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Ano horribilis

por João-Afonso Machado, em 16.12.17

"Comemora-se" agora o cinquentenário do maior desastre em Lisboa e arredores desde o terremoto de 1755. Lembro perfeitamente, estava na Capital essa altura, e as pessoas falavam num número de vítimas das inundações superior às cinco centenas. Depois - miúdo ainda - não tive consciência da intervenção da Censura impondo à imprensa números menos chocantes, alguns cento e tal arrastados pela lama e afogados. A razão era simples: grande parte dos mortos vivia em bairros de lata, muito "romanticamente" situados junto às ribeiras afluentes do Tejo. Misérias da grande cidade, clandestinas mas consentidas...

Nem de propósito, cinquenta anos volvidos, não obstante as inovações técnicas supostamente existentes, quase 200 pessoas morreram, já não nesse turbilhão de lama e água, mas cozidas no fogo dos incêndios. Aliás, um desfecho que, é da maior honestidade dizê-lo, se adivinhava há muito tempo.

Porquê? Porque nada se fez para - ao longo de ininterruptas temporadas estivais de fogos demolidores - prevenir perigos tais como edificar e viver entre matos altamente combustíveis.

Foi, neste capítulo, um ano sem par. Em que, supostamente, existia um sistema - o famigerado SIRESP - apto a combater desastres desta natureza e a proteger os cidadãos..

Nada funcionou. E o grande Costa deixou tudo arder uma, duas, três vezes e, na altura própria, - naquela fornalha infernal já em Outubro - apareceu, começou por declarar a sua inteira confiança na Ministra da Administração Interna e acabou demitindo-a, mais ou menos disfarçadamente.

Só manobras decorrendo ao largo da percepção dos portugueses. Com vagar para estes irem esquecendo o sucedido no dia anterior, algo muito nosso.

Entretanto, as Forças Armadas passaram pela vergonha de serem roubadas nos seus próprios paióis.

Entre outros escândalos surgiu agora o da instituição Raríssimas, de cujos orgãos sociais fez parte o ministro Vieira da Silva.

É certo, não se trata um Vieira a Silva como se trata uma Urbano de Sousa. Aquele tem outro peso, outro pedigree... Mas já li algures haver um «plano B» para a eventualidade de ser preciso substituí-lo. Tudo dependerá da evolução da situação. Costa honra sempre o seu - consigo próprio - compromisso de queimar a terra toda para manter a sua política de permanência.

Por isso, quando Santana Lopes vem garantir o Governo de Costa não conclui a legislatura, eu abraço de alma e coração a pertinácia e a esperteza de Rio. De resto, um social-democrata, como eu também me definiria se andasse muito preocupado com ideologias.


3 comentários

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De Anónimo a 16.12.2017 às 19:59

Ok! um pouco de demagogia à mistura. Até parece que os jornais não publicavam fotos da inundação!
Na Avenida Berna as pessoas tinham água pela cintura!
Kosta  é que escondia o nome dos mortes e não atino o porquê.
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De Anónimo a 17.12.2017 às 11:39

nada se fez para prevenir perigos tais como edificar e viver entre matos altamente combustíveis

De facto, neste ano está-se a repetir este erro. Reconstroem-se as casas que arderam exatamente no mesmo local, nas mesmas aldeolas, em que elas se situavam - ou seja, no meio dos matos altamente combustíveis. Está-se a edificar, e a preparar as pessoas para que elas continuem a viver, no meio das florestas.

Em vez de se ter aproveitado a ocasião para deslocar as pessoas para as vilas, permite-se e financia-se que elas continuem a viver no meio dos matos altamente combustíveis.

Ou seja, repete-se o erro.
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De Anónimo a 17.12.2017 às 18:35

Não acho bem que se fale assim do Costa. É certo que o gajo é um filho da puta da pior espécie. Mas o Rio não é melhor. Cospe muito na sopa.

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