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Quando no passado domingo, dia 27, Portugal perdeu um dos seus últimos grandes intelectuais, eu escrevi aqui que tinha morrido um dos grandes intelectuais de Direita. Fui criticada. Cometi o sacrilégio de dizer que um dos homens mais inteligentes do país era de Direita. Como eu sou. Quase que me disseram que eu estava a denegrir o Vasco Graça Moura.
Um país sempre disponível para o pensamento fácil e estereotipado, de que Vasco Graça Moura não era um exemplo, facilmente bebeu a aversão à palavra Direita. Ninguém quer ser de Direita. Têm medo da palavra. Vê-se muita gente de Direita a dizer que é de Centro. O Centro é como o preto para as Senhoras: "com um vestido preto nunca me comprometo"! Portugal é assim povoado pelas meias-tintas. Tudo muito preocupado com o politicamente correcto. O que a maioria dos mediáticos disserem é que é para seguir. Ser de Direita é um insulto que serve apenas para atirar aos Governos quando são de Direita, como o de Pedro Passos Coelho.
Vem este intróito para dizer que finalmente alguém diz sem medo, e sem retirar os merecidos elogios, que Vasco Graça Moura era um homem intrinsecamente de direita e conservador. Diz Daniel Oliveira na sua crónica do Expresso que "Graça Moura era, ao contrário do que diz Maria Teresa Horta, intrinsecamente de direita. Mesmo como intelectual. E no que defendia como políticas públicas para a cultura ainda mais". E acrescenta que: "Acontece que Graça Moura era um conservador. E ser de direita e conservador, apesar de não ser irrelevante para o seu perfil intelectual e cultural, em nada beliscava as suas qualidades literárias".
"Penso perceber o que estava na cabeça de Maria Teresa Horta. No momento do elogio fúnebre (ainda por cima a um amigo), misturam-se, mesmo que involuntariamente, duas coisas: um preconceito específico da esquerda e o preconceito político mais geral. Para Maria Teresa Horta, um intelectual tão admirável não podia estar no lado oposto da barricada. O preconceito da esquerda é este: a direita é ignorante, inculta e odeia a liberdade das artes. O que torna o posicionamento político de Graça Moura, homem culto e "das letras", "contranatura". É claro que é um disparate. A direita não é nem mais nem menos culta do que a esquerda. Acontece apenas que a esquerda foi culturalmente hegemónica na segunda metade do século XX. E ainda mais em Portugal. Contou, por isso, com o apoio da grande maioria dos intelectuais. Mas, como é evidente nas gerações mais novas, não vive numa qualquer superioridade intelectual ou cultural. Tem um olhar diferente sobre o papel dos intelectuais na vida pública? Provavelmente. Tem um olhar diferente sobre a democratização do acesso à cultura? Seguramente. E nisso Graça Moura era indiscutivelmente de Direita".
Confesso-me surpreendida porque das únicas vezes que troquei mensagens com Daniel Oliveira senti-o precisamente um preconceituoso de esquerda. Nesta crónica prova que afinal consegue não o ser. Mais do que isso, consegue reconhecer que há um preconceito de esquerda que vê todas as pessoas de Direita e conservadoras como ignorantes. Isso é muito bom. Mesmo muito bom.
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