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Os votos de que se vivam tempos interessantes hão-de ser, de facto, a pior maldição, e a vitória do Brexit no referendo do Reino Unido promete os tempos mais «interessantes» que poderíamos desejar ou temer, conforme o gosto. Com o voto de saída britânico a Europa é agora um comboio cujas carruagens querem, cada uma delas, seguir uma direcção diferente. E dentro de cada carruagem dissidente estarão grupos com programas antagónicos.
No epicentro do terramoto, primeiro: Londres, Escócia e Irlanda votaram pela permanência; contra a permanência votou, grosso modo, o resto do país. E Escócia e Irlanda quererão agora, no mínimo, ter protagonismo nas concertações para a saída, e, no máximo, um Scotexit ou um Irishexit do Reino Unido.
Na Europa continental as pulsões de discórdia vieram expeditas à boca de cena : aplausos à saída vindos da extrema-direita francesa por causa da imigração, aplausos da extrema esquerda grega e portuguesa que quer menos disciplina orçamental e mais «solidariedade», avisos vindos da Europa do Norte cujos povos estão fartos da indisciplina orçamental dos outros e da «solidariedade» com eles. Em Espanha, aguarda-se o forte ressurgir dos independentismos catalão e basco.
E da apagada e vil governação portuguesa veio a reacção previsível, pequena e oportunista: a partir de agora, dizem-nos Costa, César e Silva, ficamos a saber que qualquer desgraça económica deve-se não às políticas internas suicidas, mas a caprichos ingleses e a insuficiências europeias.
Ou seja, com a inflamação inevitável das pulsões contraditórias nacionalistas e solidaristas, isolacionistas e liberais, populistas de direita e esquerda, orçamentalistas ou solidaristas a Europa ficará à mercê de todos os oportunismos e pressões.
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