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A pobreza, a dívida e a imprensa

por henrique pereira dos santos, em 16.12.16

"Algumas comparações simples revelam a situação. Desde que o engenheiro Sócrates chegou ao poder, em Março de 2005, até o Lehman Brothers falir em Setembro de 2008, deflagrando a crise internacional, a nossa dívida directa do Estado aumentou em média 18 milhões de euros por dia, todos os dias, incluindo domingos e feriados. Da falência do Lehman Brothers à chegada da troika, em Abril de 2011, acelerou para 40 milhões por dia. Durante o período da troika, de Maio de 2011 a Junho de 2014, no auge da crise, subiu para 50 milhões por dia. A seguir, e até à chegada de António Costa, a dívida regressou ao ritmo de inicial, crescendo 19 milhões por dia. Desde que Costa tomou o poder até ao fim de Setembro, acelerou para 51 milhões por dia; em Outubro houve uma descida e essa média diária caiu, mas ainda para 42 milhões por dia, a segunda taxa mais elevada dos últimos dez anos." (João César das Neves).

Primeiro foram os indicadores de saúde a demonstrar o bom desempenho do Sistema Nacional de Saúde. Bom, não só porque os indicadores de saúde melhoraram, mas bom também porque os resultados foram obtidos com menos recursos.

Depois foram os indicadores da educação que demonstraram o bom desempenho no sector da Educação. Bom, não só porque os resultados foram bons, mas também porque foram obtidos com muito menos recursos.

Ontem foram os indicadores de pobreza a demonstrar uma melhoria em 2015.

Resumindo, o discurso apocalíptico sobre os resultados sociais do programa de ajustamento que a então oposição vendeu, com a colaboração activa de dezenas de jornalistas sensíveis, cheios de boas intenções e grande sensibilidade social, era simplesmente falso.

Não, não se trata de ter agora informação que então se desconhecia, todos estes resultados eram perfeitamente passíveis de ser antecipados e todas as pinturas negras do futuro (a espiral recessiva, o segundo resgate, a devastação social, a degradação dos serviços públicos, o ataque ao estado social, etc.) eram já nessa altura facilmente reconhecidas como pura propaganda, conversa de jacaré p'ra pato.

O parágrafo que cito no início deste post ilustra perfeitamente o que todos sabemos, mas alguns fingem que não sabem: ficamos mais pobres quando aumentamos a dívida, não é quando estamos a pagar dívidas que estamos a ficar mais pobres.

A estratégia de empobrecimento (uma expressão idiota, ninguém tem estratégias de empobrecimento como objectivo) é a que foi aplicada antes do programa de ajustamento e que agora está a ser retomada: aumentar a dívida para pagar consumos e investimentos de baixo retorno.

Que Jerónimo de Sousa ou Catarina Martins passem o tempo na mistificação, eu compreendo, se ficarem pela realidade não passam da meia dúzia de votos.

Mas que a generalidade da imprensa adopte a mistificação como base de trabalho, torturando os dados até que digam o que pretendem é que é não só uma tristeza, que condiciona a qualidade das políticas públicas, como um suicídio profissional que francamente não entendo.


4 comentários

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De Fernando S a 16.12.2016 às 10:46

"que a generalidade da imprensa adopte a mistificação como base de trabalho, torturando os dados até que digam o que pretendem é que é não só uma tristeza, que condiciona a qualidade das políticas públicas, como um suicídio profissional que francamente não entendo."

Concordo com tudo o mais que é dito no post mas não acho que seja "um suicidio profissional" dos jornalistas.
A imprensa e uma boa parte da programação televisiva, em particular a informativa, é feita a pensar numa clientela que é urbana, com estudos e rendimentos acima da média, onde se incluem as ditas "elites" nacionais.
Esta clientela é a base sociológica de muitos interêsses instalados : funcionalismo (incluindo professores), pessoal de empresas públicas, donos e quadros de empresas do sector não transacionável (comércio e serviços virados sobretudo para o mercado interno, fornecedores do Estado, actividades ditas "culturais" subsidiadas pelo Estado, etc), etc.
Ou seja, interesses que dependem em boa medida da despesa pública, directamente através do orçamento, indirectamente por via do consumo interno suscitado por esta despesa, tudo isto financiado por impostos e por endividamento.
Os proprios jornalistas são provenientes e fazem parte destas categorias, em particular das dites "elites urbanas".
Não é por isso de admirar que este sector de actividade e a maioria dos seus "profissionais" tenha estado em grande parte contra qualquer reforma do modelo economico dominante em Portugal e, lógicamente, contra a politica de ajustamento e austeridade levada a cabo pelo governo anterior e apadrinhem agora o tipo de politica que é praticada pelo governo actual e que consiste em não fazer quaisquer reformas estruturais e até em reverter muito do que, apesar de tudo, foi feito nos últimos anos.
Nalguns casos até podem ser interêsses mal compreendidos, mas que são interêsses instalados parece-me claro.
Aos interêsses junte-se a ideologia que os justifica e protege e que tem sido nas últimas décadas dominante na educação e na formação "cultural" das novas gerações e de grande parte da opinião pública (inclusivé de muitos daqueles cujos interêsses imediatos e bem compreendidos não têm nada a ver).             
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De Renato a 16.12.2016 às 12:44

De 2014 a 2015, houve uma redução do risco de pobreza de meio ponto percentual. Meio ponto percentual, sublinho. E mesmo assim, foi necessário o TC ordenar a reposição de alguns rendimentos, medida tão contestada pelo governo, como bem nos lembramos. Nada no quadro que apresentou foi de facto sentido como melhoria (suponho que por falta de sensibilidade da população…) E houve até um aumento, de 2014 para 2015, da população idosa em risco de pobreza. Como se sabe as pessoas votam com a carteira. Supor que a maioria das pessoas votaram na esquerda por causa dos jornais, enfim… Lembra-se o Henrique que o país estava melhor, mas as pessoas ainda não estavam, como disse alguém? Pois é precisamente isso.

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De Tiro ao Alvo a 16.12.2016 às 13:38

Tem razão, o actual governo do PS não consegue entender a verdade: as melhorias que se estavam a sentir nos últimos tempos do governo anterior. A entrevista do ministro do Trabalho, hoje divulgada pelo PÚBLICO é uma vergonha. O homem procura torcer os números e chega a conclusões absurdas, muito longe da realidade.
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De Jose Domingos a 16.12.2016 às 22:26


O jornalixo nacional, só faz o que lhe mandam, os sindicatos, os patrões, os comissários politicos da redações, é que eles também tem contas para pagar.
São meros moços de recados, a prestar contas aos censores do partido.
Servem qualquer amo, constroem uma realidade que depois tentam vender ao zé povinho, que a aceita se lhe der jeito.
Uma vergonha, coisa que objectivamente, não têm.

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