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A sinalização de virtude a propósito da Universidade Católica

por henrique pereira dos santos, em 29.09.22

Tinha a intenção de fechar hoje a série sobre o movimento ambientalista, e depois faria um post sobre a reacção de sinalização de virtude a propósito da aplicação de regras de acesso a curso de medicina da Universidade Católica.

João Miguel Tavares, publicando hoje no Público uma crónica tão representativa dessa sinalização de virtude, acabou por me trocar as voltas e vou fazer primeiro este post, deixando o outro para outra altura.

No primeiro curso de medicina da Universidade Católica há um aluno que entrou no contingente de vagas supranumerárias, por ser descendente em linha recta de um benemérito insigne da Universidade.

Aqui d'El Rey, "é totalmente inaceitável numa instituição que beneficia do estatuto de universidade pública", escreve João Miguel Tavares e, acrescenta, "sobretudo, numa instituição que se assume orgulhosamente católica".

Note-se que o mesmo João Miguel Tavares responde a si mesmo "a Católica poderia sempre argumentar que queria ser uma Harvard portuguesa: o preço de aceitar os filhinhos de papás multimilionários traduzir-se-ia em rios de dinheiro para construir uma uma universidade de topo".

Descontando o habitual tom com que em Portugal se fala dos muito ricos, João Miguel Tavares explica bem o problema: para fazer boas universidades são precisos recursos e as melhores do mundo usam mecanismos de financiamento que, frequentemente, conduzem à introdução de regras cujo objectivo é cativar o interesse dos muito ricos em desviar parte dos seus recursos para essas universidade.

Portanto, e em primeiro lugar, esta é a questão: a captaçãode recursos para que seja possível ter melhores universidades (não vou perder tempo com o argumento de que incluir o filho da senhora da secretaria nos mesmos 3% de vagas supranumerárias é beneficiar a endogamia porque penso que o próprio João Miguel Tavares, quando lhe passar a indignação, reconhecerá que é um argumento completamente absurdo).

A sinalização de virtude assenta em dois ou três argumentos, uns falsos, outros grosseiramente pouco rigorosos e em muita omissão de informação.

Diz João Miguel Tavares que o candidato com 15,8 valores ultrapassou uma boa vintena de outros candidatos que existirão entre os 16,9 da seriação geral e esses 15,8. Sim, é verdade que se não fosse pelo mecanismo excepcional esse aluno de 15,8 não entraria no curso, mas nenhum dos outros o substituiria, ficariam todos de fora, na medida em que se trata de vagas supranumeárias, o seu não preenchimento não aumenta as vagas do contingente geral.

Ou seja, a ausência da regra apenas tinha uma consequência para os alunos: todos ficavam pior, haveria menos um aluno no curso, nada mais.

Mas João Miguel Tavares diz mais: "atribuem vantagens aos filhos e netos dos funcionários e patrocinadores da casa, independentemente dos seus méritos individuais".

O problema com esta afirmação é o de que é falsa, porque para que estes alunos possam entrar há critérios mínimos, que aliás se aplicam a todos os candidatos, nomeadamente uma média de 15 valores, ou seja, não basta ser o filho da senhora da secretaria ou o neto de um benemérito insigne - estatuto que é atribuído por um órgão colegial da universidade, não é uma decorrência directa do valor de uma determinada contribuição-, é preciso juntar a essa possibilidade de concorrer pelos 3% de vagas supranumerárias o mérito individual de ter, pelo menos, média de 15.

O maior erro de análise desta sinalização de virtude, parece-me, está no facto de se considerar que a seriação por nota traduz essencialmente o mérito individual dos candidatos, omitindo que o factor que, em Portugal, está mais correlacionado com as notas dos alunos, é a condição sócio-económica das famílias, esse sim, o verdadeiro escândalo do nosso sistema de ensino, em primeiro lugar, e do nosso sistema de acesso à universidade, em segundo lugar, em especial nos cursos com notas mais altas de ingresso.

João Miguel Tavares reconhece que injustiças sempre haverá, omitindo que a principal injustiça está na forma como o nosso sistema de ensino e de acesso ao ensino superior penaliza quem vem de famílias com menos recursos, para se concentrar no "descaramento desta injustiça em particular".

