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Estou em que o calado armazém na berma da estrada fechara já. Ou, por qualquer razão, não apresentava sinais de vida, deixando os portões ao serviço dos mais atrevidos. Nada era de realce senão o seu imenso canteiro cheio de cor e originalidade. Quase uma miragem nos pragmáticos povoados do Centro. Por ali, um nada além de alguns utilitários estacionados, o grande Volvo abatido ao efectivo. Sepultado e florescendo assolapadamente.
Não houve como não atentar no jarrão. Adivinhavam-se muitos quilómetros de andamento, uns tantos toques de escultura pós-neo-realista na carroçaria... O resultado, a carcaça de uma viatura produto fino da alta burguesia encobrindo-se na imparável trepadeira de glórias-de-amanhã.
É um sinal. O sinal de que a revolução verde está em marcha encobrindo, batalhando, esverdeando. Como outra revolução qualquer. Se o filme findasse aqui, gozaria de toda a simpatia do caricato. Até talvez fosse inspirador. Mas, creio bem, a película acabará em pneus e estofos podres e metal ferrugento somente disfarçados; ou então numa bonita trepadeira amarfanhada pelo reboque serôdio que veio buscar a sucata.
Isto é, em Portugal, ou melhor, na República Portuguesa, os meios artísticos e a Natureza pisam caminhos díspares. Andam nos extremos, não se conciliam, destroem-se mutuamente, não há quem lhes segure o freio. Um automóvel pode ser um vaso florido ou uma chocadeira de ratazanas. Dependendo tudo sempre do ponto de vista de quem vai a votos contra quem antes os ganhou.
Por mim, os restos mortais do Volvo já agora ficavam, com as devidas cautelas sanitárias e uma certeza: todos os "Bordalos" que nos infestam teriam de rever o seu portfólio.
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