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A simplificação populista

por henrique pereira dos santos, em 15.04.25

Já houve tempo em que perdia algum tempo a avaliar as propostas políticas do PAN.

Agora ligo pouco ao que PAN diz, até porque a tomada de poder dentro do partido pela picareta falante que o dirige diminuiu muito o interesse do partido enquanto representante de uma sensibilidade social ligada à agenda animalista.

Mas um dia destes lá veio a senhora com argumentos primários em relação à caça e como isso se relacionava com este post que fiz recentemente, estava aqui a hesitar se escrevia ou não um post sobre caça (em especial, a partir do comentário do Gonçalo Elias, que é bastante interessante, como é seu hábito).

Por coincidência, o Observador publica hoje uma peça sobre o novo livro do meu sobrinho Carlos (um dos últimos livros que li foi o livro anterior dele sobre Camões, que aconselho, mas esqueçam o título, o livro não é sobre a vida e a obra de Camões, é sobre o mundo em que Camões viveu e escreveu) e foi lá que encontrei  o que me permite contrapor a simplicidade populista de Inês Sousa Real a imensa complexidade da natureza humana.

O livro é sobre futebol, em teoria, ainda não o li mas suspeito que essa será uma caracterização simples que a citação que faço permite admitir que será excessivamente curta, o que aumenta as minhas probabilidades de o comprar e ler.

"Matar animais pode ser cruel, mas talvez a caça, a transformação dessa morte num prazer, nos civilize. Não precisamos de matar assim, de espingarda em punho, à espera de uma perdiz. O matadouro é mais eficaz, mas a caça foge da necessidade, civiliza-nos, no sentido em que civilização é tudo aquilo que o homem inventa para escapar à prisão da natureza.

É claro que esta ideia choca com um certo pudor mais do que legítimo; não devíamos gostar da morte, é bárbaro retirar prazer da luta com uma fera, como na tourada, ou da morte, num teatro de prisioneiros, como entre gladiadores. O uso do mal como desporto é chocante, banaliza-o. Ainda assim, é dos males mais óbvios que surgem, ao longo da história, os desportos mais populares, como se a genealogia do homem mostrasse que há mais do que isso: que há uma necessidade congénita de nos aliviarmos deste mal, de não suportarmos toda a carga negativa associada a um crime que estamos obrigados a cometer, e que o jogo, o desporto, cumprem esse papel. As caçadas, os torneios que simulam a guerra, até o xadrez, os grandes divertimentos nascem como um alívio das tarefas mais aviltantes".

Não pretendo discutir aqui cada palavra, cada linha do que está escrito, só me interessa sublinhar a distância que vai da discussão complexa sobre actividades milenares em que nos ocupamos e em que gastamos os nossos recursos, com os comentários primários de Inês Sousa Real sobre caça ou touradas, que não conseguem passar da sinalização de virtude que se pretende transformar em lei para perseguir quem pensar e agir de forma diferente.

Por mim, que nunca fui caçador nem aficionado de touradas, prefiro tentar perceber o que não percebo a tentar impor aos outros as minhas certezas.


5 comentários

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De Albino Manuel a 15.04.2025 às 14:36

Caça e touradas não são bem a mesma coisa.
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De henrique pereira dos santos a 15.04.2025 às 15:59

Tem toda a razão: na caça o homem persegue, na tourada é perseguido
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De Anónimo a 15.04.2025 às 15:34

Impedir sinalização de virtude de se transformar em lei.


É a grande guerra cultural 
Seja na tourada, ivg, casamento gay, lei dos solos , disciplina de cidadania ou impedir símbolos religiosos nas escolas.
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De Anónimo a 15.04.2025 às 15:55

Sugestão : " Sobre a Caça e os Touros" , de  Ortega y Gasset. 


Juromenha


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De Anónimo a 15.04.2025 às 16:53

. . . .  prefiro tentar perceber o que não percebo a tentar impor aos outros as minhas certezas.


Boa tarde Henrique Pereira dos Santos
Tal como tem sido a minha postura de vida, e por isso, continuo a ler e escutar o que tem escrito e dito.
Boa Páscoa, saúde.
António Rodrigues Cabral



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