Depois de reconhecer que a generalização de regras deste tipo poderia resultar em melhores universidades (e, acrescento eu, em universidades mais inclusivas com base no mérito, porque liberta recursos para o apoio a alunos sem recursos para pagar os custos de frequência em universidades de topo), depois de reconhecer que injustiças sempre haverá, omitindo que estas regras se aplicam apenas a vagas supranumerárias, não afectando as entradas no contingente geral, omitindo que essas vagas só existem no máximo até 3% do contingente geral, e na medida em que existam candidatos que, simultaneamente, demonstrem que cumprem requisitos mínimos de nota e os critérios de acesso a esse contingente especial, afinal o escândalo é que esta injustiça é descarada.

E, sendo o respeitinho muito bonito, podemos esquecer o escândalo do nosso sistema de ensino produzir resultados em notas que se correlacionam com o estatuto económico das famílias e podemos esquecer o escândalo de este problema só existir por causa da cedência do Estado aos médicos instalados e à ordem dos médicos, porque esses são escândalos que não são descarados.

Se dúvidas houvesse sobre o que está em causa nas reacções de que a crónica de João Miguel Tavares é apenas um bom exemplo (há as habituais reacções jacobinas, trogloditas e infantis, eu escolhi comentar um texto que não é nada disso), a comparação final entre a venda de indulgências e o estabelecimento de regras deste tipo, desfaria qualquer dúvida: é apenas a sinalização de virtude que está em causa.

O problema real não é a católica ter regras destas, o problema é termos sempre a mania contestar regras eficazes para mobilizar recursos, do que resultam melhores soluções sociais, com o argumento de que há alguém em particular que é mais beneficiado que outros, sendo por isso preferível ficarmos todos pior a aceitar a realidade tal como ela é.


38 comentários

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De entulho a 29.09.2022 às 09:10

preocupem-se com os maridos das ministras que recebem 200 mil de fundos públicos
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De anónimo a 29.09.2022 às 10:03


Universidades, ou outras instituições de ensino, subsidiadas ou com benefícios estatais estam sujeitas à legislação em vigor quanto às admissões dos candidatos.

O que poderá ser discutível é a respectiva lei e/ou comprovadas omissões.
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De entulho a 29.09.2022 às 11:15

a coisa a que chamam estado faz concursos 'púbicos', mas já se sabe quem ganha
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De jo a 29.09.2022 às 10:25

"O maior erro de análise desta sinalização de virtude, parece-me, está no facto de se considerar que a seriação por nota traduz essencialmente o mérito individual dos candidatos, omitindo que o factor que, em Portugal, está mais correlacionado com as notas dos alunos, é a condição sócio-económica das famílias, esse sim, o verdadeiro escândalo do nosso sistema de ensino, em primeiro lugar, e do nosso sistema de acesso à universidade, em segundo lugar, em especial nos cursos com notas mais altas de ingresso."


Então para evitar essa injustiça põe-se as vagas à venda. Quem paga o suficiente entra. Pelo menos não é hipócrita.
A Católica deveria fazer um leilão das vagas, quem paga mais entra primeiro. Pode não melhorar a qualidade dos formandos mas melhora a qualidade de vida dos formadores, o que já é alguma coisa.
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De henrique pereira dos santos a 29.09.2022 às 11:10

Eu sei que se tentar, mas tentar mesmo a sério, consegue ler o que está no post.
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De jo a 29.09.2022 às 19:19

Dê as voltas que der, seja qual for a análise que seja feita, a verdade é só uma: A vaga foi comprada por um "benemérito", o que implica dizer que há vagas disponíveis para quem paga mais na Católica.
Compreendo que se defenda a primazia do dinheiro (é com ele que se compram os melões), já a hipocrisia de fingir que isto é outra coisa é dolorosa de se ver.


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De henrique pereira dos santos a 30.09.2022 às 06:39

Não é por escrever uma coisa que ela passa a ser verdade.
Em qualquer caso, não percebi em que ponto do texto identifica essa hipocrisia.
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De balio a 30.09.2022 às 09:51


A vaga foi comprada por um "benemérito", o que implica dizer que há vagas disponíveis para quem paga mais na Católica.


