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As votações do PS explicadas aos pequeninos

por henrique pereira dos santos, em 25.11.23

Num post anterior falei das reformas feitas por António Costam que existem e são reais (e nem falei das reformas na habitação), dando vários exemplos que resultam sempre no mesmo: maior custo para os contribuintes, menor retorno para as pessoas comuns.

Naturalmente, usei um dos exemplos mais evidentes, o dos contratos de associação com escolas, um modelo que a lei limitava excessivamente - na lei, não era uma política de colaboração entre privados e Estado, era uma excepção que o Estado concedia aos privados em zonas em que o Estado ainda não conseguia providenciar o serviço -, mas cujos resultados práticos eram conhecidos: menor custo por aluno, pais e alunos mais satisfeitos com o serviço prestado.

Sem surpresa, apareceram os comentários do costume: "Pura e simplesmente acabaram com a mama para muita gente.".

Aparentemente, não é preciso explicar que mama é esta (receber menos dinheiro que os agentes do Estado para prestar um serviço melhor), que muita gente é esta e basta invocar um ou outro caso de uso indevido do mecanismo para se considerar que nem vale a pena discutir os resultados concretos: menos dinheiro dos contribuintes para garantir um melhor serviço essencial para as pessoas comuns.

Note-se que se o critério de acabar com um mecanismo qualquer pela descoberta de usos indevidos fosse levado à letra, seria preciso acabar com o governo no momento em que um primeiro-ministro fosse apanhado a "mercadejar o cargo", ou acabar com as escolas do Estado de cada vez que se verificava um abuso da parque escolar ou de professores ou de direcções de escolas.

Mas não, se um privado for apanhado a abusar de um mecanismo existente, o mecanismo de colaboração entre privados e Estado deve ser eliminado, mas se agentes do Estado forem apanhados em abusos semelhantes, enfim, é normal, é da natureza das coisas, não põe em causa a necessidade de garantir a apropriação colectiva dos meios de produção.

Depois dos últimos quase trinta anos de governo (com algumas interrupções para pôr a casa em ordem mínima), que deram origem ao pântano de Guterres, à forma como o PS se comportou no processo Casa Pia, ao processo Marquês, a isto que agora está a andar, à perda relativa de posições no ranking de desenvolvimento económico na União Europeia, à frustração das expectativas das pessoas, ao acentuar da clivagem social com os mais pobres com cada vez maior dificuldade no acesso aos serviços e bens essenciais, em especial saúde, educação e habitação (que no que diz respeito à alimentação a rede social, quer do Estado, quer privada, ainda vai dando resposta, embora com uma progressiva dificuldade), ao alargamento social dos grupos com dificuldades de acesso a vários bens e serviços típicos das sociedades modernas ocidentais, o normal seria o PS estar ao nível de votação de um PASOK ou do Partido Socialista francês, mas não, basta agitar o fantasma de acabar a mama a muita gente, para que o PS mantenha uma relevância eleitoral como a que tem.

Não tenhamos dúvidas, é no eleitorado a quem a mama dos outros (sempre definida por cada um desses eleitores que, apesar de achar que os outros têm uma mama fantástica não se atrevem a, eles próprios, investirem no mesmo negócio que os tornaria ricos) é o alfa e ómega da decisão no momento do voto que o PS tem o seu seguro de vida.

O PS ocupou eficazmente um nicho de mercado eleitoral que costuma ser relativamente residual e localizado nos extremos, o mercado do ressentimento social.

Daí o seu permanente confronto com o Chega: são partidos que disputam o mesmo eleitorado do ressentimento social e é fundamental, para o PS, marcar a diferença entre o ressentimento social do bem, que o PS representa, e o ressentimento social dos deploráveis, que o Chega representa.


19 comentários

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De Anonimo a 25.11.2023 às 09:55

O PS é um partido altamente católico num país que vive de esmolas. É fazer as contas, como dizia o outro.
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De urinator a 25.11.2023 às 09:59

3-BANCARROTAS
fuga do gugu do Hamas
sócrates e costa: a mesma luta
o ps e o psoe caminham ao encontro do ps de França
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De Carlos Sousa a 25.11.2023 às 10:35

Se calhar foi por terem acabado os contratos de associação que se deu o milagre económico. 
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De César a 25.11.2023 às 11:08

O socialismo é a cultura da inveja, da preguiça, do rancor e do roubo eufemisticamente designado "justiça social".
Por isso é que em Portugal tem tanto sucesso.
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De César a 25.11.2023 às 11:42

"...o PS, marcar a diferença entre o ressentimento social do bem, que o PS representa, e o ressentimento social dos deploráveis, que o Chega representa"

