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A realidade, senhores, a realidade

por henrique pereira dos santos, em 24.05.24

"Quando o Banco Central Europeu decidiu aumentar as taxas directoras, decidiu aumentá-las sabendo perfeitamente que o ciclo da inflação não era provocado pela procura, ou seja, não era provocado por haver um excesso de poder de compra das pessoas ou por o dinheiro ser barato, para simplificar, mas sim, porque as margens de lucro de alguns sectores estavam a crescer bastante, portanto a decisão do BCE foi uma decisão contra as pessoas e a favor de alguns ... mas há outra forma de controlar a inflação? (pergunta o moderador) ... existe, nomeadamente controlando margens de lucros e formas de formação de preços ... nós podíamos era chegar à conclusão, eventualmente, que o BCE não podia resolver o problema da inflação porque o problema não era resolvido do ponto de vista da ordem monetária. Talvez tivesse de ser de regras da economia. Muito bem. Agora subir as taxas de juro tem uma única consequência, que é baixar o poder de compra dos salários, das pensões de quem vive do seu trabalho, é uma escolha agressiva contra os povos".

Não me passou pela cabeça ouvir um debate entre Catarina Martins e Pedro Fidalgo Marques, mas ia no carro e ouvi um excerto destas afirmações de Catarina Martins e fui ouvir a parte em que Catarina Martins fala do BCE para perceber o contexto em que diz que subir as taxas de juro tem como única consequência baixar o poder de compra das pessoas, uma afirmação que me parecia estar ao nível da sua famosa afirmação de que não vale a pena fazer barragens porque a água se evapora.

Mesmo dando de barato que única consequência seja um excesso retórico no calor do debate (apesar dos bocados que fui ouvindo à procura desta parte me tenha dado a ideia de que o calor do debate era o que seria de esperar encontrar numa conversa entre duas Miss Mundo a falar da concórdia mundial), é extraordinária a ideia de Catarina Martins de que é a subida das taxas de juro, e não a inflação, que provoca perda de poder de compra.

Para quem vive do seu trabalho, a subida das taxas de juro tem efeitos indirectos, para quem tem empréstimos (ou empresta dinheiro) é que tem efeitos directos, já a inflação, seja qual for a sua origem, tem efeitos directos e regressivos sobre toda a gente, afectando mais os mais pobres que os mais ricos.

Nem vou discutir a solução de Catarina Martins para o problema (controlar os lucros e a formação de preços, para quem só tem um martelo, todos os problemas são pregos) porque o que verdadeiramente me interessa é o completo desfasamento da realidade concreta evidenciada por este discurso político, desfasamento esse que é completamente irrelevante para os jornalistas que avaliam debates políticos.

Um caso evidente é o de Tânger Correia, que não conheço de lado nenhum (conheço um filho de quem gosto bastante, mas não me dou com ele o suficiente para alguma vez ter falado sobre o pai), que não é, evidentemente, um tribuno, que é relativamente frágil na retórica, de quem me separa a substância de muitas das opções políticas que defende, e que é sistematicamente classificado como o pior dos debates, quando na realidade fala de coisas concretas que existem, são verificáveis e tem, sobre essas realidades, opiniões e propostas (de que discordo) que apresenta de forma educadíssima e cordata (os mesmos jornalistas que classificavam sempre pessimamente André Ventura pela sua truculência e falta de respeito pelos adversários nos debates em que entrou, classificam agora Tânger Correira da mesma forma, independentemente de estar nos antípodas do estilo Ventura).

A miss simpatia do Bloco é sempre referida como experiente e preparada, apesar de estar sempre a falar de um mundo de fantasia, Tânger Correia é sempre referido como um nabo, apesar de trazer para os debates realidades que, sem ele, estariam fora do debate.

A esmagadora maioria dos jornalistas, pelos vistos, prefere ouvir discorrer sobre um mundo que não existe, aquele em que taxas de juro afectam exclusivamente o poder de compra de quem vive do seu trabalho e a inflação se controla controlando lucros e preços, que ouvir Tânger Correia dizer que discutir o envio de tropas portuguesas para Ucrânia é uma discussão inútil porque as nossas forças armadas não conseguem, hoje, mandar mais que meia dúzia de gatos pingados para qualquer lado, de tal forma estão depauperadas.

É pena.



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