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Anjos, ascetas, milagreiros. E Montenegro

por Jose Miguel Roque Martins, em 03.03.25

Não há nada que perturbe tanto os portugueses como o dinheiro e a sua proveniência. Durante séculos, o dinheiro do comercio e indústria eram mal vistos, influencia da Igreja. No Estado Novo, tivemos um certo culto da pobreza. Agora, continuamos a estigmatizar o dinheiro. O argumento actual, se podemos falar em argumentos é mais ideológico, o mito dos benefícios da igualdade. Que esconde a convicção, de quase todos, de que só se ganha dinheiro com corrupção, droga e outras malfeitorias. Dinheiro velho, ganho pelas trapaças da geração anterior, parece perder o fedor. Mas só quanto à sua proveniência suspeita, no resto, mantém-se uma tradicional inveja, que se manifesta em alfinetadas subtis, ou em manifestações mais claras.

A sobriedade, no meu caso, não me assenta mal. Não é uma escolha, é uma necessidade. Por mim, gostava de ter muito mais dinheiro do que tenho, poder esbanjar em restaurantes consagrados, beber os melhores vinhos e por aí fora. Não posso

, mas gostaria. As minhas limitações não me incomodam e fico muito feliz que, cada vez mais, haja quem o possa fazer.

Esta má relação com o dinheiro é uma das razões pelas quais não o temos. Hoje vou só falar nas suas consequências para a estrutura política da república.

Uma cobardia ideológica de todos os partidos, levou a que os mais altos cargos de governação tenham salários ao nível do país, ou seja, sejam miseraveis. Ou seja, são ridiculamente baixos. Actualmente, alguém que não seja rico, só pode abraçar a vida publica, com enorme sacrifício financeiro. Se queremos aqueles que mais garantias dão de eficiência e capacidade, temos naturalmente de visar aqueles que se destacaram, com provas dadas. O que, se exceptuarmos parte da academia (já nos Estados Unidos, não é incomum um professor ganhar mais de 1 milhão de Dólares), significa concorrer com a actividade privada, que já paga razoavelmente aos seus quadros superiores (grandes vencedores da globalização).

Ao problema da fraca atracção económica que os cargos políticos exercem, junta-se o estigma social de se ser político. Antes uma honra, hoje o mais mediático e sinistro cadastro.  Até faz algum sentido, ser político, hoje, só parece compreensível porque poucos, acreditam que alguém esteja disponível para piores remunerações, se não tiverem a perspectiva, por corrupção ou por trafico de influências futuras, compensar os anos magros de governação. Uma eventual projecção do que realmente pensam que fariam em idênticas situações, ou porque consideram que existe uma associação de bandidos, que tudo controla e  de onde são recrutados os políticos.

 

Acresce o escrutínio impiedoso da vida pessoal de quem ocupa cargos de ministro e secretários de Estado, que ultrapassam todos os limites razoáveis.

Não queremos políticos. Queremos anjos, ascetas altruístas, espetacularmente capazes de resolver problemas, respeitando restrições quase impossíveis de ultrapassar. Ainda não conheci nenhum. 

Esta cronica, requer um comentário sobre a questão Montenegro, o caso da sua empresa familiar.

Até acredito em não ser Montenegro alguém propenso á corrupção. Parece compreensível que, posto perante (o para ele) modestíssimo salário de primeiro-ministro, não tenha querido perder um conjunto de avenças que tinha alcançado, que compunham o orçamento familiar.  Dito isto, não deixa de ser evidente que as avenças, pelo seu valor, não encontram justificação, sem imaginar que sejam explicados por gestão fiscal, que os  talentos de Montenegro ainda sejam ( prestado em horas fora do expediente) a real justificação do seu valor, ou que seja afinal, a sua posição política, a sua capacidade de influência, que expliquem o seu valor.

Nenhuma das justificações, por mais compreensíveis que sejam, parecem ser ideais. Não parece razoável termos um primeiro-ministro envolvido na fuga ao fisco, não parece aceitável termos um primeiro-ministro com dois empregos, não é admissível reconhecer “influencias” como um complemento salarial.

