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Tenho alguns amigos que disseram estar chocados com o "aproveitamento" que Ricardo Araújo Pereira fez do choro de Pedro Nuno Santos num programa de televisão. Não estou especialmente solidário com esse sentimento desses amigos, acho que o momento de humor foi legítimo, e passo a explicar porquê.
1) Pedro Nuno Santos decidiu, em ambiente pré-eleitoral, ir a um programa de televisão escancarar a sua intimidade. Ou seja, todas as imagens utilizadas resultaram de um "produto" oferecido pelo próprio, e não de nenhuma devassa de intimidade.
2) Quando uma pessoa utiliza a sua intimidade, mulher e filhos, para se promover perde alguma moral para criticar quem chama à colação esses elementos de forma menos laudatória. Eu sei que uma pessoa fazer strip-tease da sua intimidade é algo que está de acordo com o vento dominante, no entanto não é uma tendência que me mereça especial simpatia.
3) A minha geração, e a geração anterior à minha ainda mais, foi educada a reprimir emoções. Penso que tal, em muitos contextos, foi exagerado e castrador. Ainda assim, não aprecio o actual cenário, em que se passou da repressão das emoções para a exibição destas. No actual ecossistema pretendemos que as emoções substituam a racionalidade e qualquer conceito de "realidade objectiva", e isso não é bom.
4) Ainda na sequência do ponto anterior, na minha geração, na tal repressão de emoções, diziam-se coisas como "um homem não chora". É claro que não concordo com essa perspectiva, mas também não tenho simpatia pelo paradigma em que o autocontrole é uma característica completamente desvalorizada.
5) Claro que fazer humor implica, em muitos casos, como neste, descontextualizar e ridicularizar. No entanto, parece-me que vivemos numa sociedade suficientemente madura para que tal possa ser feito. O público é suficientemente preparado para entender os contextos, e para intuir que o espectro daquilo que pode ser utilizado num programa de humor é muito mais amplo do que aquilo que pode ser utilizado noutros contextos. Por exemplo, a utilização das lágrimas de Pedro Nuno parece-me aceitável nesse contexto de humor, mas parecer-me-ia dificilmente tolerável numa lógica de luta política. No que respeita ao humor estou muito mais próximo da abordagem britânica que considerava aceitável fazer um sketch com a Rainha a dançar can-can, do que a visão lusitana estado-novense de que "o respeitinho é muito bonito".
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