Isso é verdade. O que Henrique Pereira dos Santos procurou explicar foi que, no entanto, este sistema acaba por ser mais vantajoso que desvantajoso.
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De jo a 30.09.2022 às 23:21

Claro que é mais vantajoso, ganha-se mais dinheiro. É disso que se trata.
Escusam é de andar à roda a tentar provar que defendem o mérito, o que está aqui em causa é o mérito do dinheiro. Como se a escolha por esse processo evitasse algum defeito que outro tipo de processo tenha.
Que garantias tem que os descendentes de beneméritos são melhores que os alunos com melhores notas? Porquê não escolher os alunos pela cor dos olhos, pela altura ou pelas convições políticas?
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De henrique pereira dos santos a 01.10.2022 às 09:36

Mas quem são esses malandros que andam às voltas a tentar defender o mérito?
Onde está isso no texto?
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De Anónimo a 29.09.2022 às 20:41

Lamento, o Jo é um velho conhecido, mesmo tentando a sério ele não vai lá.
Não é que eu não lhe reconheça bom senso em muita coisa e há muitos anos, mas há algumas em que ele nunca falha e cai sempre para o mesmo lado.
Problemas de um benemérito mas da instituição errada.
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De Anónimo a 02.10.2022 às 10:33

Os 3% de alunos estão abrangidos por um critério de entrada excepcional (por não acontecer em mais nenhuma parte). Nada a abjectar. Mas levanta algumas dúvidas... Percebe-se a quem o critério se aplica. Mas não ficou muito claro quando se aplica, i.e. quais são os limites temporais nem como se aplica. 

Por exemplo: estes alunos estão protegidos por esse critério só  para efeitos de entrada na Universidade? E o privilégio «temporalmente» cessa aí, ao contrário dos vínculos familiares que se mantêm ? Ou tudo se mantém (subtilmente) "em vigor"  durante o percurso académico?  A pergunta não é despicienda. Porque repare bem: ao baixar-se  o grau de exigência para os 3% de alunos com determinados vínculos familiares _ que os "protegeu" à entrada _ nada garante que o mesmo mecanismo de menos rigidez não continue a aplicar-se para "amparar" esse contingente de alunos "à saída". 
Em relação aos restantes alunos: Justiça e Equidade, eis a questão.
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De Anónimo a 02.10.2022 às 13:24

Corrijo:  "Nada a a objectar"
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De henrique pereira dos santos a 02.10.2022 às 14:52

O seu comentário não faz o menor sentido.
1) Em todas as universidades e cursos existem candidaturas supranumerárias. Os critérios variam (relativamente pouco), a única questão aqui é o facto da Católica incluir os filhos dos funcionários permanentes e os descendentes directos de grandes benficiários;
2) Claro que é só no acesso, nem percebo a dúvida;
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De Anónimo a 03.10.2022 às 09:24

O argumento que apresenta na alínea  1) não é válido, porque existe um critério  cego  na  admissão desses alunos supranumerários nas outras universidades. A única semelhança entre estas e a católica, está no facto de existirem candidaturas supranumerárias em ambos os casos. E os paralelismos terminam aí.
De resto, não custa imaginar  donde partiu a sugestão que implica dar mas sub conditione : no pacote vai um "brinde". Oh! O vil metal 
Para sossegar as consciências (pesadas!) _ e, sobretudo, como «sinalização de virtudes» de inclusão _  meteram-se uns filhos de funcionários para se tapar as bocas do mundo.
«««««««««««««««««««««««««««
Fazendo o exercício ao contrário: Se depois de tudo somado, houver bons resultados e benefícios para o país (sempre é melhor ter Harvards )  então não ponho nenhumas reticências nos critérios, meios ou métodos utilizados, se se revelem eficazes na solução de problemas. 
Assim sendo, não tenho objecções 
 -desde que o objectivo do critério usado seja criarem-se melhores universidades que potenciem o Conhecimento e o desenvolvimento do país;
_desde que apresentam bons resultados, através da boa gestão dos recursos, com eficácia e competência, que possibilitem o melhoramento das condições socio-económicas de indivíduos desfavorecidos e sub-aproveitados;
- desde que corrijam as desigualdades e façam funcionar o "elevador social" pelo método de inclusão dos mais desfavorecidos.  
.O Sr.disse:
O problema real não é a católica ter regras destas, o problema é termos sempre a mania de contestar regras eficazes para mobilizar recursos, do que resultam melhores soluções sociais"_  Sintetizou bem o HPS: importa  mais discutir os bons resultados, e ceder a "regras destas" (menos convencionais) do que contestá-las. Afinal, revelam-se eficazes e mais produtivas para o país. O resultado é primordial, é isso que está em causa.
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De Luis a 29.09.2022 às 10:47

