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No ano passado, ou melhor, neste ano, na época Outono/ Inverno passada, gastei muitas letras a tentar manter de pé a hipótese de que o surto impressionante de Janeiro - com mortalidades diárias que eram o dobro das esperadas para aquele período do ano, em função dos últimos dez anos - estava mais estreitamente relacionado com uma anomalia meteorológica que ocorreu, que com a falta de medidas de contenção no Natal, quer aqui no Corta-fitas, quer num artigo no Observador.
Durante esse tempo, e semanas e meses depois, a resposta essencial ao que eu escrevi, era a de que não havia evidência nenhuma de sazonalidade da Covid e continuou-se com a cantiga da restrição de contactos de pessoas aparentemente saudáveis (estar infectado e doente não é equivalente, não se pode ter esta doença sem ter sido infectado, mas estar infectado não quer dizer que se desenvolva a doença).
Com a vacinação e a evolução dos números - e, já agora, com exemplos como os do Reino Unido e da Austrália, entre outros - o apoio social a restrições expressivas de contactos reduziu-se muito e a opção politicamente dominante passou, felizmente, para a redução progressiva de restrições (Graça Freitas anda há semanas a dizer que a DGS vai rever as normas de isolamento para distinguir vacinados e não vacinados, mas o facto é que continua a fazer detenções domiciliárias de 14 dias a pessoas vacinadas, quando entende que houve contactos de risco com infectados, e vai resistindo, de facto, a alterar essa norma que é a fonte de grande parte do poder discricionário e ilegítimo das autoridades sanitárias).
O foco, agora, é, aparentemente, o próximo Outono/ Inverno.
Significa isto que finalmente a sazonalidade passou a ser consensual, bem como a influência das condições ambientais na facilidade de contágio?
Ouvindo algumas pessoas, por exemplo, Marta Temido, dir-se-ia que sim, mas há quem resista até ao fim:
"Pedro Pinto Leite (DGS) e Baltazar Nunes (INSA - Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge) alertaram para os novos desafios trazidos pelo outono e inverno, com o regresso às escolas e ao trabalho presencial e as festas de Natal e Ano Novo a fazerem aumentar a mobilidade e eventuais cadeias de transmissibilidade do vírus, como aconteceu no ano passado".
Isto é o que o Diário de Notícias diz que eles disseram na reunião do Infarmed (o Observador diz mais ou menos o mesmo), não fui ouvir como seria prudente para ter a certeza de que é mesmo isto que disseram.
A ser verdade, é extraordinário que continuem a dizer que não há sazonalidade, que a questão do contágio não está fortemente ligada a factores ambientais externos. Apresentam-nos os riscos do próximo Outono/ Inverno, não como uma inevitabilidade decorrente de condições externas favoráveis à propagação das doenças respiratórias infecciosas, com a qual temos de aprender a viver, mas como resultado do funcionamento das escolas, do trabalho, do Natal e do Ano Novo.
Aparentemente, o problema não é haver um vírus que provoca uma doença que é especialmente perigosa para alguns grupos sociais, devendo os serviços de saúde organizar-se para dar a melhor resposta possível a essa circunstância, o problema é mesmo haver uma sociedade que não está organizada em função da protecção dos serviços de saúde mas dos interesses dos indivíduos.
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