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"Uma manchete profética.
... o secretário-geral do PS achou que era preciso um ponto de ordem à mesa. Não queria que o acusassem, mais tarde, de ter mentido aos Portugueses. E também não queria que o seu PS lhe dissesse em determinado momento que ele os tinha enganado na estratégia que queria para o partido.
...
Costa não queria ser acusado de ter escondido totalmente o jogo. E nada melhor do que veicular na imprensa de referência parte da tática que tinha em mente.
Aproveitou o dia em que Luisa Meireles o acompanhou no carro entre uma iniciativa de campanha e o hotel onde ia dormir, para levantar a ponta do véu: o PS não viabilizaria um governo minoritário de direita. E mais: ele acreditava que se os Portugueses tirassem a maioria a Passos Coelho e Paulo Portas, o PS tinha então o caminho livre para formar governo, bastava para isso que os partidos à sua esquerda aceitassem entendimentos.
...
É hábil na arte da dissimulação e em nenhum momento podia deixar transparecer à experiente jornalista que, na sua cabeça, esses entendimentos tinham alta probabilidade de acontecer.
A 26 de Setembro de 2015, a manchete do Expresso era clara: "Costa chumba Governo de direita minoritário". Estava plantada a primeira semente da estratégia do futuro entendimento à esquerda. Mais tarde, o líder socialista voltaria muitas vezes a relembrar aquela primeira página, para responder a todos os que o acusaram de esconder o jogo...."
Reproduzo acima partes do livro "Como Costa montou a geringonça em 54 dias", um livro escrito por duas jornalistas que é muito interessante, não pelo que diz sobre a geringonça e Costa, mas pelo poderoso retrato que faz da imprensa.
No episódio que resumi acima, o relevante não é o facto de Costa enganar o eleitorado - isso é um dado do problema, só é enganado o eleitorado que quer ser enganado - nem mesmo a bizarria de se apresentar a dissimulação com uma qualidade e não um defeito de carácter.
Não tenho ilusões sobre o carácter imaculado da política nem faço juízos morais indignados sobre o famoso "roubo, mas faço", que na versão Costa se diria "dissimulo, mas faço".
O que é verdadeiramente relevante é a forma como "uma jornalista experiente" se dispõe a ser usada para conseguir uma manchete bombástica.
Não estou convencido de que a jornalista esteja a fazer o jogo de Costa conscientemente, penso que estará muito satisfeita consigo mesma por ter conseguido uma cacha fenomenal, que se veio a revelar certeira.
O que a jornalista faz é uma coisa que está profundamente enraizada na cultura jornalística portuguesa (suponho que em muitas outras também): a jornalista troca o respeito por uma regra central da profissão - nunca citar fontes anónimas sem razões de fundo, em especial, sem razões fundadas no risco de vida que a revelação da fonte poderia acarretar - por informação privilegiada de fontes que considera úteis.
A jornalista prefere esquecer as regras da sua profissão a ficar sem matéria prima para o futuro.
Se a manchete do Expresso (e a notícia associada) dissesse qual era a fonte da jornalista, António Costa, tudo seria diferente, exactamente porque estaria fora de causa qualquer dissimulação por parte de António Costa, que teria de se responsabilizar pelo que teria dito à jornalista.
Mas ao prescindir de citar a fonte para garantir a informação, a jornalista está a criar a oportunidade para que um político no activo a manipule em função dos seus interesses, como efectivamente aconteceu.
As regras profissionais não existem por acaso e regras básicas do jornalismo, como a de não usar fontes anónimas, visam defender o jornalista de si próprio, das suas inclinações e simpatias, impedindo-o de involuntariamente colocar a sua influência ao serviço de interesses privados, como foi o caso, em vez de se colocar ao serviço dos seus leitores.
Que jornalistas descrevam tudo isto como se tudo isto fosse normal, é bem o auto-retrato de uma profissão - ou melhor, da parte da profissão que escreve sobre política e depende dos políticos para ter matéria prima - que deixou de se respeitar a si própria.
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