Claro que, como ninguém quer eleições, não é provável que Montenegro se demita. Pior, é este episodio não promover a correção da estrutura salarial dos mais altos servidores do Estado, contribuindo para que os casos e casinhos e o afastamento de pessoas com valor, continuem.

 

 

 


11 comentários

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De cela.e.sela a 03.03.2025 às 15:52

Montenegro não é político profissional, como a quase totalidade que vive da esmola dos contribuintes.
Ana Catarina atirou-se a ele e, contundo, passou 25 anos na AR a bater palmas. 
a inveja não tem limites. Já me invejaram tudo, exceto o meu trabalho. recusei cargos do estado e da política, porque já me chegam os enxovalhos diários. 
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De O apartidário a 04.03.2025 às 21:12

Amador também não é. 
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De jo a 03.03.2025 às 17:39

Não parece haver falta de candidatos para políticos. Nem me parece que os políticos passem fome.
Grande parte dos ricos não o é por mérito próprio, herda a furtuna, faz umas negociatas (tipo adendas ao PM).
Os nossos gestores privados onde se paga bem, poderiam diminuir o problema da diferença entre os salários dos trabalhadores miseráveis e o dos políticos remediados aumentando os salários dos trabalhadores. Assim já se podia aumentar o salário dos políticos sem chocar ninguém.
Custa a perceber como certos empresários dizem num dia que são bem pagos porque a empresa deles é um sucesso e no dia seguinte digam que não se podem aumentar salários porque as empresas não aguentam. 
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De passante a 03.03.2025 às 18:56

como ninguém quer eleições,


hmm ... de certeza?

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De anónimo a 03.03.2025 às 19:39

Depois admiram-se dos Chegas....
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De cela.e.sela a 04.03.2025 às 08:48

'chega para lá que é a minha vez'
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De lucklucky a 03.03.2025 às 19:51


Politico que defende mais regulação até cria empresa para lidar com a regulação...


Boa parte dos politicos são advogados que se dedicam desde há décadas a criar mais e mais leis. A assegurar mais trabalho.


Mas isto já não são "incompatibilidades" "conflito de interesses" pois os jornalistas activistas concordam com o Estado em tudo.




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De Anónimo a 04.03.2025 às 11:14


Não parece razoável termos um primeiro-ministro envolvido na fuga ao fisco


O próprio facto de ele ter formado uma empresa para faturar trabalhos de consultoria que são, na prática, trabalhos que podem perfeitamente ser executados a recibo verde, configura uma fuga (embora não ilegal) ao fisco. Foge ao fisco já porque paga IRC em vez de pagar IRS, já porque endossa às despesas da empresa coisas como viagens de automóvel, almoços em restaurantes, etc.


O facto de ter incluído na empresa a cônjuge e os filhos, que nada fazem nela, é mais uma fuga ao fisco, um vez que também os ganhos e despesas deles ficam incluídos na fraude do parágrafo anterior.
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De Francisco Almeida a 04.03.2025 às 13:15

Já por aqui comentei isto. O erro é de distorção das regras fiscais. Actividade empresarial por conta própria e com contabilidade organizada, devia ser tributada em IRC e não em IRS. Acabava-se o incentivo (e que incentivo) para criar empresa com o cônjuge e até o absurdo das sociedades em nome individual. 
E a responsabilidade limitada é uma farsa, pois numa sociedade individual ou familiar, qualquer banco exige o aval do(s) sócio(s). 
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De Silva a 04.03.2025 às 12:29

Irrelevante.
O que é preciso é implementar, rapidamente e em força, reformas estruturais a começar, repito, a começar pela abolição do salário mínimo, liberalização dos despedimentos e abolição dos descontos seguindo-se outras reformas estruturais.
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De Albino Manuel a 04.03.2025 às 14:11

Tão novo e tão velho. Não tem dinheiro para vinhos finos? Beba cerveja.


Pelos vistos voltámos ao tempo de Costa Cabral, citado por Oliveira Martins: roubei? Roubámos todos. Senhor Duque de Saldanha, o quadro custou 400 mil réis, o pintor só recebeu 220 mil, para onde foi o resto?

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