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Bater no ceguinho

por henrique pereira dos santos, em 18.09.21

No ano passado, ou melhor, neste ano, na época Outono/ Inverno passada, gastei muitas letras a tentar manter de pé a hipótese de que o surto impressionante de Janeiro - com mortalidades diárias que eram o dobro das esperadas para aquele período do ano, em função dos últimos dez anos - estava mais estreitamente relacionado com uma anomalia meteorológica que ocorreu, que com a falta de medidas de contenção no Natal, quer aqui no Corta-fitas, quer num artigo no Observador.

Durante esse tempo, e semanas e meses depois, a resposta essencial ao que eu escrevi, era a de que não havia evidência nenhuma de sazonalidade da Covid e continuou-se com a cantiga da restrição de contactos de pessoas aparentemente saudáveis (estar infectado e doente não é equivalente, não se pode ter esta doença sem ter sido infectado, mas estar infectado não quer dizer que se desenvolva a doença).

Com a vacinação e a evolução dos números - e, já agora, com exemplos como os do Reino Unido e da Austrália, entre outros - o apoio social a restrições expressivas de contactos reduziu-se muito e a opção politicamente dominante passou, felizmente, para a redução progressiva de restrições (Graça Freitas anda há semanas a dizer que a DGS vai rever as normas de isolamento para distinguir vacinados e não vacinados, mas o facto é que continua a fazer detenções domiciliárias de 14 dias a pessoas vacinadas, quando entende que houve contactos de risco com infectados, e vai resistindo, de facto, a alterar essa norma que é a fonte de grande parte do poder discricionário e ilegítimo das autoridades sanitárias).

O foco, agora, é, aparentemente, o próximo Outono/ Inverno.

Significa isto que finalmente a sazonalidade passou a ser consensual, bem como a influência das condições ambientais na facilidade de contágio?

Ouvindo algumas pessoas, por exemplo, Marta Temido, dir-se-ia que sim, mas há quem resista até ao fim:

"Pedro Pinto Leite (DGS) e Baltazar Nunes (INSA - Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge) alertaram para os novos desafios trazidos pelo outono e inverno, com o regresso às escolas e ao trabalho presencial e as festas de Natal e Ano Novo a fazerem aumentar a mobilidade e eventuais cadeias de transmissibilidade do vírus, como aconteceu no ano passado".

Isto é o que o Diário de Notícias diz que eles disseram na reunião do Infarmed (o Observador diz mais ou menos o mesmo), não fui ouvir como seria prudente para ter a certeza de que é mesmo isto que disseram.

A ser verdade, é extraordinário que continuem a dizer que não há sazonalidade, que a questão do contágio não está fortemente ligada a factores ambientais externos. Apresentam-nos os riscos do próximo Outono/ Inverno, não como uma inevitabilidade decorrente de condições externas favoráveis à propagação das doenças respiratórias infecciosas, com a qual temos de aprender a viver, mas como resultado do funcionamento das escolas, do trabalho, do Natal e do Ano Novo.

Aparentemente, o problema não é haver um vírus que provoca uma doença que é especialmente perigosa para alguns grupos sociais, devendo os serviços de saúde organizar-se para dar a melhor resposta possível a essa circunstância, o problema é mesmo haver uma sociedade que não está organizada em função da protecção dos serviços de saúde mas dos interesses dos indivíduos.


15 comentários

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De Anónimo a 18.09.2021 às 11:03

até o Almirante fala com conhecimento viral
mais um submarino ai fundo
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De Anónimo a 18.09.2021 às 11:32

Todos os seus textos são muito inteligentes e elegantes, leio sempre com imenso prazer, o último parágrafo deste texto devia ser lido por todos e memorizado como fazíamos na escola em pequenos.
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De lucklucky a 18.09.2021 às 17:51


Parece que ninguém está interessado em fazer perguntas e em ter respostas.


Pergunta simples: como e em que circunstâncias é que o vírus se transmite.
Nunca vi uma jornalista a fazer esta pergunta e a insistir numa resposta.




Aparte: Segundo a narrativa Jornalista quem destes é o Negacionista?

A-Dr Anthony Fauci says three shots will be needed for full Covid-19 vaccination
B-Gouveia e Melo contra lóbi da 3ª dose
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De Elvimonte a 20.09.2021 às 15:13

Interessante recordar estas experiências de contágio propositado decorridas durante a gripe espanhola:


Influenza transmission - experiments from the spanish flu pandemic, how does it speads?
https://www.gjenvick.com/Influenza/TheRosenauExperiment-1918-1919.html
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De Elvimonte a 20.09.2021 às 15:18

E por falar em Anthony Fauci é ver declarações suas em 2008:


«"The B cells have been waiting for at least 60 years, if not 90 years for that flu to come around again," he said. "That's amazing, because it's the longest memory anyone's ever demonstrated."
From the B cells of three donors, the research group generated five monoclonal antibodies that not only strongly neutralized the 1918 virus, but also cross-reacted with proteins related to the 1930 swine flu virus. However, the antibodies did not react against more contemporary influenza strains.
(...) 
Anthony Fauci, MD, director of the National Institute of Allergy and Infectious Diseases, said recent studies have projected that immunity lasts several decades; the current study provides proof, the AP reported. "This is the mother of all immunological memory here," he told the AP.»
( https://www.cidrap.umn.edu/news-perspective/2008/08/researchers-find-long-lived-immunity-1918-pandemic-virus )



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De Anónimo a 18.09.2021 às 22:56

O papel número um do estado é proteger os seus cidadãos, se assim não fosse  não se disponibilizavam (p. ex) inúmeros meios durante vários dias para procurar um cidadão que caiu ao mar. Um estado que se organiza a pensar em si e não nos seus é um estado fracassado


