Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Não há nada que perturbe tanto os portugueses como o dinheiro e a sua proveniência. Durante séculos, o dinheiro do comercio e indústria eram mal vistos, influencia da Igreja. No Estado Novo, tivemos um certo culto da pobreza. Agora, continuamos a estigmatizar o dinheiro. O argumento actual, se podemos falar em argumentos é mais ideológico, o mito dos benefícios da igualdade. Que esconde a convicção, de quase todos, de que só se ganha dinheiro com corrupção, droga e outras malfeitorias. Dinheiro velho, ganho pelas trapaças da geração anterior, parece perder o fedor. Mas só quanto à sua proveniência suspeita, no resto, mantém-se uma tradicional inveja, que se manifesta em alfinetadas subtis, ou em manifestações mais claras.
A sobriedade, no meu caso, não me assenta mal. Não é uma escolha, é uma necessidade. Por mim, gostava de ter muito mais dinheiro do que tenho, poder esbanjar em restaurantes consagrados, beber os melhores vinhos e por aí fora. Não posso
, mas gostaria. As minhas limitações não me incomodam e fico muito feliz que, cada vez mais, haja quem o possa fazer.
Esta má relação com o dinheiro é uma das razões pelas quais não o temos. Hoje vou só falar nas suas consequências para a estrutura política da república.
Uma cobardia ideológica de todos os partidos, levou a que os mais altos cargos de governação tenham salários ao nível do país, ou seja, sejam miseraveis. Ou seja, são ridiculamente baixos. Actualmente, alguém que não seja rico, só pode abraçar a vida publica, com enorme sacrifício financeiro. Se queremos aqueles que mais garantias dão de eficiência e capacidade, temos naturalmente de visar aqueles que se destacaram, com provas dadas. O que, se exceptuarmos parte da academia (já nos Estados Unidos, não é incomum um professor ganhar mais de 1 milhão de Dólares), significa concorrer com a actividade privada, que já paga razoavelmente aos seus quadros superiores (grandes vencedores da globalização).
Ao problema da fraca atracção económica que os cargos políticos exercem, junta-se o estigma social de se ser político. Antes uma honra, hoje o mais mediático e sinistro cadastro. Até faz algum sentido, ser político, hoje, só parece compreensível porque poucos, acreditam que alguém esteja disponível para piores remunerações, se não tiverem a perspectiva, por corrupção ou por trafico de influências futuras, compensar os anos magros de governação. Uma eventual projecção do que realmente pensam que fariam em idênticas situações, ou porque consideram que existe uma associação de bandidos, que tudo controla e de onde são recrutados os políticos.
Acresce o escrutínio impiedoso da vida pessoal de quem ocupa cargos de ministro e secretários de Estado, que ultrapassam todos os limites razoáveis.
Não queremos políticos. Queremos anjos, ascetas altruístas, espetacularmente capazes de resolver problemas, respeitando restrições quase impossíveis de ultrapassar. Ainda não conheci nenhum.
Esta cronica, requer um comentário sobre a questão Montenegro, o caso da sua empresa familiar.
Até acredito em não ser Montenegro alguém propenso á corrupção. Parece compreensível que, posto perante (o para ele) modestíssimo salário de primeiro-ministro, não tenha querido perder um conjunto de avenças que tinha alcançado, que compunham o orçamento familiar. Dito isto, não deixa de ser evidente que as avenças, pelo seu valor, não encontram justificação, sem imaginar que sejam explicados por gestão fiscal, que os talentos de Montenegro ainda sejam ( prestado em horas fora do expediente) a real justificação do seu valor, ou que seja afinal, a sua posição política, a sua capacidade de influência, que expliquem o seu valor.
Nenhuma das justificações, por mais compreensíveis que sejam, parecem ser ideais. Não parece razoável termos um primeiro-ministro envolvido na fuga ao fisco, não parece aceitável termos um primeiro-ministro com dois empregos, não é admissível reconhecer “influencias” como um complemento salarial.
Claro que, como ninguém quer eleições, não é provável que Montenegro se demita. Pior, é este episodio não promover a correção da estrutura salarial dos mais altos servidores do Estado, contribuindo para que os casos e casinhos e o afastamento de pessoas com valor, continuem.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
Existe um país liberal, que por coincidência é o m...
Botswana, ali ao lado 20000 per capita.pppMoçambiq...
Exatamente.Se a eficiência dos médicos, dos políci...
Não, um aspirante a liberal cujo bolso disso não o...
São todos, são todos.No fundo, querem liberalismo ...