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Bocage está para o século XVIII como Antero está para o século XIX e Pessoa para o século XX. A obra é a súmula do tempo que soube encarnar, o perfeito espírito daquele "galante século XVIII". Um mundo de salões literários, da cultura de Corte, da paixão subtil, a época pós-Pombal, onde efervescem as grandes questões jurídicas e onde despontam as grandes discussões filosóficas.
Como um mito permanece indecifrável. Um boémio, um libertino, também o ateu e, mais tarde, o reconvertido, o arrependido ferido de angústias. A sua morte encerra uma era, marcada pelo culto da cultura clássica, do espírito erudito, da paixão aristocrática, já no pronúncio do fim dos doces anos do "reinado mariano". Não se conformando com o conforto sofreu as vicissitudes de uma vida desregrada e livre. Também a rivalidade com José Agostinho de Macedo não deixa de ser sintomática dos caracteres: são duas mundividências que se conflituam.
Dele sobra o anedotário, o complexo mistério que ensombra as figuras mais carismáticas. Cultivou a lírica erudita com o gosto popular, a cultura aristocrática com a grosseria do vulgo. Há que dizê-lo: Bocage revolucionou as letras lusas antes da revolução política assolar as estruturas do Antigo Regime, fazendo a lírica descer dos olimpos grandiloquentes do classicismo para as realidades quotidianas, arrancando a poesia do conforto dos salões para o mundo burguês. Ególatra eruptivo e angustiado, procurando engrandecer a palavra pelo universalismo das ideias, quase ascende ao épico. Polarizado entre a Razão e o Sentimento, antecipa a estética romântica, contudo ainda moldado e estruturado pelo neoclassicismo.
Talvez nenhum outro poeta tenha surtido tanta influência nele como Camões. Aliás, os poetas da Arcádia e os cultores do neoclassicismo conferiam a Camões uma nova vitalidade e reivindicavam na tragédia e génio do vate a plena e suprema inspiração. Mas Bocage foi mais longe, reclamando uma identificação plena. A vida errante do vate quinhentista encontrava na mesma errância bocagiana um entendimento: "Camões, grande Camões, quão semelhante/ Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!"
No leito de morte suspira o arrependimento, um último Soneto: "Já Bocage não sou". É o Bocage anti-Bocage, a negação da vida errante, a descoberta de uma nova luz, um Bocage que grita: "Oh! Se me creste, gente ímpia,/ Rasga meus versos, crê na eternidade!". É o último fôlego de um homem sofrido. Morreu no alvorar de um tempo novo, quando os ventos da revolução sopravam e Portugal se preparava para, em breve, enfrentar um novo ciclo histórico.
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