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É difícil vislumbrar um futuro para Portugal, sem um pacto de regime entre os dois maiores partidos, o PS e o PSD. Teremos, no futuro próximo, a necessidade de concessões importantes à esquerda radical, ( quando o PS governar) e ao radicalismo de direita ( se o PSD governar). È normal fazer concessões a quem nos apoia? Sim. O problema é se as concessões representarem um custo importante para a sociedade.
É impossível aspirar que esse pacto de regime seja ambicioso. Não tanto porque não haja essa possibilidade, mas porque existem linhas vermelhas que nenhum destes partidos ousa ou considera útil ultrapassar. Liberalizar o mercado de trabalho, enfrentar os funcionários públicos ou os pequenos interesses de tantas corporações, alterar o espírito de um regime paternalista, entre outros, está muito fora das cogitações eleitorais do centro.
Mas será difícil imaginar, pelo menos para quem esteja atento, que mais do mesmo, não venha a resultar num desastre total. Uma radicalização crescente da sociedade, crispação social, a asfixia fiscal da população, a eternização de crescimentos anémicos, um aumento da emigração que nos privará dos (poucos) jovens que temos, dos nossos filhos e netos. Nada fazendo, é isso que vamos ter de forma muito nítida, num futuro muito próximo.
Por mim, abdicaria facilmente do que realmente gostaria, para evitar ter, o que não quero. Exactamente o que temos e o que vem aí.
O PS, o partido hegemónico em Portugal é a peça essencial numa, mesmo pequena, transformação. Depois de fazer cair o acordo de regime de que os partidos radicais não eram parceiros de governação, num pais ainda de esquerda, o PS é uma referencia incontornável.
Partindo do pressuposto que a maioria dos seus votantes são relativamente moderados, não parece impossível proteger os Portugueses do pior. Apesar de não compreender a insistência de António Costa em estigmatizar todos os partidos que não sejam de “esquerda”. Até porque, quando o descalabro for total, os moderados do PS, apesar da sua grande fidelidade, vão acabar por mudar de armas e bagagens para uma mudança. Qualquer que ela seja. Já aconteceu depois de Sócrates, vai acontecer no futuro. Quanto maior for o buraco cavado ( e já vai profundo) , mais difícil será o retorno á esquerda. Quanto mais tempo passar, mais ridículo se torna culpabilizar Passos Coelho, Cavaco Silva e o Estado Novo.
António Costa e o PS têm alternativas. Se não as seguem, são inequivocamente responsáveis pelo que acontece. Sem qualquer desculpa, antes com dolo.
Há um mínimo de objectivos comuns que poderiam ser vendidos a um grande eleitorado desejoso de comprar. Protegendo o o partido no poder, com argumentos para resistir a pressões das suas muletas eleitorais, por imposições de um acordo de regime amplo, a 10 ou 15 anos.
Será impossível limitar o crescimento da carga fiscal? Será pouco popular impor que a justiça seja mais célere e mais acessível? Será mal acolhido um plano de reformas sustentável, que não sobrecarregue demasiadamente as gerações futuras? Será que um pouco mais de liberdade e tolerância para os cidadãos faz perder votos? Será que aproximar as nossas praticas laborais, embora menos palatavel, a 15 anos, á média da OCDE, é lançar a maioria aos partidos radicais?
O legado de António Costa vai-se decidir no futuro próximo. A muitos anos de distancia, as qualidades de ilusionista não são valorizadas. Os dados frios e objectivos acabam por ter mais importância.
O resto do PS não terá uma palavra a dizer? Os votantes do partido socialista que votam, sem entusiasmo, resignados á "falta de alternativas", são coniventes com a situação.
Não sou, nem nunca fui do PSD. A crise profunda em que estamos a mergulhar, não é da sua responsabilidade, com excepção da sua inabilidade actual em apresentar alternativas claras, exequíveis e credíveis.
A responsabilidade do que acontece e vai acontecer é mesmo de António Costa, do PS e dos seus votantes. Só choro porque, não ter culpa, não impede o sofrimento dos inocentes.
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