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A 11 de Setembro de 1891 Antero de Quental suicidou-se em Ponta Delgada. Poeta-filósofo, evoluiu a partir do socialismo de Proudhon, para uma visão mais profunda da identidade portuguesa; de crítico das causas da decadência, para um patriotismo cívico; e, de ateu que gritava numa noite de trovoada em Coimbra para ser fulminado por um raio caso Deus existisse, para um crente que jamais abandonou a dúvida metafísica. Foi o pessimista e o idealista em uníssono. Tal como Proudhon, não poupou críticas à democracia burguesa, rejeitando aquele modelo de constitucionalismo liberal. Escreveu com razão António Sardinha: "Camões na Renascença, o Padre António Vieira em Seiscentos, José Agostinho de Macedo na agonia da sociedade antiga, são a representação universal do nosso génio na Epopeia, na Política e no Panfleto. Juntemos-lhe agora Antero na Filosofia." Assim, pôde também pacificamente Luís de Almeida Braga chamar a Antero de "mestre da contrarrevolução".
O sentimento de decadência nacional parecia inflamar as inteligências, socorrendo-se da morte voluntária como revolta do instinto contra as circunstâncias. Antero, Soares dos Reis, Camilo Castelo Branco, Manuel Laranjeira, mais tarde Trindade Coelho, anunciavam um astro nefasto que parecia engolir a própria terra portuguesa. Unamuno não foi indiferente, rotulando Portugal como “terra de suicidas”. Ainda que os motivos nem sempre coincidissem com um patriotismo aniquilado, como aconteceu com Camilo, cuja cegueira contribuiu para a sina trágica.
Pessimismo nacional, glosado pelas penas verbosas da Geração de 70, ao ponto de se tornar um cliché de intelectuais ansiosos por encontrar alternativas fortes ao modelo constitucional: fosse o republicanismo ou o cesarismo. Da poesia ao romance as páginas cobriram-se de visões obscuras de uma morte anunciada. A primeira geração romântica não tinha deixado despercebido este desencanto, quando Herculano se autoexila, deixando o eco do seu desalento: "Isto dá vontade de morrer."
O fim de século apenas consubstanciou o sentimento arrastado ao longo de décadas. Antero não deixou de reunir no seu verbo a própria síntese do pessimismo, ao mesmo tempo que alimentava o desejo de redenção. O poeta desdobrou a sua poesia nas dimensões profundas do ideal. Na identidade ontológica fica a dúvida do Ser e na preocupação metafísica a consequência da alma que busca a divindade perdida. É o convertido que não encontra Deus: “Amortalhei na Fé o pensamento/ E achei a paz na inércia do esquecimento…/ Só me falta saber se Deus existe!” O atormentado, absorvido com a morte: “O que diz a morte”, “Elogio da Morte” e os sonetos finais reclinados para o pessimismo de uma vida resoluta, é o sentido trágico do combate. Assim podia concluir: “Porém o coração, feito valente/ Na escola da tortura repetida,/ E no uso de penar tornado crente,/ Respondeu: desta altura vejo o Amor!/ Viver não foi em vão, se é isto a vida,/ Nem foi de mais o desengano e a dor.”
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