O seu último parágrafo resume na perfeição o modelo socialista vigente neste país, na impossibilidade de todos sermos ricos ou de pelo menos uma parte significativa de nós o sermos, decide-se um saque fiscal e um brutal estrangulamento das empresas de modo a que todos fiquemos iguais na pobreza.
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De Anónimo a 29.09.2022 às 12:22

Também li e não gostei. Para além do que o Henrique refere, esquece o JMT os grandes escândalos das universidades portugueses: a endogamia familiar ( é conferir os apelidos), a endogamia académica (as provas são feitas nas instituições de origem e não,  como deveriam obrigatoriamente ser, em instituições difetentes) e a falta de controlo dos regimes de exclusividade, que levam à existência, entre outras aberrações, de escritores duplamente "fantasmas", como aquele que se tornou tristemente  conhecido - tristemente para nós porque a ele nada aconteceu).
Para além da aberração de a nota ser determinante no acesso a Medicina, curso emcque as qualidafes humanas e empáticas são essenciais. Na Católica fazem entrevista motivacional o que deveria ser obrigatório em todos os cursos.
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De Miguel a 30.09.2022 às 09:47

A maioria dos cronistas esquece-se que nas universidades públicas também há contingentes especiais e nestes a diferença entre as notas de acesso é bem maior do que no caso concreto do curso de medicina da Universidade Católica 
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De balio a 30.09.2022 às 09:53


Eu tenho para mim que estas discussões sobre o acesso às universidades omitem um facto essencial: é mais difícil sair de uma universidade (com o curso concluído em tempo útil) do que entrar nela.
Muitas pessoas fazem um esforço enorme para entrarem na universidade, somente para descobrirem mais tarde que não conseguem sair dela.
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De Anónimo a 30.09.2022 às 11:42

Só não concordo com essa generalização de que os alunos provenientes de meios económicos menos favorecidos estão destinados a não ter o mesmo sucesso que os outros. Isso tornou-se um estereótipo e há imensos exemplos que o contrariam. Em minha casa diz-se: "A Inteligência não conhece berço" e é uma grande verdade. (Não vou fazer uma lista exaustiva, cito apenas alguns exemplos que toda a gente conhece: Salazar, Marcelo Caetano, António José Saraiva, José Hermano Saraiva, Cavaco Silva, Belmiro de Azevedo, o fundador do grupo Amorim, etc.etc.) e além destes, toda a gente sabe de outros casos de pessoas que singraram e que foram longe, com carreiras de sucesso,  quer entre os colegas de escola, do bairro ou de pequenas localidades ou entre os seus conhecidos (eu tenho) imensa gente com percursos brilhantes, embora permaneçam no anonimato.
E tanto assim é, comprova-o este "caso" deste estudante proveniente de um meio social privilegiado, presumo, e que nem por isso conseguiu atingir altas classificações, consistindo o seu "mérito" em ser "descendente em linha recta de um benemérito insigne da Universidade" E  se conseguiu entrar  para o Curso de Medicina deveu-se, exclusivamente,  a "tal" estatuto (como em tempos recuadíssimos, entre a «nobreza de sangue»os cargos e ofícios públicos passavam de geração em geração, por hereditariedade...) e não pelo seu próprio mérito. 


Que "sinais"  foram dados a este menino e que ele certamente "absorveu"? Foram: "Boas fadas me fadam!"
Vaticino, pois,  para este menino (que passa à frente da fila), um alto destino! 

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De henrique pereira dos santos a 30.09.2022 às 13:32

Quando alguém só não concorda com uma coisa que não está no texto, é óptimo.
Claro que é sempre bom saber que essa gente toda que cita entrou na Universidade com base no actual sistema de acesso.
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De Anónimo a 01.10.2022 às 11:40

A qual sistema de acesso se refere? Ao da Católica não é certamente, e ao do sistema Público actual também não, uma vez que a seriação ou ordenação por classificação só se tornou necessária desde a democratização do ensino e a sua consequente expansão. Houve, portanto,  que estabelecer determinadas critérios de acesso (os que estão em vigor) para conter a entrada em massa às Universidades. A regra baseia-se na nota final à saída do Secundário. 
No tempo dos supracitados indivíduos, a entrada não dependia da classificação, embora houvesse o crivo do exame de Aptidão (lembra-se?) de resto, baseava-se no mérito e nas capacidades do aluno. Nem todos tinham essa pretensão, dada a maior exigência do ensino universitário de então, como bem sabe. Muitos entravam, sim, mas de lá não saíam...
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De Anónimo a 06.10.2022 às 09:50