Não o quero englobar no título deste texto por respeito, mas definitivamente não percebeu porque é que a insatisfação é cada vez maior e "foge" para fora do chamado "Centrão". O que legitima  usar twemos como "deploráveis"? São menos porrugueses que o sengor? Cometeram qlfum crime? Não podem manifestar a sua indignação através do voto ou só há indignação politicamente correcta? Todos os 400 mil votantes do Chega(que serão muitos mais em Março) é deplorável, no alto da superioridade moral que apregoa? Definitivamente quem não percebeu nada e precisa que a votação no PS seja explicada é V.,Exa.
P.S. (lagarto, lagarto)- não sou do Chega mas irei votar nele a 10 de Março. Também faço parte dos deploráveis, mesmo que não me conheça para adjectivar quem vota nesse partido? Pelos vistos devo fazer. Um bocadinho mais de bom senso talvez não lhe ficasse mal.

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De henrique pereira dos santos a 25.11.2023 às 11:50

Essa é uma hipótese.
A segunda é que o camarada desconheça de onde vem a utilização desse termo neste contexto, a famosa frase de Hillary Clinton que se diz que contribuiu muito para ter perdido as eleições para Trump: Basket of deplorables - Wikipedia
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De César a 25.11.2023 às 12:06

Agradeço que não me chame camarada fora do contexto militar. Não sou seu camarada. 
Desconheço muita coisa. Há uma que não desconheço: o,que me interessa é derrotar o docialismo. Se o "camarada" gosta, problema seu. E a Killary Clinton não é propriamente das minhas leituras . Se é das de V.Exa...boa sorte. Julgava-o mais erudito.
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De Anónimo a 25.11.2023 às 13:17

Manifestamente o César não percebeu de todo a "alegoria óbvia" e foi logo por aí fora, mesmo com a explicação subsequente do HPS (que devia ser mais que suficiente) nada mudou e por aí fora continuou.
Eu também tinha ideia, pelo que vou lendo por aí, que o César era mais erudito.
Mas anda tudo muito nervoso e, quando anda tudo muito nervoso, há que manter a calma.
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De henrique pereira dos santos a 25.11.2023 às 22:44

Camarada é um tratamento entre iguais, se preferir posso tratá-lo por vossa senhoria sem problema.
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De César a 26.11.2023 às 00:10

Não vou responder. Não o conheço de parte alguma. Nem me interessa. Continua a não perceber. Azar o seu. Passar bem. 
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De Impronunciável a 25.11.2023 às 12:24

“maior custo para os contribuintes, menor retorno para as pessoas comuns” ?!

 

Afirmar isto é, não apenas, dizer uma mentira descarada. Mas também é a causa das votações no PS.

É contribuir para perpetuar aquilo, a que raivosamente, se pretende pôr fim.

Afirmações como estas são incapacidade para discernir a realidade, e construir uma alternativa.

São mentiras destas que são a causa das votações no PS.

As “pessoas comuns” ganham pouco mais do que o salário mínimo, ou pensões abaixo do salário mínimo. São a grande maioria da população portuguesa.

Vivem em condições miseráveis nos subúrbios das cidades. A esses 300 ou 400 euros líquidos, o PS tirou-lhes uma despesa com os transportes que representava mais de 20% do seu rendimento.

O PSD, com o Passos Coelho, tirou às “pessoas comuns” o pouco que tinham, com o pretexto de que lhes ia melhorar a vida. Essa mentira custará ao PSD muitos anos de afastamento do poder. Foi por causa disso que à «direita» do PSD surgiram mais de 600.000 votos no Chega e IL.

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De Albino Manuel a 25.11.2023 às 12:31

Essa do receber menos do Estado para ter um serviço melhor é usado frequentemente para justificar PPPs. Nuns casos será, noutros não será. No caso dos contratos de associação por alguma razão acabada a relação contratual com o Estado houve quem fechasse a loja. O Estado era o gancho deles. O argumento é sempre o mesmo: melhor e mais barato. As contas fazem-nas eles.


O mesmo vale para muitas áreas. Penso por exemplo nos exames médicos ou nos cheques cirurgia. Tive um caso concreto: um familiar meu entrou numa lista de espera. Aqui foi fácil. Só que a lista era opaca. Não se sabia quem estava à frente nem qual era o lugar na lista. Depois começaram a aparecer as propostas do hospital público para a cirurgia ter lugar nuns sítios quaisquer pelo país, sabe-se lá com que segurança. Duas vezes a resposta foi não, o meu familiar foi irradiado da lista de espera. A cirurgia, particular, foi feita num grande hospital privado de Lisboa. Do tal hospital público e dos cheques cirurgia fiquei com a imagem de conluio. 