Cumprimentos


Pedro Cunha 
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De Elvimonte a 20.09.2021 às 15:48

É sabido que vagas de frio e de calor (condições de stress térmico) conduzem, por si só, a excessos de mortalidade. Sendo assim, teríamos que discutir a fiabilidade do teste RT-PCR, algo feito no Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa (1783/20.7T8PDL.L1-3, "SARS-COV-2, TESTES RT-PCR, PRIVAÇÃO DA LIBERDADE, DETENÇÃO ILEGAL") de Novembro de 2020:


«C. O único elemento que consta nos factos provados, a este respeito, é a realização de testes RT-PCR, sendo que um deles apresentou um resultado positivo em relação a uma das requerentes.
D. Face à actual evidência científica, esse teste mostra-se, só por si, incapaz de determinar, sem margem de dúvida razoável, que tal positividade corresponde, de facto, à infecção de uma pessoa pelo vírus SARS-CoV-2, por várias razões, das quais destacamos duas (a que acresce a questão do gold standard que, pela sua especificidade, nem sequer abordaremos):
Por essa fiabilidade depender do número de ciclos que compõem o teste;
Por essa fiabilidade depender da quantidade de carga viral presente."(...)
ii. Efectivamente, os testes RT-PCR (Reacção em cadeia da polimerase), testes de biologia molecular que detectam o RNA do vírus, comumente utilizados em Portugal para testar e enumerar o número de infectados (após recolha nasofaríngea), são realizados por amplificação de amostras, através de ciclos repetitivos.
Do número de ciclos de tal amplificação, resulta a maior ou menor fiabilidade de tais testes. 




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De Elvimonte a 20.09.2021 às 15:49

iii. E o problema é que essa fiabilidade se mostra, em termos de evidência científica (e neste campo, o julgador terá de se socorrer do saber dos peritos na matéria) mais do que discutível.

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De Elvimonte a 20.09.2021 às 15:50

É o que resulta, entre outros, do muito recente e abrangente estudo Correlation between 3790 qPCR positives samples and positive cell cultures including 1941 SARS-CoV-2 isolates, by Rita Jaafar, Sarah Aherfi, Nathalie Wurtz, Clio Grimaldier, Van Thuan Hoang, Philippe Colson, Didier Raoult, Bernard La Scola, Clinical Infectious Diseases, ciaa1491,https://doi.org/10.1093/cid/ciaa1491,em (https://doi.org/10.1093/cid/ciaa1491,em) https://academic.oup.com/cid/advance-article/doi/10.1093/cid/ciaa1491/5912603 (https://academic.oup.com/cid/advance-article/doi/10.1093/cid/ciaa1491/5912603), publicado em finais de Setembro deste ano, pela Oxford Academic, realizado por um grupo que reúne alguns dos maiores especialistas europeus e mundiais na matéria. 
Nesse estudo conclui-se[2] (file:///C:/Data/fj52976/Desktop/1783-20%20versa%E2%95%A0%C3%A2o%20citius.%20Detenc%E2%95%A0%C2%BAa%E2%95%A0%C3%A2o%20ilegal%20competencia%20da%20autoridade%20de%20sau%E2%95%A0%C3%BCde%20MARGARIDA%20-%20Covid%20Habeas%20Corpus%20docx.docx#_ftn2), em tradução livre: 
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De Elvimonte a 20.09.2021 às 15:50

“A um limiar de ciclos (ct) de 25, cerca de 70% das amostras mantém-se positivas na cultura celular (i.e. estavam infectadas): num ct de 30, 20% das amostras mantinham-se positivas; num ct de 35, 3% das amostras mantinham-se positivas; e num ct acima de 35, nenhuma amostra se mantinha positiva (infecciosa) na cultura celular (ver diagrama).
Isto significa que se uma pessoa tem um teste PCR positivo a um limiar de ciclos de 35 ou superior (como acontece na maioria dos laboratórios do EUA e da Europa), as probabilidades de uma pessoa estar infectada é menor do que 3%. A probabilidade de a pessoa receber um falso positivo é de 97% ou superior”.
iv. O que decorre destes estudos é simples – a eventual fiabilidade dos testes PCR realizados depende, desde logo, do limiar de ciclos de amplificação que os mesmos comportam, de tal modo que, até ao limite de 25 ciclos, a fiabilidade do teste será de cerca de 70%; se forem realizados 30 ciclos, o grau de fiabilidade desce para 20%; se se alcançarem os 35 ciclos, o grau de fiabilidade será de 3%.»
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De Elvimonte a 20.09.2021 às 15:54

E do mesmo Acórdão:


«IV. Qualquer pessoa ou entidade que profira uma ordem, cujo conteúdo se reconduza à privação da liberdade física, ambulatória, de outrem (qualquer que seja a nomenclatura que esta ordem assuma: confinamento, isolamento, quarentena, resguardo profiláctico, vigilância sanitária etc), que se não enquadre nas previsões legais, designadamente no disposto no artº 27 da CRPestará a proceder a uma detenção ilegal, porque ordenada por entidade incompetente e porque motivada por facto pelo qual a lei a não permite.»
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De Elvimonte a 20.09.2021 às 16:10

Depois de ter sido obrigado a partir comentário em vários fico sem motivação para aprofundar a questão da sazonalidade e da perturbação ao padrão verificado em 2020 e comum a todos os restantes coronavírus humanos. Mas deixo algumas questões.


Em que países é esse comportamento anómalo evidenciado?
Quando se iniciou a vacinação e qual a taxa de vacinação desses países? 
Em que países continua a haver sazonalidade bem definida?
Quando se iniciou a vacinação e qual a taxa de vacinação desses países? 



Em que países foram realizados ensaios clínicos das vacinas?
Em que países surgiram as variantes do vírus que se tornaram dominantes? 






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