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Numa conversa semi-pública, em resposta a uma afirmação minha sobre o imenso corporativismo dos jornalistas (todas as generalizações são intrinsecamente injustas, é evidente que há excepções), respondeu uma jornalista que aliás prezo e por quem tenho consideração (é uma boa demonstração de algumas das minhas críticas gerais ao jornalismo actual contêm injustiças): "Com tantos e tão tremendos ataques ao Jornalismo como temos visto, ..., se os jornalistas não se defenderem a eles próprios e uns aos outros, quem os defenderá?".
A ideia de que uma crítica é um ataque é, em si mesma, uma demonstração de corporativismo e uma má prática empresarial (de maneira geral, os jornalistas trabalham em empresas, facto que preferem ignorar, frequentemente) mas o que me interessa hoje é a demonstração de que são muitos e muitos jornalistas que fazem muitos e tremendos ataques ao Jornalismo, e não eu, mero consumidor de jornais, rádio, TV, disco e cassette pirata.
"Preço dos solos rústicos está a subir, mas incerteza da nova lei trava vendas", é a manchete de hoje do Público, manchete essa que só existe porque a estrutura editorial do Público, e não a jornalista concreta que faz a peça que alguém chama para a manchete, nestes termos, decidiu que seria este a manchete do jornal.
Aqui o leitor, que tem acompanhado as rábulas políticas à volta de uma pequena alteração processual na forma como é possível passar de solo rústico a urbano (um processo mais de normal que ocorre frequentemente), repara imediatamente no facto de se dizer que os preços estão a subir, mas as vendas a travar, concluindo que, provavelmente, a manchete não passa de uma grosseira deturpação, confundindo aumento do valor pedido pelos vendedores como aumento do preço de venda. Para além de concluir que lá vem mais um panfleto político da jornalista Rafaela Burd Relvas, mesmo antes de saber quem assina a peça.
Bingo! Logo no lead da manchete, ainda na primeira página, a trafulhice é clara: "dizem as imobiliárias, é cedo para tirar conclusões: não há operações suficientes para fazer um retrato fiável da evolução da oferta e da procura".
Abre-se o jornal nas páginas indicadas e confirma-se que se trata de mais um panfleto político a que Rafaela Burd Relvas dá o nome de Jornalismo.
Depois de semanas em que actores políticos disfaçardos de especialistas e especialistas actuando como actores políticos andaram a insistir que a alteração da lei já está a provocar um aumento de preços dos terrenos rústicos com base em anúncios de venda de imobiliárias (sem perder um segundo a explicar por que razão uma alteração exactamente igual não teve esse efeito quando entrou em vigor há um ano), Rafaela Burd Relvas resolve fazer uma grande investigação, consultando três imobiliárias.
Depois da repetição do mesmo que foi dito dezenas de vezes pelo jornal e pela própria jornalista, à laia de introdução (cujo único interesse é a frase "os partidos de esquerda apresentaram projectos para a cessação da vigência do decreto-lei, mas o PS absteve-se", que é um bom indicador do posicionamento político da jornalista, que não considera o PS um partido de esquerda), lá vem a confirmação de que toda a peça jornalística se baseia na confusão entre preço pedido pelo vendedor e preço de venda.
A investigação da jornalista tem conclusões claras (e evidentes, para quem conheça um mínimo o assunto, ou tenha um mínimo de bom senso): "Comparar preços de oferta fixados pelo vendedor e não preços reais a que os terrenos são comprados pode apenas reflectir o entusiasmo dos proprietários".
Depois de uma longa derivação do presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária que diz que a lei não tem qualquer efeito no mercado da habitação (na verdade não diz isso, diz é que não tem qualquer efeito imediato) porque ainda não há qualquer reclassificação ao abrigo desta lei (nem poderia haver, o processo é demorado e complexo, apesar de mais simples que os processos de alteração dos planos, que tipicamente demoram entre cinco a dez anos) e porque depois de reclassificados, há que esperar mais dois ou três anos pelo licenciamento e mais outro tanto pela construção, pelo que as alterações à lei dificilmente terão resultados no mercado da habitação em menos de cinco anos, provavelmente mais, Rafaela Burd Relvas resolve ir procurar casos práticos, dos quais falei neste post.
A jornalista confunde os processos de alteração decorrentes da alteração anterior da lei (que, no essencial, é igual, com variações nas circunstâncias que permitem a sua aplicação), com o que decorre da actual alteração, não percebendo que os avisos que encontrou no Diário da República não têm qualquer relação com o diploma agora em discussão, mas sim com a alteração feita há um ano e que começa, agora, a ter algum efeito.
Acho que fica perfeitamente demonstrada a legitimidade da minha pergunta:
Quem ataca o Jornalismo? Eu, que digo que isto é uma palhaçada publicada em jornais por jornalistas, ou os jornalistas e jornais que chamam Jornalismo a estas palhaçadas?
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