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É claro que cada um de nós tem o seu grupo de imbecis preferido, e eu então tenho tantos que nunca sei por onde começar. Mesmo limitando a coisa aos imbecis de estrada, a lista é muito grande e escolher o maior, o real rei dos imbecis, o verdadeiro presidente imbecil dos imbecis presidenciáveis, tem o que se lhe diga e não é tarefa fácil.
Muitos apontam logo o gajo que anda nas auto-estradas invariavelmente na faixa da esquerda ou na do meio. É uma boa escolha. Felizmente já estou suficientemente crescido para vencer o desejo inultrapassável de ultrapassar esse tipo de gente pela direita com um leve toque das minhas buzinas Bosch, o que poderia provocar um ligeiro acidente de proporções inimagináveis.
Mas o que é isso perante aquele clássico que vai a pisar ovos enquanto está verde o semáforo e só acelera quando ele alaranja e o passa já avermelhado, deixando-nos para trás e fazendo-nos desejar ser polícias para o perseguir e multar como gente grande? Ah pois é…, quem nunca quis ser polícia nesses momentos que atire a primeira pedra. Atirar pedras é também o que queremos fazer àquelas senhoras que atrapalham o trânsito por tentarem estacionar os seus jipes gordos às arrecuas num lugar minúsculo, enquanto descrevem à amiga pelo telefone o dia de compras.
Mas nada parecido com o que apetece fazer aos condutores dos autocarros que, mal param nas paragens, ligam logo o pisca de saída. Ou com os que deixam passar os colegas de profissão, mesmo sem prioridade. Uma saraivada de verdadeiros calhaus merece também aquele que nunca faz os piscas.
Na estrada, os imbecis são muitos e a escolha do maior é muito difícil. Tem também aquele que não sabe para onde há-de ir pelo que vai no meio das faixas, empatando tudo e todos, particularmente quando procura encontrar estacionamento. Equilibra com o que nos impede de entrar nas rotundas para de seguida passar por nós a passo de caracol, para quem um pelotão de fuzilamento sem pontaria é coisa pouca. E, agora a favor dos motoqueiros, aquele bandido que nas bichas aperta levemente para a esquerda ou para direita, impedindo a mota ligeira de passar. Esses, só mesmo a chicote de lâminas velhas, para lhes fazer passar de vez a inveja, e depois um nadinha da simpática prática Sioux de meter pauzinhos em brasa debaixo das unhas. Só até saltarem. Se reincidirem, então afixá-los ao chão em pleno Alentejo, em Agosto, ou no Saara, se possível, com as pálpebras cortadas, até cegarem e ficarem loucos. Não tenho a certeza se a ordem é esta. Provavelmente enlouquecem primeiro. Uma cortesia Apache.
Já verdadeiros tratos de polé, e depois mesmo o esquartejamento através de quatro possantes equídeos de raça lusitana, com depósito dos membros nos vários cantos do antigo Império, de Minho a Timor, sem esquecer as ilhas, merece o rei dos imbecis.
O rei dos imbecis pertence a uma classe nova, recente mas já muito desenvolvida e em crescendo. Para este monarca imbecil, a pena capital seria exageradamente misericordiosa, mesmo que pelo fogo lento. O linchamento, ainda que por uma matilha de lobos esfaimados de dentes afiados, um pequeno presente. O atropelamento por mamutes, um prémio. A guilhotina, o euromilhões.
O rei dos imbecis não merece menos do que assistir em vida, passe o pleonasmo, ao seu corpinho inteiro ser finamente laminado por uma faca de pão ferrugenta, frouxa e romba. O rei dos imbecis deveria ver os seus queridos olhinhos receberem bem abertos e com graça os ferrinhos em brasa de que se safou o Miguel Strogoff. Por duas ou mais vezes. Sentir o que é uma tenaz soltar-lhe a língua e as amígdalas do corpo. O rei dos imbecis deveria tomar colherzinhas de óleo de fígado de bacalhau devidamente misturado com lava do Vesúvio, pelo menos dois frascos, e depois também da mesma lava em gotinhas pelo nariz, nos olhos, e por fim supositórios sempre de lava efervescente.
Qualquer pessoa, ainda que excessivamente e razoavelmente compreensiva e paciente, não consegue descortinar outras medidas que premeiem devidamente o rei dos imbecis da estrada, aquele tipo que abandona o seu carro no posto de abastecimento e vai para dentro da estação de serviço mirar as capas das revistas, folhear jornais, sujar o quarto de banho, levantar dinheiro, tomar café e a nata do dia, sem qualquer respeito pelos outros.
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