"...uma coisa que não está no texto" 



---- Se me permite, vou contrariá-lo (lamento) mas o Sr. escreveu isto:
"o factor que, em Portugal, está mais correlacionado com as notas dos alunos, é a condição sócio-económica das famílias, esse sim, o verdadeiro escândalo do nosso sistema de ensino"

---- e mais isto:
"a principal injustiça está na forma como o nosso sistema de ensino e de acesso ao ensino superior penaliza quem vem de famílias com menos recursos"

---- e no seu ultimo comentário (no final desta pág., pelas 11h:20):
 "quando o critério social que melhor explica essas notas elevadas é a condição sócio-económica da família."  
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De henrique pereira dos santos a 06.10.2022 às 11:21

Sim, só que nada disso é o mesmo que dizer que "os alunos provenientes de meios económicos menos favorecidos estão destinados a não ter o mesmo sucesso que os outros.".
O que disse e mantenho, até porque há dados esmagadores sobre isso, é que a probabilidade de ter uma média de entrada em medicina vindo de um meio sócio-económico alto, é muito maior que vindo de uma família pobre e sem frequência do ensino superior.
Isso não impede que haja gente capaz de ultrapassar esses constrangimentos, como é evidente.
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De lucklucky a 30.09.2022 às 14:14

Discordo totalmente do texto.

Primeiro a Catóilica está a  dizer a todos os alunos que lá vão que vai beneficar quem é filho de funcionário. Logo á partida mostra um dos valores porque se rege entre todos os alunos. E não é o mérito.


O resto do texto parece ofuscação para não falar desta regra da Católica.
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De henrique pereira dos santos a 30.09.2022 às 18:54

Se bem percebo a sua ideia, o facto da Católica ter duas regras que permitem a entrada de pessoas filhas de funcionários ou descendentes directos de beneficiários relevantes num contingente que não pode ter mais de 3% que o contingente geral, na condição de que que cumpram os restantes requisitos de entrada na católica (como uma média de 15, pelo menos) é o que define os valores pelos quais se rege.
Então explique-me que valores são esses que ficam definidos por essas duas regras aplicáveis a essas pessoas, pode ser?
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De Antonio Maria Lamas a 30.09.2022 às 19:51

Subscrevo totalmente o texto. JMT não tem qualquer razão e não é sério dizer que o aluno admitido tirou lugar a outro, quando ele no próprio texto menciona que é uma vaga supranumeraria.
Nunca o vi escrever contra as vagas para "desportistas". Ele que investigue e veja o tipo de desportistas que têm entrado para medicina. 
Alguns são desportistas federados em modalidades risíveis que usam e abusam da vantagem com a agravante que grande maioria não acaba o curso. Ou porque na têm capacidades ou porque preferem o desporto. 
Aqui sim há desperdício de meios públicos. 


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De jo a 30.09.2022 às 23:23

Mas são aceites por serem desportistas, não por serem filhos ou netos de desportistas.
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De henrique pereira dos santos a 01.10.2022 às 09:39

E em que é que serem desportistas beneficia mais a Universidade que fazer contribuições relevantes para essa universidade?
É que se não beneficia mais a Universidade não consigo entender em que medida permitir inscrições supranumerárias por essa razão é mais útil à universidade que permitir inscrições supranumerárias de pessoas que são descendentes directos de beneméritos relevantes, desde que cumpram critérios mínimos de mérito.
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De Antonio Maria Lamas a 01.10.2022 às 11:17

Claro como água.
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De jo a 01.10.2022 às 20:07

Quem fez a contribuição relevante foi o pai ou o avô do aluno não foi o aluno. 
O aluno foi para a vaga comprada pelo parente. 
Não é o mesmo que atribuir uma vaga a alguém pelos méritos dessa pessoa. 
Fala-se acima de se fazerem entrevistas aos alunos. O que perguntavam a este?
Quem são os teus pais? E os teus avós?
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De henrique pereira dos santos a 01.10.2022 às 20:45

