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O estado do Estado, em Portugal, é muito deprimente e sem qualquer esperança de que venha a melhorar, no curto prazo.
Uma Inspecção Geral de Finanças que aceita fazer uma auditoria à medida do que o Governo sobre a indemnização de Alexandra Reis em que não só não ouve a CEO da TAP, como depois se desculpa com a economia de meios, é inqualificável.
Uma ASAE que se dispõe a fazer fiscalizações à medida da operação de intoxicação da opinião pública desencadeada pelo governo sobre os preços dos bens alimentares, difundindo a ideia de que encontrou lucros brutos inaceitáveis no mercado retalhista, é inqualificável. Não só é inqualificável pôr-se ao serviço do governo - os serviços públicos servem as pessoas e a lei, não ser servem o governo - como é inqualificável aceitar que se difunda o equívoco voluntário de chamar lucros brutos a margens brutas de comercialização, para obter o efeito de comunicação desejado.
Uma segurança social, que aceita pôr-se ao serviço da campanha de contenção de danos do governo na gestão dos gravíssimos problemas decorrentes do governo não ter nenhuma política séria para a gestão dos aspectos sociais relacionados com a velhice, é inqualificável.
Um Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana que aceita não produzir informação séria sobre habitação que permita uma discussão sobre os efeitos potenciais das medidas sobre o sector que o governo pretende adoptar, é inqualificável.
Uma administração dos serviços de saúde que aceita calada a degradação dos serviços decorrentes das opções das 35 horas de trabalho e do fim das PPP (cara Graça Freitas, e que tal se a directora geral de saúde tivesse tido a coragem de falar sobre os efeitos destas medidas na saúde do país, em vez de discutir as intoxicações com bacalhau à braz?), é inqualificável.
E poderia continuar, direcção geral a direcção geral, incluindo naturalmente aquela em que trabalho e de cujo presidente sou amigo pessoal, a dar exemplos da profunda degradação dos serviços público em Portugal, que se transformaram em meros gabinetes governamentais, em vez de orgãos de administração com autonomia, assente em compromissos para com as pessoas e a lei, em vez de dependência estrita do governo de turno.
A degradação das instituições, e dentro destas, daquelas que estão mais profundamente no perímetro do Estado, será a principal herança futura daquele a quem muitos continuam a considerar o melhor político da sua geração e um génio político: António Costa.
A dimensão dessa degradação só é possível porque reflecte a degradação dos mecanismos de controlo e escrutínio em Portugal (em que país seria admissível que os ministros responsáveis por despedir a CEO da TAP em directo, pela televisão, viessem reconhecer, umas horas depois, que na verdade ainda vão tratar de a despedir, depois de cumprir os formalismos legais que não cumpriram antes e, mesmo assim, continuassem ministros?).
Já várias vezes tenho usado esta história que, para mim, nos define enquanto sociedade.
António Costa perdeu as eleições em 2015, mas formou governo aliando-se a outros partidos.
Nada haveria a dizer se, na campanha eleitoral, essa hipótese tivesse sido clara, discutida e escrutinada, e não apenas revelada depois das eleições.
Mas o relevante não é esta chico-espertice.
O relevante é que na última semana da campanha eleitoral, numa acção de campanha, Costa convida uma jornalista para ir com ele no carro, revela-lhe que é isso que fará depois das eleições, mas impõem à jornalista que não diga qual é a fonte dessa informação.
Dois dias antes das eleições, o mais influente semanário do país faz a sua manchete dizendo que essa vai ser a opção de António Costa se perder as eleições, mas mantém o anonimato da fonte (qualquer pessoa com dois dedos de testa percebe a diferença entre dizer que é António Costa que diz isso, ou deixar num limbo a origem da informação, que pode ser uma mera especulação do jornal).
O anonimato das fontes é um mecanismo que o jornalismo defende com unhas e dentes (e bem) para protecção das fontes que podem correr riscos revelando informação de interesse público (por exemplo, um mecanismo ilegal de tráfico de droga).
Não é, nem um jornalista digno desse nome deixaria que fosse, um mecanismo de tráfico de influências, como na história citada: a jornalista tem uma informação privilegiada que mais ninguém tem, que permite ao jornal fazer uma manchete bombástica, perfeitamente legítima se identificada a fonte, mas que é mera manipulação do jornal pela fonte, quando ela se mantém anónima.
Que toda a gente conheça esta história - há até um livro escrito por duas jornalistas que a contam ao pormenor, para explicar como Costa fez a geringonça em 54 dias - e que isso seja sistematicamente apresentado como uma demonstração da habilidade política de Costa e como uma actuação legítima por parte da jornalista e do jornal, é bem o retrato de uma sociedade em que os mecanismos de escrutínio do poder estão num estado de melancólica degradação tão fundo, mas tão fundo, que nem nos damos conta de como isso é deprimente e nos condena à mediocridade, por muitos anos.
Obrigado pelo esclarecimento que deu, mas a Paula não merece tanta atenção: pela afirmação que fez, vê-se que não tem mundo e que defende a função pública apenas por que sim. Discutir com esta gente não nos leva a lado nenhum.
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