Como isto não devem faltar casos por este país. Comer à conta do Estado é o que não falta. E não são apenas os do rendimento mínimo. Muitos anos atrás alguém, de direita, propunha que quem quer que recebesse um subsídio da UE tivesse de pôr à porta "financiado pela UE". Seria lindo. O chamado crony capitalism é uma especialidade nossa.


A verdade é que em Portugal o estado foi sempre a vaca de trinta tetas. Foi assim com a Casa da Índia, com as companhias majestáticas de Pombal, com o condicionamento industrial e por aí. Há subsídio,  há empresa. Acaba o subsídio, fechou.


Tudo isto tem uma consequência (e é causa): pobreza. No que eu não acredito é que mude. Pelo contrário, vai agravar e bem pelas próximas (e não tão próximas) décadas. 
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De lucklucky a 25.11.2023 às 15:44

O Albino Manuel ainda não descobriu que os funcionários publicos são privados.
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De Hugo Filipe a 25.11.2023 às 14:30

Henrique, post fraco. Você não conhece o Chega. Poderá dizer que não o quer conhecer e como é óbvio está no seu direito. Contudo, depois coloca-se a jeito. O Chega não é um partido de descontentes e ressentidos, é um partido para mudar Portugal! O Chega tem princípios e programa, e não se baseia em ressentimento. Em traços gerais e básicos: foca-se na auto-responsabilidade, o famoso não perguntes o que é que o teu país pode fazer por ti mas o que é que tu podes fazer pelo teu país. Até encontra paralelo em Malcom X, que tinha todas para pensar de outra forma, mas que no fundo, defendia e bem a defesa dos direitos dos negros nos EUA por quaisquer meios necessários, mas nunca esquecendo que correspondia a cada um ter a vontade de se transformar, pois sabia ele muito bem, que não seria nunca o opressor que faria isso por ele... No nosso caso, o opressor é o estado a que isto chegou, sermos governados por pessoas sem qualidades. Brilhante Maicon, pessoa que veio de onde veio, mas que extraordinariamente compreendeu a importância da moral e dos valores morais mas levados à prática. E partindo de uma filosofia e religião não ocidental, desagua num fim comum. O Chega reconhece outros credos e modos de vida, mas é conservador nos costumes. Acredita na liberdade da sociedade mas na clara hierarquização e autoridade das instituições, sejam escolas, polícias, tribunais ou outro tipo de instituições. É pela liberalização da economia, ao serviço das pessoas, a mão do Adam Smith não resolve tudo. E sobretudo do bom senso, bom senso quando não se aceita que a maioria seja condicionada pela minoria, ou nos casos que correm, tolerados pela minoria. Deixe-se de tretas sobre o Chega. Comparar o Chega com o PS não faz sentido, e para mim, que sou Chega, é insultuoso. Estamos fartos da caracterização do Chega ou do que o Chega representa por quem não sabe nem quer saber o que o Chega é. Julgo haver trabalho parlamentar e partidário suficiente para se ter uma ideia do que o Chega é. Um abraço meu para si e saiba que o admiro bastante. 
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De aleitao a 25.11.2023 às 18:46

Excelente!
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De Maria Eduarda a 25.11.2023 às 19:24

No meio disso tudo só há uma coisa que eu não concordo e não entendo: porque o Chega quer manter a nacionalização da TAP?…
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De balio a 25.11.2023 às 15:29


A mim custa-me a entender como é que o Henrique Pereira dos Santos, que é (e muito bem) um legalista, uma pessoa que se aprimora no cumprimento da lei e na avaliação dos resultados desse cumprimento, em suma, um defensor do Estado de Direito, vem defender que, no caso dos contratos de associação, não fazia mal que eles tivessem sido concedidos, e que se mantivessem, em contravenção da lei.
É que, não basta mostrar que os contratos de associação eram benéficos para os alunos, para os pais, e para o Estado. É preciso também mostrar, e para mim isso é crucial, e acreditaria eu que para o Henrique também o deveria ser, que esses contratos estavam de acordo com a lei.
E não estavam. Não estavam, porque a lei diz que só deve haver contratos de associação lá onde a oferta de escola pública não seja suficiente.
De resto, tal como o Henrique muito bem sabe, continua a haver imensos contratos de associação, o Governo não acabou com eles, de forma nenhuma. Só acabou com aqueles que estavam em contravenção da lei.
E fez muito bem. A lei é para se cumprir.
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De henrique pereira dos santos a 25.11.2023 às 22:47

Enquanto as leis existem, devem ser cumpridas, eu limitei-me a dizer que a lei deveria ser outra.
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De lucklucky a 25.11.2023 às 15:50

Parece que a "narrativa" combinada é ligar o Chega ao PS. 


Se as cabeças do PSD ou IL pensam que isso vai funcionar...continuam a não perceber nada.


Eu fartei-me de ver "ressentimento social" nos textos aqui postos ao longo do ano.

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