Exacto, são os descendentes directos, desde que tenham demonstrado critérios mínimos de ingresso (como média de 15, e coisas que tais) que podem aceder a um contingente especial que, no máximo, pode ser 3% do contingente geral.
Se se quer obter contribuições, que beneficiam toda a gente, é normalmente avisado associar um conjunto de benefícios a esses doadores.
E é também avisado que se estabelecem critérios mínimos de mérito do candidato (a nota mínima) e que não se incluam esses potenciais beneficiários no contingente geral, para não prejudicarem terceiros.
Portanto, ainda nãoi percebi qual é o seu problema com o facto de ser o descendente directo de um beneficiáro relevante poder dar origem a um benefício que não é obtido à custa de ninguém e que resulta de uma contribuição que beneficia toda a gente.
Não consigo perceber qual é o problema.
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De jo a 02.10.2022 às 20:13

Das duas uma, ou a Católica aceita alunos para além do número razoável e estes alunos fazem parte desse número, ou o critério de supranumerário é artificial. No limite a Católica, com os mesmos professores e instalações pode dizer que tem duas vagas e as restantes estão à venda porque são todos supranumerários. 
Se me disser que os alunos supranumerários são mantidos à parte e a sua educação não consome nenhum recurso alocado aos outros, essa conversa faz sentido. Caso contrário é conversa para boi dormir.
Seria talvez mais católico serem homenzinhos e dizerem, "temos vagas à venda, custam X e quem quiser e cumprir os requisitos pode-se candidatar".
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De henrique pereira dos santos a 03.10.2022 às 06:58

Está mesmo difícil perceber o mecanismo, mas eu tento explicar-lhe mais uma vez.
Não existem vagas à venda por um determinado preço.
O que existe é uma figura de benemérito relevante da universidade.
Essa categoria é atribuída por um orgão colegial da Universidade Católica e, naturalmente, como acontece em todos os mecanismos desse tipo, confere ao beneficiário algumas regalias (o Estado faz exactamente o mesmo com o mecenato, ao atribuir vantagens fiscais para motivar doações mecenáticas).
Uma dessas regalias é o facto dos seus descendentes directos poderem integrar o contigente supranumerário de entradas na universidade, desde que cumpram os requisitos mínimos de entrada (por exemplo, média de 15 valores).
Ou seja, não há nenhum mecanismo directo de compra de vagas, porque o estatuto de benemérito relevante não é automático, demora tempo e não confere um benefício incondicional a terceiros.
A sua ideia de que a Católica pode estabelecer um número de vagas que entender para cada curso é uma ideia errada, não é assim, o estabelecimento do número de vagas é administrativo e não tem relação directa com a capacidade de receber alunos.
O aluno em causa vai, com certeza, consumir recursos, mas como vai pagar as propinas, está nas mesmas circunstâncias dos outros, excepto no mecanismo de entrada, em que tem uma possibilidade que não está aberta a outros, mas que, se não a usar, não vai beneficiar ninguém porque ninguém pode usar as vagas supranumerárias fora das condições definidas.
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De jo a 03.10.2022 às 10:59

As vagas supranumerárias exitem, custam recursos, existe alguma razão porque são limitadas.
Compreendo a noção de benemérito, mas não a transmissibilidade para os filhos das regalias a que um benemérito tem direito. Se a vaga é para o benemérito, a discussão é outra, nomeadamente saber se o benefício justifica a benesse, se é para outra pessoa, é uma compra de vaga pelo pai ou avô.
Pensava que se defendia a primazia aos melhores, mas afinal a Católica defende a primazia aos descendentes dos melhores, mesmo se não conseguem fazer o que os outros fazem.
Somos todos irtmãos em Cristo... só que alguns são filhos e outros enteados,
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De henrique pereira dos santos a 03.10.2022 às 11:20

Seria um bocado estúpido partir do princípio que permitir a entrada num contingente especial da universidade aos beneméritos seria entendido pelos beneméritos como uma vantagem, não é?
E é igualmente estúpido pretender que uma regra que se aplica a 3% das vagas do contingente geral, sob condição de critérios de mérito mínimos, é que define se se dá primazia aos melhores ou não.
Para além de ser igualmente estúpido pretender que os que têm melhores notas são os melhores, quando o critério social que melhor explica essas notas elevadas é a condição sócio-económica da família.

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