se revoltam, da forma como o fizeram em relação a Truss, é divertidíssima em si mesma, mas ver retintos estatistas a defendê-la com unhas e dentes é ainda muitíssimo mais divertido, independentemente da evidente tolice.
E, no entanto, a quantidade de pessoas que a leva a sério tudo isto é extraordinária e bem reveladora do nível de crendice que assola o debate público sobre o governo do país.
Não admira que, com este nível de obscurantismo, seja fácil um bom ilusionista ter maiorias absolutas.
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