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“A IL que recebeu dinheiro diretamente do presidente da EDP e que em dois anos dois empresários entregaram ao seu instituto de estudos uma quantia de 600 mil euros”.
Isto é de um discurso de Mariana Mortágua num comício, sobre o dinheiro que jorra para o Chega e a Iniciativa Liberal.
O dinheiro que chega ao Chega não me interessa, aliás nem li metade de um artigo ridículo no Público deste Domingo sobre o assunto, de tal forma era infantil o trabalho do jornalista, a falar de donativos de 10 mil euros para um partido como se fosse um grande indicador do que quer que seja (as contas dos partidos são públicas e os donativos representam uma parte relativamente pequena do seu financiamento, se comparado com o financiamento público, que depende do número de votos).
Mas interessa-me esta frase de Mariana Mortágua, não pelo que diz sobre o financiamento da IL, mas pelo que diz sobre a forma como Mariana tortura os dados até que eles digam o que ela quer que digam.
A parte de receber dinheiro directamente do presidente da EDP não interessa nada, sobretudo com as limitações que existem para os donativos aos partidos, o que interessa é o contorcionismo da segunda parte da citação.
Mariana Mortágua refere-se a isto, que é transparente e claro:
Comecemos por notar que o dinheiro a que se refere não tem nada com esta campanha eleitoral, diz respeito a 2022.
Notemos depois que o Instituto +Liberdade (declaração de interesses, de que sou sócio, pagando uma quota anual de 50 euros, se não me engano) não é um Instituto da IL, tem com certeza uma orientação liberal, mas não é da IL e nem é controlado pela IL.
Tem gente da IL, foi fundado por Carlos Guimarães Pinto (posteriormente à sua saída de presidente da IL) e desenvolvimento (que se reduziu desde que se candidatou pela IL, e foi eleito deputado, nas últimas eleições), mas na sua direcção estão militantes de outros partidos, como Cecília Meireles e Fernando Alexandre, outras pessoas sem militância partidária conhecida e tem um conselho de curadores com gente que nem sequer está na política partidária e tem carreiras profissionais conhecidas.
Notemos depois que os donativos de que fala Mariana são donativos a sério, não são os meus míseros 50 euros anuais, mas estão muito longe da perda anual de pelo menos um milhão de euros que a família Azevedo aceita para fazer exactamente a mesma coisa: ter gente independente a produzir informação, no caso do Instituto +Liberdade, uma associação sem fins lucrativos, no caso do Público em que a família Azevedo enterra um donativo acima de um milhão de euros anual, um jornal.
Em qualquer dos casos, as campanhas eleitorais podem ser influenciadas pelas duas organizações, diferindo apenas na sua orientação ideológica, sendo estranho que Mariana Mortágua não se refira ao donativo da família Azevedo para o jornal Público como um financiamento estrondoso anti-liberal, como de facto é.
Eu sei que a Mariana acha que não está a mentir quando comete a pequena imprecisão de dizer que o Instituto +Liberdade é um instituto da IL, é o normal nas pessoas dadas às teorias de conspiração.
O problema é que, em política, dizer coisas destas, ou apresentar viúvas ricas de industriais como vítimas da ganancia do grande capital porque o senhorio, uma IPSS que apoia doentes mentais sem recursos em Tábua, lhes quer aumentar um renda artificialmente deprimida pelo poder repressivo do Estado ao serviço da transferência de recursos dos doentes mentais de Tábua para uma viúva rica, é um exercício arriscado, independentemente de poder haver opiniões sobre se é tecnicamente uma mentira ou não.
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