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Há mais de dez anos que esse é um dos meus temas constantes de trabalho, e há mais de dez anos que trabalho com o António Alexandre a relação entre cozinha e gestão do território, sendo que em grande parte desse tempo a ideia foi reforçada com o Luís Jordão.
E, de repente, vejo-me a criticar um reitor de uma Universidade que, aparentemente, teria comprado a ideia e, agora, a criticar um primeiro ministro que diz que ""A regra agora é que todos os jantares oficiais têm peixe, porque temos o melhor peixe do mundo", acrescentou António Costa".
As minhas contradições não me incomodam por aí além (eu acho a coerência uma característica muito sobrevalorizada) mas neste caso não é nada disso, é mesmo porque me falta a paciência para conversa ambiental e de adaptação climática que não passa de demagogia a cavalgar uma onda mediática efémera.
António Costa está a falar de um dos grandes (e difíceis) problemas ambientais que temos de gerir: a deplecção dos recursos pesqueiros.
Ou seja, substituir carne por peixe (ou por vegetais) sem saber de que sistemas de produção estamos a falar é completamente vazio do ponto de vista da sustentabilidade ambiental.
Acresce que este governo (e bem) é o mesmo que lançou um programa para pagar a pastores para terem os seus rebanhos a controlar matos para tentar ganhar controlo sobre o fogo, ao mesmo tempo que o Senhor Primeiro Ministro defende um boicote ao consumo de carne, seja ela qual for, em vez de usar os mercados públicos para dar viabilidade aos modelos de produção extensivos.
Mas depois de fazer isto, resolve dar sinal público de que comer carne, qualquer carne, mesmo aquela cuja produção o Estado financia porque presta um serviço ambiental inestimável, deve ser banida das nossas mesas.
Nada disto se prende com questões ambientais, mas apenas com a convicção de que há mais votos a ganhar em grupos urbanos que não fazem ideia de como o mundo é grande e diverso, e que muito mais que os produtos, são os métodos de produção que definem os impactos ambientais, que votos a ganhar com pastores e produtores pecuários objectivamente prejudicados por esta razoira que equivale produção intensiva a produção extensiva.
Se António Costa verdadeiramente quisesse usar os mercados públicos a favor de políticas de adaptação climática, mandaria alguém à oficina de cozinha que neste Sábado vamos fazer em Vouzela, centrada nas três irmãs (milho, feijão, abóbora) para ajudar a viabilizar as explorações que criaram e mantêm as paisagens de socalcos que achamos fantásticas.
Talvez aí pudesse provar umas papas de milho com abóbora, feijão, couves e desfiado de novilho assado cozinhadas pelo António Alexandre e percebesse que a primeira opção das refeições que pretendam contribuir para a adaptação climática, é mesmo a frugalidade e a diversidade.
Como escrevia hoje uma das minhas irmãs "migas (acho que lá para o Alentejo não é a mesma coisa, mas para mim é broa, feijão e couves), arroz de espigos, arroz de vagens, quase todas as sopas com excepção de canja (coisa para doentes ou paridas, que precisavam de um reforço de proteína), feijão com couves, feijão ou favas guisadas só com um cheirinho de carne de porco para dar gosto" são pratos tradicionais, sem carne ou com muito pouca carne e faria muito mais pela adaptação climática adoptar uma cozinha frugal, assente num território que é preciso viabilizar, que com essa parvoíce de banir a carne para a substituir por peixe, não sabemos vindo de onde, pescado com que métodos, conservado de que forma e, sobretudo, em que quantidades é servido.
E se quiser acrescentar um desfiado de cabrito ou borrego, como fez o António Alexandre numa das oficinas em que tentámos dar a conhecer outras maneiras de comer cabrito ou anho, em menos quantidade, aproveitando restos, enriquecendo a base de vegetais, esteja à vontade.
Agora, se quer comer peixe, sejam quais forem as suas razões, por favor, coma o que entender mas poupe-nos à hipocrisia de fingir que está a contribuir para um mundo melhor para mais alguém para além de si próprio.
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