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Luís Montenegro resolveu trocar as voltas ao jornalismo e à militância que manipula o jornalismo, procurando saltar por cima dos intermediários de comunicação e falar directamente para as pessoas (não há novidade nisto, todos os políticos com má imprensa procuram contornar o problema, uns, conhecendo tão bem o jornalismo que usam os truques todos que conhecem para ganhar espaço, como André Ventura, outros encontrando formas de saltar por cima da intermediação).
A história, como a vejo, descreve-se assim.
Numa operação policial que correu mal, a polícia mata uma pessoa.
Na sequência imediata, a extrema direita cavalga politicamente a necessidade de segurança e a extrema esquerda cavalga politicamente as injustiças sociais, à boleia da violência que se instala nalgumas periferias de Lisboa.
A imprensa, naturalmente, cavalga o potencial dramático da situação.
Para um primeiro-ministro com uma imprensa pouco favorável, não há maneira de, no momento, sair airosamente, da situação, o que quer que faça, será sempre por um lado abafado pela avalanche de notícias, por outro pela má imprensa e o barulho da coligação dos descontentes.
Montenegro, como tem feito noutras situações, deu um passo atrás, aguentou as críticas de não reacção, falta de empatia e essas coisas que, de qualquer maneira, iria sempre ouvir, e esperou.
Esperou um mês até ter nomes, pessoas, caras, histórias de vida das pessoas que tinham incendiado um homem que só não morreu por acaso.
Nesse momento, em que poderia contrapor à conversa dos injustiçados que justamente se revoltam contra os opressores a cara, idade e cadastro de dois criminosos anteriormente condenados por tráfico de droga, Montenegro faz um número que lhe permite prescindir dos intermediários e põe os jornalistas todos a transmitir, e ouvir, sem interrupções, a sua visão política do problema, respondendo à exigência de mão pesada à sua direita e à história da carochinha da justa indignação dos oprimidos, à sua esquerda.
Pessoalmente, acho que a execução do número não foi brilhante.
No entanto, ninguém me tira da cabeça que a mais que evidente irritação de jornalistas e comentadores com a comunicação de Montenegro não tem qualquer relação com a dignidade das instituições, ou a oposição à "caça às percepções" (Mariana Mortágua esquece-se que, pelo meio, o seu anterior parceiro de Governo tinha deixado escrito, de forma clara, que era preciso "combater as perceções fáceis com a realidade dos factos", sem que ela tivesse ficado enxofrada com isso, duvido até que tenha reparado), essa evidente irritação é apenas com o facto de Montenegro ter ignorado os mecanismos de controlo do discurso político que os jornalistas dominam.
Montenegro limitou-se, numa matéria muito difícil para ele, a prescindir dos jornalistas e dizer-lhes que consegue fazer chegar o que quer, a quem quer, sem ter de andar a passar a mão pelo pêlo dos jornalistas.
E os jornalistas políticos entendem essa capacidade como uma ameaça existencial.
Com razão.
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