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Bárbara Reis

por henrique pereira dos santos, em 05.06.22

Miguel Esteves Cardoso ocupa um lugar especial nos cronistas portugueses por ter desenvolvido uma técnica de crónica dificílima e, apesar disso, a aguentar, uns dias com piores resultados, uns dias com melhores resultados e alguns dias com resultados excepcionais, tão excepcionais que dificilmente se encontra quem consiga fazer o mesmo.

A técnica consiste em escrever sobre o quotidiano, como se o quotidiano de cada um de nós fosse universal: pega num assunto sem interesse nenhum para quase ninguém - por exemplo, a temperatura da água num determinado dia e numa determinada praia -, inventa um pretexto para dar uma dimensão de interesse geral ao tema e, depois, a partir de um ponto de vista assumidamente único, subjectivo e descomplexadamente frívolo, escreve primorosamente sobre o assunto, tornando a forma tão mais importante, que é irrelevante que o conteúdo não tenha interesse nenhum.

Bárbara Reis também ocupa um lugar especial nos cronistas portugueses.

Ontem, a ler a sua crónica "Cavaco Silva e o amor ardente", percebi finalmente o exercício a que se entrega e sua profunda originalidade.

Bárbara Reis faz exactamente o inverso de Miguel Esteves Cardoso.

Pega num assunto de interesse geral, neste caso, um artigo de Cavaco Silva que toda a gente leu, com excepção de António Costa, pega-lhe por um ponto de vista individual e irrelevante, neste caso um comentário da "Pipa", e discorre sobre o assunto de uma forma pueril, escolhendo dados e informações sem contexto que sirvam um discurso a que só esta esquerda que vive da caridade da família Azevedo, como é o caso de Bárbara Reis, dá importância.

Não vou estragar o prazer a quem queira ler essa longa crónica de Bárbara Reis, mas ainda não parei de rir sobre o contorcionismo a propósito da emigração e imigração, que culmina na conclusão de que, no essencial, Portugal e a Alemanha ocupam mais ou menos o mesmo lugar no coração dos migrantes de todo o mundo.

Bárbara Reis nunca deve ter reparado que, nos anos sessenta do século XX terão emigrado de Portugal um milhão e meio de portugueses, mas a população do país apenas diminuiu cerca de 300 mil habitantes, e que na última década a população portuguesa diminuiu dois terços desse valor (cerca de 200 mil habitantes), apesar do El Dorado que, na opinião de Bárbara Reis, Portugal é, com excepção dos anos da troica, bem entendido.

O espantoso é que uma jornalista que escolhe discutir um comentário anónimo sobre o artigo de Cavaco Silva,  achando que é uma forma inteligente de contestar Cavaco, foi directora do Público anos e anos.

Ou então não, não é espantoso, é apenas o resultado de ter os incentivos errados a funcionar num jornal: o jornal vive da caridade da família Azevedo, não dos seus leitores, e portanto pode dar-se ao luxo de ter pessoas como Bárbara Reis como directores, mesmo que isso seja um desastre para a reputação do jornal junto dos leitores.


2 comentários

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De passante a 05.06.2022 às 12:38

vive da caridade da família Azevedo


Eu sugeria repensar esta frase. Os merceeiros não costumam dar ponto sem nó.

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De Bst a 06.06.2022 às 16:48

E quem diz que dão? 

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