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Nas semanas anteriores às eleições, quer Vera Gouveia Barros, quer Susana Peralta, resolveram embicar com a "ADSE para todos" proposta pela Iniciativa Liberal e também pelo CDS.
A proposta do CDS, tanto quanto li, é mais vaga e portanto não vou tratar dela (embora tenha sido sobre essa proposta que Vera Gouveia Barros se pronunciou).
O que me interessa, passadas as eleições, é o facto de um slogan ter conseguido chamar a atenção para a questão da liberdade de escolha na saúde.
O slogan é apenas um slogan e, na verdade, muito impreciso, para não dizer errado, visto que a proposta da Iniciativa Liberal está longe de ser uma ADSE para todos, na verdade é um seguro social obrigatório.
No entanto parece-me que o slogan da Iniciativa Liberal está perfeitamente dentro do que é admissível, mesmo tendo eu alguma distância de alguma demagogia que aqui e ali aparece no discurso da Iniciativa Liberal e que se pode admitir que esteja no slogan (que seja claro, votei na Iniciativa Liberal, colaborei do programa eleitoral e espero que a luta continue no sentido de estruturar melhor uma verdadeira opção liberal para Portugal, independentemente de saber que frequentemente não estarei de acordo. No dia em que achar que um partido deve ser exactamente o que eu penso, eu candidato-me).
Só que, no essencial, qualquer pessoa percebe o que o slogan quer dizer: essencialmente o que se pretende é que a liberdade de escolha dos mais pobres se aproxime da liberdade de escolha de que gozam os funcionários públicos que têm acesso à ADSE.
A imprecisão é a mesma que existe quando os supermercados põem o tomate nos legumes, quando é um fruto, e põem os figos e os morangos nos frutos: no rigor das classificações botânicas, são tudo erros, mas toda a gente se entende a partir destas imprecisões de linguagem.
Mas mais interessante que quem se incomodou por achar o slogan enganador, são as pessoas que partiram à desfilada a tentar demonstrar que há problemas complicados nos sistemas de saúde públicos que assentam em seguros sociais obrigatórios, esquecendo-se de assinalar os enormíssimos problemas que também existem nos sistemas mais estatizados, ao ponto do modelo do Reino Unido, que serve de referência aos sistemas estatizados, se ter tido de adaptar para não colapsar, sendo hoje, em muitos aspectos, um gestor da prestação de serviços de terceiros, não sendo por acaso que foi aí que nasceram as parcerias público privadas.
Todos os sistemas públicos de saúde têm problemas sérios: a) o sistema americano, o mais inovador, de maior grau de satisfação dos utentes que lhe acedem e que melhor paga aos seus profissionais, é um sistema com um gravíssimo problema de acesso, já que cerca que 18% da sua população não tem acesso aos cuidados de saúde, para além de ser um sistema caríssimo; b) os sistemas mais estatizados têm gravíssimos problemas de eficiência, pagam mal aos seus profissionais (um grande problema do sistema do Reino Unido) e acabam por criar um sistema dual em que só os ricos têm direito de escolha e garantia de tratamento adequado, os outros dependem de uma roleta no momento em que precisam dos cuidados de saúde; c) os sistemas assentes em seguros sociais obritgatórios têm problemas de restrição de acesso para os tornar sustentáveis e outras questões.
Mas o que me interessa em que vez de se discutir realmente as propostas em cima da mesa, a generalidade dos que comentam publicamente o assunto ou se entretêm a desmontar as ideias de que não gostam (esquecendo-se de fazer o mesmo às ideias com que simpatizam), ou se entretêm a demonstrar que um slogan como ADSE para todos é um slogan enganador, como se o eleitor médio fosse intelectualmente incapaz de distinguir a ideia geral de um slogan e o que a realidade vai impôr aos políticos na prática.
No fundo, no fundo, o crime da Iniciativa Liberal foi ter proposto slogans eficazes para as ideias que tinha para apresentar, mesmo que à custa de alguma imprecisão, como é o caso do "ADSE para todos".
Tivesse proposto slogans como "Gente de confiança", um slogan politicamente vazio que se limita a fazer um julgamento moral dos adversários, como fez o BE, e nenhum burburinho se levantaria.
No fundo, todos achamos que é preciso uma actuação política diferente, mas quando ela realmente aparece, entretemo-nos a criticá-la exactamente por ser diferente.
Na verdade o nosso problema não é a má qualidade dos políticos, o nosso problema é mesmo a nossa falta que qualidade e de exigência connosco próprios.
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