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As agruras do capitalismo português

por Maria Teixeira Alves, em 25.09.14

A competição pela compra da ES Saúde, empresa dona dos hospitais, de entre os quais o mais emblemático é o Hospital da Luz, prova mais uma vez o quão dificil é ser capitalista em Portugal. Reparem, todos nós temos simpatia pelo Grupo Mello, e todos nós preferiámos que o Hospital da Luz acabasse nas mãos de um grupo português. Mas é isso possível?

Ora se o Grupo Mello precisa do crédito para comprar o Hospital da Luz (simplifiquemos e chamamos-lhe assim) e se os bancos condicionam o crédito ao parecer da Autoridade da Concorrência, porque obviamente querem saber quais os activos finais com que podem contar para a hipoteca, porque é a Concorrência que decide quais os remédios a aplicar, e nessa medida os activos que terão de ser vendidos. E se, por via dessa exigência dos bancos, o Grupo Mello teve de incluir no anúncio preliminar da oferta a condição da NÃO OPOSIÇÃO DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA, não pode esperar que a CMVM, passe por cima da lei, e toca de registar a oferta. Depois do que aconteceu ao Grupo Espírito Santo já vai sendo tempo de não nos rendermos a charmes e seguirmos as premissas legitimas. A CMVM não pode cometer ilegalidades para favorecer favoritos de coração. Os únicos interesses que a CMVM pode seguir são os dos investidores e os do Código de Valores Mobiliários. Assim como os bancos, os únicos interesses a que devem atender são os dos seus clientes e os dos seus accionistas, por esta ordem. Têm de saber até onde podem correr riscos, mas não podem, nessa gestão, pôr em causa e descurar o risco de crédito. Ora se esta operação é mais uma vez, como foi aliás a última operação com a Brisa, uma estratégia de obter mais colaterais para os empréstimos enormes que já concederam ao Grupo Mello (quase seis mil milhões o passivo bancário) é um mau prenúncio para todos, para os próprios Mello, para os próprios bancos, e para o mercado em geral. Se não for assim, então os bancos não podem facilitar créditos que os possam encalacrar mais tarde. 

Se o Grupo Mello quiser mesmo comprar a empresa do Hospital da Luz, merece ter as mesmas condições de partida que os outros candidatos, merece ter a OPA registada, mas então que altere o anúncio preliminar retirando a condição da oferta que impede o registo. Negoceie com os bancos. Os bancos que vejam até onde é que podem ir. Ou então, em alternativa, que apostem na negociação directa (para uma compra fora de bolsa) com a Rioforte Investments, que está em gestão controlada e que o crédito seja depois concedido, ou não, em função da resposta do juiz luxemburguês. 

 

Como diz a CMVM, ver aqui,"Na pendência do referido processo, todos os procedimentos ou actos, mesmo os iniciados por credores privilegiados estarão suspensos. De igual forma, quaisquer transacções relativas aos activos de uma sociedade sujeita a este processo [de gestão controlada] no Luxemburgo deverão ser propostas pelo Conselho de Administração da mesma e autorizadas individualmente pelo juiz delegado, que para o efeito nomeia dois peritos independentes. O prazo expectável de decisão do juiz delegado rondará os dez dias.

Nos termos do referido comunicado, prevê-se que o juiz do processo "tome a sua decisão sobre a ESFG no dia 6 de outubro de 2014".

 

Eu diria já que a probabilidade de o Grupo José de Mello comprar a ES Saúde em bolsa, ou fora dela, é muito baixa, infelizmente, porque seria sempre a decisão de coração de qualquer português.

Isto vai acabar na Fidelidade, suspeito, que os chineses não são de subestimar. 


8 comentários

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De Maria Teixeira Alves a 25.09.2014 às 14:06

Não, não quero. Ou melhor, todas as decisões são tomadas com o coração, mas quando há normas essas são a premissa primeira, depois vem a ética, e Ceteris paribus,  ou seja, tudo o resto constante, então a decisão é do coração. 
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De Anónimo a 25.09.2014 às 21:28

Maria, no namoro e outras coisas é que as decisões são tomadas com o coração, ... mas no capitalismo esse é o factor menos importante. Espero que nunca me apareça um consultor financeiro ou um broker sentimentalista. O capitalismo não tem pátria. Eu e a Maria é que temos. 

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