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A Mário Soares, que em relação à área política que defendo era um adversário, devemos em muito o caminho da democracia, contra o caminho da servidão comunista. A Mário Soares devemos a admiração que merece qualquer político de talento, qualquer homem que respira, come, vive política, a quem a política corre no sangue e no cérebro, mesmo quando é contraditório, ou grosseiro, ou um pouco perdido.
A João Soares, antigo e bom colega de direito, «tipo porreiro», pessoa estimável, devo sentidos pêsames. Como a Eduardo Barroso, que não conheço, mas cuja atitude sempre humorada e cavalheiresca me encantava num defunto programa de futebol.
Dito isto:
O espectáculo a que assistimos hoje, em Lisboa e nas televisões, é obsceno. Hoje, em Lisboa e nas televisões, a oligarquia (que a si própria se intitula «Estado») declarou sonoramente a total indiferença a que vota os portugueses, as pessoas a que as televisões chamam «anónimos», ou «populares», ou «povo». Hoje temos aqui um teatro nosso em que se exige que participemos todos. Vocês, não. Trabalhem ou não trabalhem, andem pelas ruas ou não andem, fiquem em casa se sentirem as ruas tolhidas, adiem afazeres e compromissos que tenham, vão à merda com as vossas pequenas ocupações e os vossos incompreensíveis horários, estamo-nos cagando (assim mesmo), hoje as ruas são nossas, as ruas são sempre nossas.
Usaram para esta declaração o cadáver de Mário Soares, que foi enviado confrangedoramente, tontamente, a passear dentro de um caixão por Lisboa, para Norte e para Sul, agora para Oeste, agora para Norte outra vez, agora para Sul, agora para Sul e Sueste, agora para Leste, para Norte outra vez agora. Foi ao ralenti ou a passo de cavalo pelo meio de ruas vazias, que as televisões unanimemente declaravam pejadas de gente, de «populares», de «povo», de «anónimos», mesmo quando as imagens brutalmente as desmentiam. Hoje a oligarquia juntou-se para chorar umas lágrimas de crocodilo, dar uns abraços e aprazar negócios, e demonstrar a sua importância perante as serviçais câmaras. As «multidões» com que as televisões sonhavam, abstiveram-se. A abstenção cresce, cresce a apatia. Mas para isso, também, a oligarquia está-se cagando.
Menos mal que tenha estado ausente o primeiro-ministro António Costa. Aquilo que Soares combateu com risco da pele e da vida em defesa da democracia e do país, este acolheu e presenteou em nome da sobrevivência política.
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Olá.Obrigada pela partilha.Boa semanaMaria
Não deixa de ser irónico que uma organização de ho...
Muito obrigado Henrique.
Não me surpreendeu tanto como ao JT em virtude do ...
Realmente, fazia falta aqueles regimes da foice e...