Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Constantemente agredidos por medidas e opções ridículas, esquecemos muitas vezes as razões profundas da nossa mediocridade e insatisfações colectivas. Sem olharmos para os nossos vícios estruturais, não vamos mudar nada de importante. E por isso importa, de quando em vez, lembrarmos alguns dos nossos grandes erros.
Um dos grandes vícios em Portugal é a criação e manutenção de postos de trabalho que não criam qualquer riqueza. Apenas a distribuem. Basicamente significam trabalhos dobrados, para o mesmo serviço. Quem perde com isso? A sociedade, que vê pessoas desperdiçadas em trabalhos que nada acrescentam, em vez de produzirem algo com valor. Quando essa pratica é muito visível, a desculpa é tão fácil como errada: que não faz mal, porque de outra forma essas pessoas estariam desempregadas. E assim faz-se de conta que estão a fazer alguma coisa de útil. Como se o desemprego fosse uma inevitabilidade numa sociedade funcional.
No sector privado, a concorrência e pressão sobre os resultados, encarrega-se de ir eliminando o desperdício social do subemprego. Por exemplo, o movimento de consolidação que estamos a assistir na Banca ou no sector automóvel tem a ver com a eliminação de trabalhos dobrados. É o que acontece numa fusão, em que juntando duas estruturas, temos pessoas que passam a não ser necessárias para produzir exactamente o mesmo. Quem ganha? Os consumidores, ou seja todos, que vão comprar as mesmas coisas mais barato, e a sociedade que liberta recursos valiosos ( pessoas) que vão produzir outras coisas. Quem perde? Aqueles que foram despedidos até encontrar um novo meio de vida. Um custo necessário para o progresso geral. Numa economia de mercado, há uma socialização dos benefícios e uma concentração dos prejuízos, que normalmente são eliminados rapidamente.
Já no Estado e em todas as actividades administrativamente protegidas, essas correcções não acontecem. Porque não são necessárias: ninguém vai à falência. E por isso, desperdiçam-se recursos com grande prejuízo para a sociedade. Esqueçamos, por hoje, o Estado, o ogre do desperdício. Olhemos para o que se passa no mundo do sector não lucrativo.
Vejamos o que se passa nos vários direitos autorais na Música: compositores, interpretes e editores. Não entrando no ( muito questionável) mérito e na forma como o dinheiro recolhido chega aos interessados, que justificam a existência destes direitos.
Inicialmente, apenas os direitos de autor eram reconhecidos. E a sociedade de direitos de autor passou a ser responsável pela cobrança a quem, por lei, tinha que pagar essa taxa. Depois, também os direitos de edição e dos interpretes passou a ser reconhecido. Já que, na pratica, são exactamente as mesmas entidades que têm que pagar os três direitos que passaram a ser consagrados, faria sentido que apenas uma entidade cobrasse, para todos, os direitos. Ou seja, recebesse mais de cada entidade, o que não promoveria aumento de custos administrativos. Em vez de x, a cobrança seria de x+y. O que aconteceu? Criou-se uma nova entidade, que cobra os novos direitos. Quem perde? Os músicos que se queriam proteger ( que pagam mais custos de cobrança) e a sociedade, que duplicou uma estrutura não necessária. Quem ganha? Apenas aqueles que passaram a ter um trabalho com mais regalias ou menos trabalho do que se não existisse esta nova estrutura.
Um posto de trabalho está muito longe de ser um sinónimo de criação de riqueza para a sociedade. Muitos deles são apenas veículos de distribuição de riqueza e de empobrecimento da sociedade.
Em Portugal, justificamos o desperdício, admitindo que o desemprego seria inevitável se não houvesse tantos empregos não necessários. Erro puro, como se pode observar no que acontece em países mais ricos, como, entre outros, na Escandinávia. E esta é apenas uma das formas como produzimos desperdício. A forma como dificultamos o trabalho, outro drama em si mesmo, é mais graves que este tipo de fenómeno.
A nossa aproximação aos empregos dobrados, não é apenas errada. Menoriza quem tem empregos “por favor”, sem qualquer utilidade económica e social. E condena a sociedade a uma pobreza relativa, já que promove o desperdício do recurso mais precioso numa economia, o trabalho humano.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.